Dom Itacir Brassiani
Bispo de Santa Cruz do Sul (RS)

 

Gostaria de iniciar esta coluna com aquele conhecido e jubiloso anúncio que ressoou outrora nas colinas que circundam Jerusalém: “Eu vos anuncio uma grande alegria, que será também a de todo o povo: hoje nasceu para vós o Salvador, que é o Cristo Senhor!” (Lucas 2,11). Faltam ainda sete dias para o Natal, mas esse não é o impedimento.  

Nos últimos dias, nosso empenho na tarefa de endireitar estradas e remover entulhos para que os brasileiros tenham mais do que uma ‘noite feliz’ e mais que prosperidade econômica no ano novo sofreu fortes turbulências. E não me refiro ao enésimo tornado provocado pela indigesta e cinicamente negada crise climática e ambiental. 

As turbulências não ocorreram no azul do céu, onde os anjos ensaiavam seu harmonioso e provocador hino. Tampouco na faixa de Gaza, aquele inaceitável campo de extermínio, nem no Mar do Caribe, onde a poderosa frota naval do Império do Norte, sedento de petróleo e destruidor de soberanias, ameaça as nações que ousam ser elas mesmas. 

Estas turbulências tiveram seu epicentro no ‘planalto central’, e foram geradas naqueles dois ninhos de serpentes separados por torres que lembram as barras de um cifrão. No escuro da noite e na mais descarada traição aos interesses daqueles a quem devem seus mandatos, deputados e senadores decidiram vilipendiar mais uma vez o povo brasileiro. 

A aprovação de leis que favorecem a devastação ambiental, que limitam o direito dos povos originários ao seu território, que diminuem as penas aos golpistas confessos e que alforriam e blindam criminosos disfarçados de parlamentares é um soco no estômago do povo, mais devastadora que o decreto de César Augusto e que a tresloucada medida baixada por Herodes. O povo brasileiro foi jogado nas sombras da morte (cf. Lucas 1,79). 

Ah, como eu gostaria de descrever aqui, com palavras e imagens vivas, aquela visão na qual o profeta Isaías antecipa o evento revolucionário do Natal… “Para os que habitavam nas sombras da morte, resplandeceu uma Luz. Eles se alegram como os agricultores na colheita, pois o fardo da sua carga e o bastão do capataz foram quebrados” (cf. 9,1-3). 

E, com imagens ainda mais eloquentes: “As botas de soldados que assustam com seu barulho e as fardas empapadas de sangue serão lenha para o fogo, pois nasceu para nós um Pequenino, um Filho nos foi dado, e o poder está sobre seus ombros…” (cf. Isaías 9,4-5). Isso será visualizado no Natal, e nos convoca a limpar o Congresso Nacional. 

 

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