Dom Leomar Antônio Brustolin 
Arcebispo de Santa Maria (RS) 

 

 

O ser humano é singular com uma dignidade sagrada. Cada um é diferente e tem suas características, capacidades e limites. Essa diversidade na forma de ser e agir é uma riqueza que precisa ser reconhecida.  Isso significa rever nossa cultura e nossa forma de ler a realidade sob a ótica do amor e não do julgamento, ou melhor, de pré-julgamento que comporta, na maioria das vezes, grandes preconceitos.  

Nasce, então, a necessidade de assumir a autenticidade e o valor das pessoas que têm alguma deficiência. O art. 1º da Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, aprovada pela Assembleia Geral da ONU, no ano de 2006, e o art. 2º da Lei Brasileira de Inclusão para a Pessoa com Deficiência  do ano de 2015, conceituam a pessoa com deficiência como “aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, a qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas”.  

São nossos irmãos em Cristo que têm uma diferença significativa em relação aos padrões generalizados pela sociedade. Nesse sentido, é preciso alargar nossa compreensão sobre a vida humana na Terra.  A humanidade encontra-se em sofrimento tentando alcançar ideais de aparência, valorização do status, do ter e da alta performance. Se ficarmos limitados a essas imposições cruéis, perderemos a capacidade de identificar e conhecer a real essência e valor de cada pessoa.  

Alguém pode ter uma limitação  para caminhar e ser ágil na empatia. Outro pode não falar,  e saber se comunicar com o olhar. Há quem não escute com os ouvidos, e sabe perscrutar os sentimentos mais ocultos do outro. Há quem possa ter deficiência intelectual ou atraso cognitivo, e se tornar um doador universal de atenção, carinho e amor.  Nesses e em outros casos, as pessoas com deficiência nos ensinam que todos têm potencialidades. Isolamento, discriminação e rejeição são deficiências maiores, pois nos desumanizam. A diversidade compõe a beleza, e a busca pela compreensão enriquece o ser humano. 

Penso, aqui, no quanto as mães e os pais de pessoas com deficiência poderiam nos ensinar a enxergar além das aparências e redescobrir as raízes de nosso ser. Elas compreendem que a vida é passageira e que grande é a ilusão de quem pauta sua existência apenas pelo ter, poder e aparecer. Tudo passa… 

Essas mães e esses pais, certamente, sofrem muito ao perceber o quanto a humanidade precisa caminhar para acolher o diferente, para superar a discriminação e para vencer a indiferença. Elas entendem que o termo deficiência pode ser alargado para aqueles que têm todas as condições aparentemente normais, mas têm coração duro, os ouvidos insensíveis à dor do outro, os olhos fechados para quem está ao seu lado e mãos que não se estendem para auxiliar o próximo. Como carecemos de espaços de reabilitação para quem sofre de desumanização!  

Seus filhos e filhas também são imagem do Criador, nasceram para se destacar. São um Evangelho vivo, um Evangelho aberto à família, à comunidade, ao mundo. São referenciais de coragem, resiliência e superação. Quem parece fraco, no fundo, é mais forte (2 Cor 12,10), porque não esconde a sua sensibilidade. 

Vivemos um tempo de políticas públicas e de inciativas que tendem a promover a inclusão das pessoas com deficiência. Além das estruturas de acessibilidade e adaptabilidade, é urgente uma educação para a inclusão que oportunize novas formas de interação, de modo que todos se sintam aceitos, compreendidos, respeitados e valorizados.  

Para todos os familiares que cuidam de alguém com deficiência, nossa comunhão, nossa prece e nossa amizade. Esperamos, com vocês, que nossa geração aprenda a ser mais empática e hospitaleira com todas as pessoas, sobretudo as que têm alguma deficiência.  

 

 

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