Dom Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora (MG) 

 

O tema fundamental da liturgia do 5º. Domingo da Páscoa é o do amor: o que identifica os seguidores de Jesus é a capacidade de amar até ao dom total da vida. O Senhor Jesus nos dá o Mandamento do amor como sinal visível de que somos seus discípulos. 

Jesus, após o lava-pés, reconhece que seu fim chegou – o “Filho do Homem foi glorificado” – e deixa um último recado aos seus seguidores: o novo mandamento do amor. No Evangelho(Jo 13,31-33a.34-35), Jesus despede-Se dos seus discípulos e deixa-lhes em testamento o “mandamento novo”: “amai-vos uns aos outros, como Eu vos amei”. É nessa entrega radical da vida que se cumpre a vocação cristã e que se dá testemunho no mundo do amor materno e paterno de Deus. A novidade desse mandamento é “como Jesus amou” – até a doação da própria vida em favor da humanidade. A vivência do amor é a maior prova que os discípulos podem dar de sua condição de seguidores do Mestre. Por isso, o amor é o maior e mais precioso ensinamento deixado por Jesus. É a maior herança testamentária que o Senhor deixou aos seus seguidores de todos os tempos e lugares. 

Na ceia – a Missa – é o espaço privilegiado para que Jesus se revele. Sua autorrevelação se dá entre dois momentos tensos durante a ceia: o anúncio da traição de Judas(Jo 13,21-30) e o da negação de Pedro(Jo 13,36-38). Isso para deixar claro que, apesar das fraquezas da comunidade, da traição e da dispersão, a disposição de Jesus é sempre o amor. Quem ama lava os pés dos outros, como fez Jesus(Jo 13,1-15). Lavar os pés é colocar em prática o mandamento novo: amai-vos uns aos outros.  

Viver o mandamento novo é fugir das práticas escrupulosas de preceitos rituais. Viver o amor na verdade, sem reservas, é amar como Jesus amou! Amar sem preconceitos e sem discriminações. 

Na primeira leitura(At 14,21b-27) apresenta-se a vida dessas comunidades cristãs chamadas a viver no amor. No meio das vicissitudes e das crises, são comunidades fraternas, onde os irmãos se ajudam, se fortalecem uns aos outros nas dificuldades, se amam e dão testemunho do amor de Deus. É esse projeto que motiva Paulo e Barnabé e é essa proposta que eles levam, com a generosidade de quem ama, aos confins da Ásia Menor. A leitura do Apocalipse de hoje não serve apenas de consolo, mas é a imagem da mais sublime esperança que jaz no coração dos seres humanos. Deus nos recuperará a condição de viver em comunhão plena e amistosa com Ele e com nossos irmãos e irmãs. O Paraíso pedido pelo pecado não é, e não será, mais motivo de choro arrependido. Maravilhosa é a descrição da Cidade Celeste: Deus morará e estará com seu povo, sem choro, lágrimas e morte. Serão extintas todas as sequelas maléficas do pecado que nos retirou do Paraíso: “Eis que faço novas todas as coisas”(Ap 21,5), diz o Senhor Deus. A esperança de participar da alegria do Céu, de habitar a Jerusalém Celeste, deve nos motivar a viver o mandamento novo dado por Jesus a nós, seus discípulos. 

A segunda leitura(Ap 21,1-5a) apresenta-nos a meta final para onde caminhamos: o novo céu e a nova terra, a realização da utopia, o rosto final dessa comunidade de chamados a viver no amor. Em sua visão, o autor descreve a nova realidade sem dor e sem mortes. O mal – mar – foi derrotado para sempre, e o povo de Deus será definitivamente libertado de toda a tribulação. A “nova Jerusalém” é a nova morada dos vencedores e a Nova Aliança entre o Ressuscitado e a comunidade. O novo céu e a nova terra deixarão de ser sonho à medida que nos deixarmos guiar por aquele que faz novas todas as coisas. 

Se você está de mal ou brigado com alguém nestes domingo é dia propício de pedir perdão e de reconciliar-se. Para que sejamos discípulos de Jesus, na verdade, devemos nos amar como Ele nos amou. Jesus nos amou até o fim, até o extremo da Cruz. Que nos amemos uns aos outros na gratuidade generosa do mesmo amor com que o Senhor nos amou! 

 

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