Dom Frei Severino Clasen
Arcebispo de Maringá (PR)
É comum ouvir expressões como esta: quando a ética está em baixa, a sociedade e as instituições vão mal. A sociedade é o ambiente que oferece segurança e liberdade, e quando são escassas as normas e a cultura da governança, mergulhamos em crises profundas. Saber administrar é a arte da superação e do controle dos destinos de uma nação. Interesses alheios ao bem comum e à ecologia prejudicam e travam o cuidado pelas entidades a serviço da coletividade, da nação.
Neste Mês da Bíblia, a Palavra de Deus nos chama à revisão de vida. Converter-se, acreditar no Evangelho, seguir com clareza a voz dos profetas, a vontade de Deus. Somos administradores e administrados por pessoas escolhidas para garantir a segurança e o bem comum. As Igrejas, instituições que estão dentro do mundo, têm o desafio de saber administrar seus fiéis para a boa conduta, regida pela ética, superando a desconfiança e interesses individuais.
O clamor dos pobres e indefesos aumenta na medida em que ignoramos a harmonia coletiva na sociedade. “Ouvi isto, vós que maltratais os humildes e causais a prostração dos pobres da terra; vós que andais dizendo: “Quando passará a lua nova, para vendermos bem a mercadoria? E o sábado, para darmos pronta saída ao trigo, para diminuir medidas, aumentar pesos, adulterar balanças, dominar os pobres com dinheiro e os humildes com um par de sandálias, e para pôr à venda o refugo do trigo?” (Am 8,4-6). O profeta denunciou a nação em tempos de escassez, de penúria, de crise moral dos líderes.
Jesus nos alerta sobre o administrador desonesto (Lc 16,1-13). Administrar as coisas do povo de Deus exige honestidade, sabedoria, sensibilidade humana, habilidade administrativa. Saber ouvir e interpretar as ações que equilibram o bem-estar é uma arte que qualifica a pessoa na sua função, sendo honesta e correta nas decisões. “Quem é fiel nas pequenas coisas também é fiel nas grandes, e quem é injusto nas pequenas também é injusto nas grandes” (Lc 16,10). Numa sociedade corrupta, a voz da justiça é ameaçadora. Voltar ao Senhor que nos chama para a boa conduta exige maturidade humana, senso de fidelidade e prudência.
Vivemos a cultura da mentira. Quanto mais se mente, mais se consegue projeção e ganhos políticos. Uma mentira tem mais repercussão do que uma verdade. Por isso, a voz do profeta se faz necessária em nossos dias. Sabemos que a onda está na dominância da ideologia, “sou desse lado ou daquele”. Não importa a verdade, mas o lado em que estou. Quem está polarizado não consegue perceber e nem admitir a intolerância, a truculência, a mentira, o desprezo pela dor alheia e pela injustiça.
O projeto de Deus é que todas as pessoas se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade. O que é a verdade? O livro sagrado nos aponta o caminho: “Antes de tudo, recomendo que se façam preces e orações, súplicas e ações de graças, por todos os homens; pelos que governam e por todos que ocupam altos cargos, a fim de que possamos levar uma vida tranquila e serena, com toda piedade e dignidade. Isto é bom e agradável a Deus, nosso Salvador; ele quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tm 2,1-4).
O Mês da Bíblia nos possibilita mergulhar na verdade que liberta e recuperar o senso da fidelidade e da justiça, para reconstruirmos uma sociedade digna de viver com intensidade de fé e esperança, rumo ao Reino definitivo.
Que sejamos bons administradores das coisas de Deus, como Peregrinos de Esperança, na busca da felicidade eterna.
