Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro – RJ
“A vontade de mudar, de SER MELHOR não envolve apenas tomar uma decisão sobre algo que se “deve fazer” mediante pressões da sociedade, mas, sim, um conhecimento da natureza do que é mudar e de quem você é”.
Chegamos ao encerramento de mais um ano civil na nossa caminhada. É tempo de revisão de vida, de parar um pouco a correria do dia a dia e olhar o caminho percorrido. Revisar o que foi negativo, o que foi pecado, o que foi desunião, o que nos separou do seguimento de Jesus Cristo. E, mais do que isso, procurar modificar os caminhos tortuosos que muitas vezes vivemos e que não nos deixam livres para seguir Jesus Cristo, Caminho, Verdade e Vida.
Devemos, sobretudo, agradecer a Deus pelo bem que Ele nos proporcionou, como a nossa família, o nosso trabalho, a nossa comunidade eclesial e todos os passos firmes e certos que demos neste ano e que nos tornam mais solidários, irmãos e comprometidos com o Reino de Deus, e com a missão a que todos os batizados são convocados pela Igreja para anunciar o Senhor que se Encarnou em Maria para nos salvar por mandato do Pai, na ação do Espírito Santo.
O final do ano é tempo oportuno para sair apenas das “falsas promessas” de uma mudança superficial de vida e vivermos a vontade de Deus, que é uma conversão sincera, uma adesão a Cristo que, nascendo em Belém, deve nascer de maneira concreta em cada um de nossos corações. Devemos fazer um esforço para colocar em prática o sentimento de mudança que existe dentro de cada um de nós, infelizmente, muitas vezes somente nesta época do ano, de confraternização e de festas.
A euforia do final do ano deve nos encorajar a plantar uma profunda e limpa vontade de mudança de vida no novo ano que se inicia. Diante de nossos passos e atitudes em 2010 devemos nos perguntar: Aonde falhamos? Falhamos porque não reconhecemos a NATUREZA DO MUDAR, DO PROCESSO DE SER MELHOR mesmo que a cada dia um pouco.
Mas o que é nos conhecermos a nós mesmos? Você já parou para reparar qual a sua reação em certas situações, o que você faz se uma pessoa lhe pede informação na rua? E se você vê um animal doente largado? Qual a sua reação diante de uma mentira, e de uma crítica? Você aceita ser criticado? E em nossa vida comunitária: você, na sua paróquia, recebeu bem quem chega para rezar? Você está preocupado com as situações de risco em que vivem os seus irmãos que não têm onde morar ou o que comer? Você está preocupado em dar atenção às pessoas da terceira idade? Você tem tempo para as pessoas solitárias ou que estão precisando de uma palavra de carinho?
Nunca percebemos estas coisas, pois nos parecem muito triviais e, assim, nunca nos conhecemos. Mas, ao estar consciente disso, não deveríamos nos perguntar se, mesmo internamente, estamos reagindo de forma correta se mudássemos nossa reação diante de tais situações, o que mudaria? Seria melhor ou pior? Talvez valesse até realizar alguns “testes” e ver como nos saímos ao abandonar os preconceitos e experimentar SER MELHOR.
Após se olhar de um modo mais crítico e analítico, devemos voltar as nossas promessas de final de ano e verificar se aquilo que desejamos é realmente o que “desejamos” ou simplesmente fruto de uma pressão social, familiar, consumista. Será que o nosso desejo de mudar nos tornará feliz? Pode ser que subir de cargo na sua empresa seja muito bom porque seu salário e as suas responsabilidades/preocupações aumentarão significantemente, mas, e aquela sua antiga vontade de pintar quadros e viver disto? Claro que na balança das escolhas devemos pesar muitas coisas, mas vale a pena refletirmos e procurar realizar nossos desejos, buscando ser melhores e mais satisfeitos.
Portanto, o importante é pelo menos pararmos para refletir O QUE SOMOS e O QUE QUEREMOS para nós, e imaginar se as nossas promessas de final de ano falham pelo simples fato de não nos conhecermos o suficiente, ou melhor, de não pautarmos a nossa vida pela luz que brilhou do presépio e que nos chama, na pessoa de Jesus Cristo, nascido para nos salvar, a viver a fraternidade, a solidariedade, a partilha, a compaixão e a paz!
Neste final de ano queremos cantar o Te Deum laudamus! Damos-te graças, ó Pai, porque na plenitude dos tempos, enviaste o seu Filho (cf. Gl 4, 4), não para julgar o mundo, mas para salvá-lo com amor imenso (cf. Jo 3, 17). Damos-te graças, Senhor Jesus, nosso Redentor, porque quiseste assumir de Maria, Mãe sempre Virgem, a nossa natureza humana. Louvamos-te e agradecemos-te, Espírito Santo Paráclito, porque nos tornas conscientes da nossa adoção filial (cf. Rm 8, 16) e nos ensinas a dirigir-nos a Deus, chamando-lhe Pai, “Abba” (cf. Jo 4, 23-24; Gl 4, 6).
Caríssimos Irmãos e Irmãs da Comunidade diocesana de São Sebastião do Rio de Janeiro! É a vós que agora dirijo a minha cordial saudação neste nosso encontro de fim de ano. Em primeiro lugar, saúdo os Bispos Auxiliares, os Sacerdotes, as pessoas consagradas e todos os componentes do povo cristão. Saúdo com deferência o Governo do Estado do Rio de Janeiro, conclamando-o a defender a vida desde a concepção até o termo natural, o Senhor Presidente da Assembléia Legislativa, o Presidente do Tribunal de Justiça, o Prefeito da Cidade do Rio de Janeiro, as demais Autoridades do Estado e da Cidade, a quem pedimos redobrado empenho pela solidariedade e pela construção da paz em nossa cidade, o portal de entrada do Brasil.
Caríssimos Irmãos e Irmãs, damos sempre graças a Deus pelas manifestações de bondade e de misericórdia com que acompanharam, durante estes meses, o caminho da busca da santidade e da unidade na Igreja do Rio de Janeiro. Que Jesus, Maria e José nos matriculem na Sua escola da solidariedade, da partilha e do sim integral. Que a Sagrada Família nos inspire a realizar a vontade de Deus na execução de todos os projetos apostólicos e todas as iniciativas de bem.
Com Maria Santíssima queremos cantar: “Salvum fac populum tuum, Domine”, “Salva o teu povo, ó Senhor”.
Que a Virgem da Penha seja a nossa companheira em todos os dias do ano da graça de 2011 que se inicia. Mãe de Deus, intercede por nós!