Dom José Gislon
Administrador Apostólico da Diocese de Erexim
Estimados Diocesanos! Penso que a maioria de nós tem inúmeras oportunidades de nos encontrarmos com pessoas de todas as realidades sociais e com experiências de vida que quando partilhadas nos enriquecem humanamente e espiritualmente.
A nossa sociedade brasileira, mesmo sofrendo com tantas mazelas sociais que atingem uma grande porcentagem da sua população, também tem passado por mudanças econômico-sociais e de hábitos que favoreceram o prolongar da vida. Graças a isso, hoje podemos encontrar, numa mesma família, muitas vezes, quatro gerações partilhando o mesmo teto. A forma de cuidar desta realidade abre-nos um longo caminho a percorrer. Mas ela está presente e não pode ser deixada de lado ou ignorada pela sociedade em geral, nem pelas instituições ou pelos poderes públicos constituídos.
Numa sociedade em que o consumo e o descarte andam de mãos dadas, às vezes, cuidar de quem já percorreu a passos largos um longo caminho e agora anda a passos lentos, pode fazer sentir desconforto por ter que se ocupar de quem traz consigo uma longa história de vida, que nem sempre consegue comunicar pelos lapsos da memória. Ou ainda podemos cair na banalidade de pensar que quem já passou dos noventa está cansado de viver. Gostaria de lembrar uma frase de Dom Paulo Evaristo Arns, Cardeal Arcebispo emérito de São Paulo, que faleceu com noventa e cinco anos: “Ninguém envelhece quando acredita no amor e na vida”.
Esta vontade de viver foi manifestada também por uma pessoa que encontrei numa visita pastoral e me marcou profundamente. Certo dia, visitando uma comunidade do interior, depois do encontro e a celebração da Eucaristia com a comunidade local na capela, fui visitar uma senhora. Por sua idade avançada, não estava em condições de ir até a comunidade. Quando cheguei em sua casa, num lugar cercado por uma natureza esplêndida, encontrei-a sentada na varanda, tomando sol e sorvendo seu chimarrão. Diante daquela cena, saudei-a e afetuosamente lhe disse: “Vó nesse silêncio é possível viver até aos cem anos”. Ao que ela me respondeu, “mas isso é pouco, porque já estou com noventa e seis”. Saí daquela casa edificado pelo seu amor à vida, pela vontade de viver daquela senhora. Parabéns a todos os avós, bisavós e aos poucos tataravós.
Tende todos um bom domingo.