Dom Manoel Delson
Arcebispo da Paraíba
Na nova Exortação Apostólica do Papa Francisco, ele faz uso de uma expressão bastante curiosa para expor seu pensamento sobre a santidade comum entre os cristãos: “os santos ao pé da porta”. Quem é familiarizado com o que o Papa escreve já sabe que ele, constantemente, cunha expressões novas, e o faz para deixar a sua mensagem o mais simples e acessível possíveis. Transcrevo o que ele diz ao se referir sobre a santidade ao “pé da porta”: “Gosto de ver a santidade no povo paciente de Deus: nos pais que criam os seus filhos com tanto amor, nos homens e mulheres que trabalham a fim de trazer o pão para casa, nos doentes, nas consagradas idosas que continuam a sorrir. Nesta constância de continuar a caminhar dia após dia, vejo a santidade da Igreja militante. Esta é muitas vezes a santidade ‘ao pé da porta’ daqueles que vivem perto de nós e são um reflexo da presença de Deus, ou – por outras palavras – da ‘classe média da santidade’”.
Para o papa argentino, os sinais do dom da santidade que o Senhor presenteia à sua Igreja apresentam-se na ocasião do testemunho dos membros mais humildes do povo de Deus. E esse testemunho evidencia a beleza do rosto da Igreja no coração da humanidade; os santos que se colocam ao “pé da porta” são as testemunhas do Evangelho de Cristo nas mais variadas circunstâncias da vida, e são testemunhas na fé da Igreja, e nunca de maneira isolada ou sozinha. O chamado à santidade é sempre um convite de ser santo com um povo. Aprendemos desde o Antigo Testamento que Deus se revela a um povo: o de Israel. E com o desenrolar da história humana, Deus foi fazendo aliança com esse povo, tendo como auge o Seu Filho, Jesus Cristo, que, com sua vida entregue na cruz, fez definitivamente aliança com todos os homens. Eis aqui a beleza do rosto vivo da Igreja: ela é santa tendo filhos pecadores, e não saberia viver a santidade comum de um outro jeito.
A grande chamada de santidade que Deus faz ao seu povo é um jeito de tornarmos próximos dele, isto é, ser ramo ligado à videira, que é o próprio Cristo: “Eu sou a videira e vós os ramos. Aquele que permanece em mim, e eu nele, esse produz muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer” (Jo 15, 5). Buscar viver a “santidade ao pé da porta” é procurar ficar intimamente ligado ao Senhor no mundo, tornando este um espaço cada vez mais repleto de relações fraternas e que apontam para os valores do Evangelho e da vida.