Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte (MG)
Vale ouro aprender o caminho para a conquista de uma alegria duradoura e que dá alento permanente ao coração humano. Este caminho, indicado a partir da sabedoria mística da liturgia da Igreja Católica, inclui a dedicação a um tempo, com a preciosidade de dinâmicas experienciais: o Tempo Pascal. A celebração da vitória do Ressuscitado – Cristo Jesus, Mestre e Redentor – começa na Solenidade da Vigília Pascal, no Sábado Santo, contempla a alegria do Domingo de Páscoa e a solenidade vivida uma semana depois – o Domingo da Misericórdia. Ao todo, são cinquenta dias que oferecem ao ser humano, a partir de vivências ancoradas nas tradições das celebrações bíblicas, a oportunidade de se deixar encharcar pelo mistério maior do amor. Tempo emoldurado pela luz luzente da Palavra de Deus, indicando caminhos, clareando entendimentos e fortalecendo os passos no seguimento de Jesus.
As celebrações vividas no tempo da Páscoa não são simplesmente alusão a um evento histórico, com o objetivo de relembrar o passado. Trata-se de uma força que permite a gestação das alegrias pascais – e não há nada mais terrível ao ser humano do que distanciar-se dessa alegria. O coração humano não dá conta de permanecer envolto a uma nuvem de tristeza. A tristeza gera o medo, que tem força paralisante. Muitas vezes, na tentativa de se vencer essa paralisação, esse medo, são buscadas respostas inadequadas, sentimentos que estão na contramão da inteireza e da dignidade humana. Nesse sentido, pode-se dizer que as tristezas são capazes de aprisionar o coração humano na mesquinhez, com sérios comprometimentos no exercício da cidadania. Na tentativa de se evitar a tristeza, deposita-se, equivocadamente, exagerada confiança naquilo que se pode possuir, na ilusória convicção de que o acúmulo de bens e poder afugenta qualquer amargura. Eis uma das causas que explicam o sentido superficial de solidariedade que prevalece na civilização contemporânea.
A ilusão de que se pode vencer a tristeza acumulando bens e poder é responsável por uma generalizada indiferença na consideração dos sofrimentos dos outros, particularmente dos que necessitam de assistência emergencial. Além disso, quando se restringe o sentimento de alegria às garantias do próprio bem-estar compromete-se o exercício da cidadania, desconsiderando o bem comum. Passa-se a compreender que os serviços prestados, em diferentes âmbitos e níveis, servem apenas para assegurar mesquinhamente o próprio benefício. Ansiando fugir da tristeza, vive-se a superficialidade na busca por respostas prazerosas, efêmeras, todas sem força para atender a demanda do coração humano, carente de alegrias.
A mensuração dos estragos que a tristeza produz é uma tarefa existencial relevante para convencer o quanto é essencial encontrar o caminho de alegrias duradouras. Assim, compreende-se a importância do Tempo Pascal, capaz de corresponder à necessidade humana e existencial de se hospedar alegrias na própria interioridade. As alegrias pascais têm propriedades para levar felicidade ao ser humano, para além de sensações momentâneas e efêmeras. A celebração da Páscoa de Jesus produz sabedorias, lucidez na cidadania, conduz a respostas inteligentes, à conquista de expressiva qualidade humana e espiritual. A vivência do Tempo Pascal, celebrado até a Festa de Pentecostes, é exercício capaz de mudar interioridades a partir do entendimento sobre o que se passa na vida dos discípulos e discípulas do Cristo Ressuscitado: transforma covardes em corajosos, reveste aqueles que ainda não compreendiam com um horizonte de clarividências, curando os soberbos de sua mesquinhez intelectual, ajudando a comunidade a não ficar indiferente em relação aos necessitados.
A Palavra de Deus, anunciada neste Tempo Pascal, reveste, com força de atualização e incidência transformadora, a alma dos que a recebem. Gera impactos que fazem, por graça, brotar as alegrias pascais, como fonte borbulhante na interioridade. Alegrias que duram e orientam um novo modo de viver, semelhante à vida nova experimentada por Pedro, João, Tomé, Madalena, Paulo e tantos outros na história bimilenar da Igreja. Para encontrar essa alegria transformadora é preciso respeitar apenas uma inegociável exigência: partir sempre de Cristo, o Crucificado-Ressuscitado. Reconhecer que Jesus ressuscitou verdadeiramente, está vivo, vencedor da morte.
No exercício de sempre partir de Cristo incluem-se dinâmicas indispensáveis, como aquela que moveu o coração de Maria Madalena, impulsionado pelo desejo de procura, de madrugada, ainda no escuro: Ela volta ao túmulo, o acha vazio e é presenteada pelo encontro com o Ressuscitado. Com um mandato, Jesus a faz a primeira discípula a anunciar a grande alegria. Indispensável ainda é conhecer o testemunho de vida daqueles que dotaram seus corações de alegrias pascais duradouras. Comover-se com gestos e palavras relacionadas à paixão, à morte e à ressurreição do Senhor Jesus. Assim, convencer-se de que a força das alegrias pascais impulsiona a transformação do mundo. Por necessidade, a civilização contemporânea precisa buscar um novo tempo, uma vida nova. Vida vivida com o bálsamo das alegrias pascais.