Há quem tenha medo de altura no sentido físico. Mas a altitude ou grandeza de ideal é um desejo de tal monta em cada ser humano a fazê-lo lutar para sua consecução. No entanto, apesar desse intento, muitos são impedidos, pela curvatura do egoísmo que os faz fixar o olhar na baixa terra do peso de sua pequenina visão do sentido da existência.

Jesus foi com seus apóstolos Pedro, Tiago e João à alta montanha. Ali aconteceu sua transfiguração fulgurante aos olhos dos discípulos (Cf. Mc 9, 2-10). Como o lugar elevado foi também o da apresentação da pessoa deslumbrante do Senhor, a grandeza do ideal por Ele proposto deveria conduzir os três à grande missão de apresentar à humanidade o sentido da vida que leva à plena realização do ser humano. Sem a grandeza do ideal apresentado pelo Mestre, não é possível a felicidade imorredoura da pessoa humana. Convencer a todos disso é próprio da vida de quem aceita a pessoa de Jesus e seus ensinamentos.

Seria muito bom, assim como a esses apóstolos, também a nós todos, a permanência na contemplação da vida de paz, na montanha sensível da isenção de problemas. Nossa realidade do dia-a-dia, no entanto, nos apresenta a falta de segurança, a violência e toda sorte de agressão, frutos do egoísmo humano. A grandeza do ideal de quem segue a Cristo leva-nos a arregaçar as mangas para o trabalho de conscientização e da prática da justiça e promoção da dignidade humana. Querer a paz é muito importante. Trabalhar por ela exige doação, promoção de políticas públicas adequadas à realização da justiça social e da segurança pública.

A Quaresma nos direciona à montanha do ideal factível de Jesus. Ele venceu todo tipo de agressão à vida. Superou a própria morte. Tem o segredo da consecução da vida de sentido e realização. Com Ele temos esperança de paz. Subir e descer a montanha dos altos e baixos da caminhada fazem parte de nossa existência. Porém, o grande ideal de vida é perseguido diuturnamente por quem é capaz de fazer a doação de si para implantar a paz baseada na justiça misericordiosa de Deus. A justiça humana muitas vezes tem se mostrado injusta. Não oferece a cada um o necessário para ser respeitado e viver dignamente. A justiça misericordiosa não é de punição e sim de educação e promoção do bem à pessoa humana. Envolve perdão, oportunidade de regeneração, superação das causas dos erros… A justiça conotada como punição através de castigo pode até levar à tortura e à penalização de infratores com idade imatura e sem condição de aprendizagem do bem ou de superação de recalques e agressões. A justiça misericordiosa de Jesus leva até ao perdão aos inimigos. Ele recrimina a justiça dos fariseus e propõe o amor como lenitivo moral para a superação das injustiças humanas.

Na direção da Páscoa aproveitamos a caminhada de conversão para mudarmos os critérios de convivência, praticando a fraternidade a ponto de sairmos de nosso egoísmo e pensarmos na nova ordem social de amor e paz. A virtude da fé nos leva a intensificar a oração, a escuta e a prática da Palavra de Deus para melhor seguirmos os passos daquele que venceu a morte.

Dom José Alberto Moura

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