Dom Genival Saraiva
No Brasil, a votação e a apuração de votos, graças aos recursos da eletrônica, processam-se com rapidez, de modo que, contabilizados, todos os números são divulgados online e, assim, conhecidos logo os nomes daquelas pessoas que estarão à frente das administrações federal, distrital e estadual.
O período eleitoral, num regime democrático, reserva lugar para construções divergentes no processo político. A defesa de cada projeto político ocupou a mente e o tempo dos interessados, com muita avidez, que, em alguns casos, usaram meios escusos, visando a obtenção de seus objetivos. A população se envolveu apaixonada, discreta ou indiferentemente, segundo a confiança ou o descrédito na ação política, fato que pode ser constatado pelo experiente cientista político ou pelo cidadão comum.
A leitura do resultado das eleições está sendo feita, diferentemente, pelos candidatos, partidos, partidários e pela própria população, de conformidade com a situação de êxito ou derrota. A ótica dos vitoriosos enxerga o presente e o futuro com expectativas positivas; além da marca da decepção, a perspectiva dos derrotados é sombria, ante o nível de suas aspirações. A população, por sua vez, posiciona-se, diferentemente, ante a expectativa de mudanças ou a sensação de que tudo continuará “como dantes no reino de Abrantes.”
No regime democrático e na forma republicana de participação, o resultado de uma eleição é a expressão da escolha da maioria e, como tal, deve ser acolhido e respeitado pela população. Naturalmente, boa parte da população não tem a devida formação democrática para aceitar, com tranquilidade, o resultado das eleições. Por sua vez, os futuros governantes devem ter a capacidade de governar, de forma republicana, enxergando os direitos da população e não somente os interesses dos segmentos que o elegeram. No regime republicano, a participação do povo é mais real e mais visível, haja vista o seu direito de votar e de escolher pessoas para ocuparem funções legislativas e executivas, no âmbito federal, estadual e municipal. Todavia, no sistema republicano, o povo não é apenas destinatário das ações dos seus governantes, porque tem o direito de participar, democraticamente, na formulação das políticas públicas que devem ter como foco o bem comum. Com efeito, embora tenham sido eleitos por uma maioria, os governantes devem imprimir à sua gestão um caráter republicano, onde não há lugar para perseguições, retaliações e discriminações.
O calendário cívico-patriótico brasileiro, no próximo dia 15 de Novembro, comemorará o Dia da Proclamação da República, corolário histórico das aspirações da Proclamação da Independência. É um momento oportuno para que os novos governantes possam avaliar se os propósitos e os programas de sua administração vão na linha das aspirações e das ações de todos aqueles que, no passado, colocaram seus ideais e suas vidas a serviço da conquista da Independência e da República. Estando dispostos a administrar de maneira republicana, deverão contemplar todos os segmentos da população, com as políticas públicas que assegurem condições de bem-estar, desenvolvimento e segurança. Essa, com certeza, foi uma plataforma assegurada no período eleitoral. Todavia, numa administração republicana, não há como não se priorizar as necessidades das camadas, numericamente, majoritárias da população brasileira que, há séculos, estão em desvantagem social, cultural, econômica e política. Não é isso, contudo, que a história registra.
Um quadriénio é um tempo extremamente útil para que sejam implementadas políticas em benefício do povo; pode tornar-se, porém, um tempo perdido, com graves consequências, na sua vida, em termos de retrocesso, estagnação e atraso, se prevalecer a política dos interesses de grupos e de classes.
