Dom Caetano Ferrari
Diocese de Bauru (SP)

Neste segundo domingo do Advento, acende-se na Igreja a vela de cor branca, simbolizando a paz. A primeira, no domingo passado, foi a de cor verde, símbolo da esperança. A Liturgia do Advento, preparando-nos para o Natal, nos anima a esperar o Senhor que vem nos trazer o dom da paz. Os anjos apareceram no céu estrelado dos arredores de Belém, dizendo com cânticos aos pastores: Anunciamos uma grande alegria, hoje nasceu para vós o Salvador, para os céus glória a Deus e para o mundo paz aos homens e mulheres de boa vontade. No ambiente penitencial da Liturgia do Advento, as vestes sagradas são de cor roxa com a ausência de flores e enfeites no altar e sem o canto festivo do glória na Missa. O convite do Advento é para vestirmos as vestes penitenciais da conversão de vida, do arrependimento pelos pecados, do empenho na oração mais intensa e devota, na prática do bem e no testemunho da fé, esperança e caridade. Quanto maior a festa melhor deve ser a sua preparação. Preparemo-nos para o santo Natal do Senhor com esperança e alegria, mas com mais oração, coração contrito, mãos cheias de boas obras e pés firmes na estrada da vida, testemunhando alegremente a nossa vida cristã, que abraçamos desde o nosso batismo, a confirmamos na Crisma e a alimentamos na Eucaristia.

            Na leitura bíblica da santa Missa de hoje, a Liturgia nos oferece o começo do Evangelho de São Marcos, o qual inicia falando de João Batista, o precursor e preparador da vinda do Senhor – Mc 1, 1-8. Marcos cita a profecia de Isaías que, segundo diz, cumpriu-se em João Batista, onde se lê: “Eis que eu envio o meu mensageiro diante de ti, a fim de preparar o teu caminho; voz do que clama no deserto: preparai o caminho do Senhor, tornai retas suas veredas”. Pois, João é quem proclamava que Jesus é o Messias prometido, conforme dizia: “Depois de mim, vem aquele que é mais forte do que eu, de quem não sou digno de, abaixando-me, desatar a correia das sandálias. Eu vos batizei com água, Ele, porém, vos batizará com o Espírito Santo”. A pregação de João Batista, ouvida no Evangelho de Marcos, é um forte apelo à conversão, dirigido a nós, a fim de nos prepararmos bem para a celebração do santo Natal, começando pelo arrependimento dos pecados e procurando o perdão que a Igreja nos oferece na confissão sacramental. Com esperança e alegria, preparemos ainda mais o caminho do Senhor, intensificando a oração e a caridade.

            Venho falando do momento brasileiro atual, com as suas imoralidades e mazelas bem conhecidas do público em geral, praticadas desde as altas autoridades da administração pública, passando por vários setores importantes da sociedade até atingir os seus estratos mais populares. De tal modo que reina entre nós a cultura do “sempre foi assim”, da corrupção que chegou com os descobridores do Brasil, instalou-se na colônia, firmou-se na monarquia e tomou conta da república. E ninguém tem a mínima vergonha na cara de ser corrupto. Mas, tenho destacado outra imoralidade, a que afeta a família, pois esta está na base da imoralidade política, econômica e social. O ataque contra a família vem na forma da crítica aos valores fundantes da vida humana pelos quais, sem precisar ir muito longe, nossos pais lutaram para nos criar, educar e encaminhar para a vida. Em resumo, estes valores sagrados de nossos pais compreendiam a família, a escola, o trabalho e a religião. A família, para eles, é a conforme Deus criou, portanto, como um projeto divino, não de acordo com o projeto humano, jurídico-legal, criado pelo nosso Supremo Tribunal Federal que decidiu igualar ao casamento toda e qualquer união entre pessoas. A escola é aquela para todos e gratuita, que ensina que todos são iguais perante a lei, que oferece o ensino religioso confessional como obrigação do Estado, constante do currículo escolar, e como opção livre da família que o escolherá segundo o seu credo, sem doutrinação político-partidária e muito menos sem formação ideológico-sexual, como a tal da famigerada “ideologia de gênero”. Nossos pais sempre consideraram o trabalho como força que assegura os meios de subsistência da família e a educação dos filhos. Sem que soubessem usar estas palavras, viam-no como um direito fundamental e uma vocação do ser humano para o serviço a que todas as pessoas são chamadas, desde a vontade do Criador, a ser prestado nos diversos âmbitos da vida social ao progresso, à cultura, à economia, à política, enfim, à construção do Reino de Deus. A religião, nossos pais a viam como coisa sagrada que toda família e pessoa têm, a qual deve ser respeitada, defendida e promovida pelo Estado. Bem sabiam eles que é sobre o fundamento da fé em Deus que se plasmam nos filhos o caráter de valor nobre, a vida ética e moral sólida, se formam o cidadão responsável e o cristão consciente e atuante, se constroem a casa assentada em terra firme, a família estabelecida no amor, a sociedade solidária e a Igreja santa, se organiza o estado de direito, se estruturam a democracia na política e a justiça na economia, se defendem os pobres com leis justas e políticas públicas que promovam especialmente para eles a saúde, a educação, o trabalho, a previdência, se alcançam o verdadeiro progresso e a paz duradoura. Se os que como eu não tivessem os pais falecidos, mas vivos, poderíamos imaginar como estes pais se sentiriam hoje diante deste mundo louco em que vivemos.

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