Jesus se afastou da multidão com Simão para ter maior liberdade e ensinar a todos (Cf. Lucas 5, 3). De fato, seja pelo assédio dos que o seguiam, seja para manifestar sua identidade e seu poder messiânico, precisava caracterizar o valor de sua missão. Quem assume a missão de ensinar em seu nome deve também estar disposto a manifestar o ensino isento, conotado com a palavra que não é própria do ser humano e sim de Deus. Anunciar o Evangelho não é ensinar doutrina puramente humana, mesmo aparentemente mais atraente e sugestiva. Assumir a missão por mandado de Cristo exige do evangelizador isenção pessoal, desprendimento, ética e autoridade moral.
Ato contínuo ao afastar-se da multidão, Jesus mandou Pedro ir mais além com a barca e lançar as redes para a pesca. O apóstolo já se cansara de tentar apanhar peixes a noite toda com os companheiros sem resultado. Seu afastamento da multidão para a missão especial o incumbia de ser forte na fé. O resultado viria com a força da palavra de Jesus. A pesca se tornou abundante. Mas era apenas sinal da missão mais importante, a de pescar pessoas para a vida de pleno sentido e realização.
Afastar-se com o Mestre leva a pessoa a estar a sós com Ele e usufruir do seu segredo evangelizador. Todos estamos no mundo cheio de propostas. A mídia vem para dentro de nossos ambientes e de nossas pessoas com as apresentações de diversificados valores ou contra-valores. Muitos não são capazes de isentar-se do burburinho do mundano. Aí existem, com frequência, aliciamentos, atrativos, misturas de verdades e inverdades, aparência de remédios contendo, embutidos, venenos de pequeneza moral. Apresentam-se prazeres e delícias fugazes que nem sempre coincidem com felicidade real e duradoura.
Quem deseja conquistar um ideal de vida de sentido precisa usar todo o seu potencial para colaborar com a implantação de uma convivência proveitosa em benefício de todos. O mergulho no cotidiano sem isenção não deixa a pessoa refletir o suficiente para perceber a missão divina no humano e anunciar, com o testemunho de vida, o serviço prestado e o ensino do bem. A vida vale com a marca dos pés caminhando na direção da honradez, da execução do projeto de Deus para cada um e na conquista da realização de si com a ajuda da cidadania para todos.
Paulo lembra a força do Evangelho que liberta e salva a pessoa que o assume (Cf. 1 Coríntios 15, 1-11). Aceitá-lo faz o ser humano ter a força de Deus para também anunciá-lo e contribuir com o bem da sociedade. Ao contrário do que os antigos judeus pensavam, ver a Deus na contemplação é ter vida, ser purificado do mal e ser enviado com a missão dada a cada um (Cf. Isaías 6, 1-8). Feliz de quem se afasta do próprio projeto egoísta para analisar e realizar o projeto de Deus na sua vida!
Quanto mais formos capazes de avaliar nossos limites mais a força de Deus no-los faz superar. Ele nos dá a missão de anunciar o seu Reino. Assim nos convencemos mais de que vale a pena lançar as redes da vocação para a realização de um projeto de vida superior aos pensados somente contando com nossas forças.
