Faz parte da vida humana estar, muitas vezes, sob a influência de fortes desejos. Tais estados de alma podem reforçar os grandes ideais, quando somam energias com os sonhos, que alimentam a nossa trajetória. Ter desejos é querer possuir; é predispor-se a gozar; é entregar-se a uma força que mal conseguimos manipular. Tem características de satisfação egoísta, embora persistam espaços para o altruísmo. Talvez a sã psicologia tenha descrições melhores a oferecer. O que aqui apresento reveste-se apenas de fenômenos observados pela razão, que chamamos de bom senso.  Logo abaixo quero reconhecer que existem, sim, desejos construtivos. Mas comecemos pelos desejos que nos travam, e nos introduzem na parca produção, diante dos grandes deveres, de que estamos revestidos. Há desejos  que nos puxam para baixo,  e nos colocam em posição de correr atrás dos falsos valores. Vejamos, por exemplo, o desejo sexual que pode nos atormentar, em busca de amores impossíveis, e contrários à ética cristã. Mas não é só a sexualidade que pode nos colocar em estado improdutivo. Também o desejo irrefreável do dinheiro, a “cobiça dos olhos”. O mesmo se diga, com mais ênfase, sobre o desejo de prestígio a todo custo, da fama (muitas vezes não merecida), da perseguição contra pessoas que atrapalham. Jesus advertiu: “onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração” (Mt 6, 21).

Os desejos amorosos de um casal, em santa união, podem ser poderosas alavancas, para a concretização de sua vida familiar. Tais sentimentos se tornam convergentes. Lembro-me aqui também dessas almas privilegiadas, que envidam todos os esforços, nas obras sociais. Ou mesmo, daqueles que querem ocupar posições de realce na sociedade, para fazer o bem, e melhorar as condições do povo. Mas de forma alguma posso esquecer aquelas almas mais sublimes, como São Paulo, que se aproximam de Deus, e não dividem seus desejos com falsos ídolos. Tais pessoas são os “puros de coração” cujos desejos estão fixados no essencial. Esse é o ajustamento que todos devemos procurar. Jesus previu isso: “Eu, uma vez levantado (na cruz), atrairei todos a mim” (Jo 12, 32).

Dom Aloísio Roque Oppermann

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