Andando na contramão

Com o resultado das eleições presidenciais americanas, nós brasileiros, nos sentimos tão felizes, como se a vitória de Obama tivesse a ver com o nosso voto pessoal. Tudo é sorrisos e esperanças. Tudo é juventude, harmonia, modernidade e inteligência. Não tenho fortes  razões para não acompanhar o otimismo geral. Mas tenho algumas observações, que me levam a ter cautela. Como católico, sinto sérias preocupações.

O príncipe não está atualizado – é o que se viu nas cerimônias de posse – com a real situação religiosa americana. Os protestantes tiveram presença evidente no cerimonial de posse. Mas nenhuma autoridade católica esteve tomando parte nas celebrações. Lá existem mais de 80 milhões de católicos, de longe o maior agrupamento religioso da nação. Superam, com grande vantagem, as outras denominações cristãs, individualmente tomadas, que até se digladiam entre si.

Causou-me espanto a largueza de atribuições que o líder capitaliza para a sua missão. Antes da posse, mas já eleito, pronunciou-se como exegeta bíblico, discorrendo com desembaraço sobre as páginas sagradas, e fazendo-lhes reparos e levantando interpretações. A impressão que deixou é que não vai haver moleza para o nosso lado. Da grande república do Norte fluirão ensinamentos de conduta, que nos atingirão em todo o mundo. A sinalização que deu é que os nossos pontos de vista pouco valem nos dias de hoje.

Quanto às primeiras providências governamentais, parece que segue os conselhos de “O Príncipe”, de Maquiavel. As providências desagradáveis devem ser tomadas todas de uma vez. Daqui para frente está proibido praticar torturas (rrss). E voltando-se para a Igreja Católica, mandou liberar os subsídios governamentais, para pesquisas com células-tronco embrionárias. E sem subterfúgios atenuantes, manifestou-se abertamente a favor do aborto, sem restrições, para alegria geral daqueles que ainda tem um resto de escrúpulos na  consciência. Desejo estar enganado nas minhas primeiras impressões. Por isso “façamos orações pelos reis… a fim de que levemos uma vida calma e serena” (1 Tim 2,2).

Dom Aloísio Roque Oppermann

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