Vivemos uma situação religiosa singular no Brasil. Segundo a análise do Prof. Cesar Romero Jacob há um crescimento dos Evangélicos de tendência pentecostal nas
periferias das grandes cidades e uma presença mais consolidada da Igreja católica nos centros das cidades e nas classes mais esclarecidas. Esta realidade nos alerta para uma dupla preocupação: a de uma presença mais eficaz da Igreja católica nas periferias urbanas e para a crescente realidade do fundamentalismo. Para a realidade da presença da Igreja nas periferias, faz-se necessário o incentivo à ministerialidade leiga1. O fundamentalismo se caracteriza como uma reação à modernidade e por isso, renuncia à hermenêutica na leitura da Escritura pois esta deve ser lida literalmente; elimina-se assim, qualquer possibilidade de diálogo com o mundo científico; um dos seus suportes é a pregação apocalíptica e a luta contra o mal. Todos os males são demonizados: físicos, sentimentais e sociais2. A teologia e a pastoral não podem ignorar tal realidade.
Vivemos o momento de recepção do documento de Aparecida. Muito se tem escrito sobre Aparecida. Cada uma das grandes Conferências do Episcopado Latino Americano ficou marcada por um aspecto, para onde Aparecida nos conduz? Os aspectos mais salientados pela reflexão teológica tem sido: o eclesiológico (estrutura da Igreja); o missionário e a formação do discípulo missionário. Aparecida escuta com o olhar do discípulo a realidade e a partir daí, com a gratidão e a alegria de ter a verdadeira fé em Cristo, aponta, a partir do encontro pessoal com Cristo, para uma Igreja discípula-missionária comprometida com o Evangelho da vida. Parece-nos que a grande intuição de Aparecida é aquela de uma Igreja discípula-missionária, isto é, de uma Igreja madura. Aparecida parece ter intuído a condição para a Igreja sobreviver nesta cultura pós-moderna3. Porém, percebe-se em certos setores da Igreja, principalmente em certos meios de comunicação, uma pregação que ignora o Documento de Aparecida. Parece-nos que o mérito de tais setores seja o resgate de uma pregação querigmática que tem nos auxiliado na aproximação ou reaproximação de muitos homens e mulheres. Contudo desde tradição bem antiga a pregação cristã não pode ser reduzida ao anúncio querigmática, é aqui que sentimos a fragilidade da teologia de tais setores: descuidar a pregação catequética e por isso, tal teologia acaba destacando elementos de uma cultura da aparência: roupas, shows, etc, não conduzindo a um segmento mais radical de Jesus Cristo e a uma pertença à comunidade eclesial.