Dom Francisco Carlos Bach
Bispo de Joinville (SC)
O que você, meu prezado leitor, pensa do padre? Meu presente artigo tem por objetivo ajudá-lo a conhecer melhor esse ministério estabelecido pelo Senhor na sua Igreja. O sacerdote é alguém escolhido entre os homens e constituído a favor dos homens como mediador nas coisas que dizem respeito a Deus. Tendo sido “escolhido entre os homens” não é um ser estranho, desenraizado ou caído do céu e forasteiro entre os homens, embora tenha uma vocação específica.
“Escolhido entre os homens” significa que o sacerdote é feito como todas as outras criaturas humanas, a saber, com desejos, afetos, lutas e hesitações de qualquer homem. Bem por isso, sabe compadecer-se de todos pelo simples fato de que ele mesmo “está cercado de fraqueza”. O sacerdote, quando administra o perdão em nome do Senhor no sacramento da penitência, sente-se necessitado de perdão como os outros; julgado, ele em primeiro lugar, pela Palavra do Evangelho que proclama. Sente-se mais ovelha que pastor.
A ordenação sacerdotal é o início de uma existência nova, definida como serviço, como dom para as pessoas. A vida do sacerdote, em certo sentido, não é mais sua. Também o médico está a serviço dos homens, também quem se casa se consagra a um serviço. O que é que caracteriza a existência sacerdotal ante essas outras formas de serviço? O fato de que o seu é um serviço nas coisas que dizem respeito a Deus. É um serviço que toca a dimensão mais profunda do homem, a sua relação com o absoluto, com o eterno, com Deus. O sacerdote administra as coisas de Deus em favor das pessoas, como instrumento e servidor do Evangelho.
A teologia nos diz que evangelizar, consagrar e reunir a comunidade são os âmbitos constitutivos do ministério sacerdotal. O que dá unidade a essas diferentes funções é a imitação ou o seguimento de Cristo que, por excelência, anunciou a Palavra de Deus, ofereceu o sacrifício de si mesmo ao Pai e, mediante o seu Espírito, reuniu a Igreja. Não se pode também ignorar o aspecto existencial que define a tarefa do sacerdote em meio a seus irmãos.
O que o sacerdote pede à sua comunidade? Pede para não ser lastimado pelas suas renúncias e pelo seu modo de viver tão diferente dos demais. Muitas vezes muitos veem no sacerdote apenas alguém que renunciou a constituir uma família, a possuir bens, a lançar raízes neste mundo. A própria humanidade do sacerdote não é diminuída pelas renúncias que faz, mas ampliada; ele sente poder ser um homem pleno e um homem livre como nenhum outro. Livre não do amor, mas no amor. O sacerdote não pede, pois, que se compadeçam dele, mas que se alegrem com ele, que agradeçam a Deus por ele, que rezem por ele e que o apoiem. Disso, sim, tem necessidade para não se sentir rejeitado e sozinho num mundo cada vez mais fechado aos valores espirituais. O sacerdote é verdadeiramente, num sentido todo particular, aquele que administra espírito e vida.
Agradeça ao Senhor Deus pelo sacerdote de sua comunidade e peça-lhe que nos envie numerosas e santas vocações à vida sacerdotal e religiosa.