Dom Itacir Brassiani
Bispo de Santa Cruz do Sul (RS)

 

Não estranhe, pois eu não me perdi no calendário. No próximo sábado, cristãos se despedem do ano 2025 do nascimento de Jesus e, no domingo, iniciam um ano novo. O calendário dos cristãos não ordena a vida conforme o ritmo da natureza ou de acordo com as exigências da produção; ele se orienta à nossa meta última: a vida plena em Deus. 

De fato, temos muitos e diversos calendários: o ano agrícola, organizado em tempos de semeadura e colheita; o ano escolar, com períodos letivos e de férias; o ano financeiro, com seus tempos contábeis e tributários; o calendário esportivo, com seus certames; o calendário político, com suas alianças e eleições; os calendários indígena, chinês, judeu… 

O calendário litúrgico cristão está organizado em torno dos eventos fortes da graça de Deus em nossa vida, e está atravessado e fecundado pela esperança. Ele põe em evidência as celebrações que nos oferecem a possibilidade de participar espiritualmente da vida peregrina, compassiva e ressuscitada de Jesus Cristo, e nos antecipa a vida futura. 

Iniciamos a caminhada de preparação do natal do Filho de Deus e Filho da Humanidade aceitando a convocação que Deus nos faz através do profeta Isaías: “Vinde todos, e deixemo-nos guiar pela luz do Senhor. Vamos subir ao monte do Senhor para que ele nos mostre os seus caminhos”. Transformemos as espadas em arados e as lanças em foices! 

O Apóstolo Paulo nos adverte que já soou o tempo de despertar, de despojar-nos das vestes das trevas, de agir como filhos do Dia, de abandonar brigas e competições, de revestir-se de Cristo. É tempo de dizer adeus aos hábitos violentos, à indiferença que corrói, ao ódio que destrói. São roupas que não nos servem mais, como canta Elis Regina. 

Iluminados pela Palavra de Deus, vislumbremos o mundo sonhado por Deus. Basta de tronos ornados de balas e armas! Chega de operações de contenção! Basta de leis concebidas para blindar criminosos de colarinho branco e legalizar a depredação da Casa Comum. “Precisamos todos rejuvenescer”, mas o tempo urge, e não podemos nos distrair. 

Jesus apresenta-nos como exemplo a figura sábia de Noé: ele soube discernir o que era essencial e o que era distração, não se perdeu na gestão de questões transitórias. É hora de levantar a cabeça para ver longe, de ajustar o olhar e aquilatar o valor dos pequenos gestos e das grandes causas. Pois Deus pode estar vindo de novo nas manjedouras… 

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