Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)

 

Celebramos nesse domingo o sétimo do Tempo Comum, onde somos convidados a viver o perdão, fruto do amor, segundo o mandamento de Deus e sob a ótica de Jesus. Como cristãos, somos convidados a oferecer a outra face, ou seja, não pagar com a mesma moeda, o mal que fizeram a nós. Por mais difícil que seja, temos que perdoar o mal que fizeram a nós e colocar em prática na nossa vida aquilo que rezamos no Pai Nosso: “Perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”.

Participemos da missa desse domingo tendo a certeza de que Deus sempre está pronto a nos perdoar e da mesma forma que Ele nos perdoa, somos chamados a perdoar-nos uns aos outros. Vivamos sob a ótica do amor e poderemos transformar a sociedade. Acolhamos os ensinamentos de Deus e façamos que em nossa vida possa habitar a misericórdia de Deus.

Dentro de, aproximadamente, duas semanas, iniciaremos o tempo da Quaresma, período propício para colocarmos em prática o mandamento do amor e, através da conversão, penitência, oração, jejum e esmola nos prepararmos para a Páscoa. Vivenciemos bem esse período quaresmal para celebrarmos com alegria a Páscoa e nela renovarmos as nossas promessas batismais.

A primeira leitura da missa desse domingo é do primeiro livro de Samuel (1Sm 26, 2.7-9.12-13.22 -23). Nessa leitura, vemos que Davi tinha o inimigo em suas mãos e que ele e Abisai tinham as armas nas mãos e tudo para matar os seus adversários. Mas Davi não fere e nem mata o seu inimigo. Aqui vemos a prova de que não devemos fazer justiça com as nossas próprias mãos.

O salmo responsorial é 102 (103): “o Senhor é bondoso e compassivo”. Esse é o refrão do salmo desse domingo. O Senhor está sempre pronto a perdoar as nossas faltas, Ele não julga a pessoa e nem a condena, mas perdoa com amor. Se acontecer de cairmos em pecado, temos uma nova chance para recomeçar a nossa vida.

A segunda leitura da missa desse domingo é da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios (1Cor 15, 45 – 49). São Paulo faz uma reflexão sobre o primeiro e o segundo Adão. O primeiro foi um ser vivo, natural e terrestre. O segundo era um espírito vivificante e veio do céu. Através do primeiro Adão entrou o pecado no mundo e, através do segundo, fomos redimidos de nossos pecados.

O Evangelho desse Domingo é de Lucas (Lc 6, 27 -38), onde Jesus reúne a multidão e começa a ensiná-los. Jesus ensina aos discípulos e a multidão sobre o amor e como podemos colocar em prática aquilo que rezamos na oração do Pai Nosso. O cristão deve sempre estar pronto para perdoar e amar. Se alguém lhe ofender e lhe dar uma bofetada numa face, devemos oferecer a outra, se nos tomar uma túnica devemos também dar o manto e se nos obrigar a andar um quilômetro com ele, caminhemos dois. Esse caminho não é fácil, mas se quisermos edificar o Reino de Deus aqui na terra, o dom da graça de Deus nos leva a agir assim e dessa forma viveremos de maneira plena esse Reino no céu.

Recordando a “regra de ouro”, se desejamos que os outros nos tratem bem, nós devemos tratar da mesma forma, e, se queremos que os outros nos perdoem, demos perdoar, também. Da mesma forma, a nossa relação com Deus: se queremos que Ele perdoe os nossos pecados, devemos perdoar os nossos semelhantes.

Se agirmos assim, a nossa recompensa será grande e mereceremos para sempre a vida eterna, seremos filhos de Deus de fato, pois Ele também ama aqueles que lhe são ingratos e maus. Somos chamados a ser misericordiosos como Deus é misericordioso, amar como Ele nos ama, perdoar como Ele nos perdoa, não condenar como Ele não nos condena. Aquilo que damos, recebemos em troca.

Antes de julgarmos alguém e olhar para os defeitos dos outros, examinemos a nós mesmos e observemos os nossos próprios defeitos. Coloquemos o evangelho em prática no dia a dia e construamos aqui na terra o reino do amor e assim alcançaremos a vida eterna. Que possamos construir uma cultura de paz e fazer com que a nossa sociedade seja mais justa e fraterna.

 

 

 

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