O objetivo do ano sacerdotal, instituído pelo Santo Padre, Padre Bento XVI, é reavivar nos sacerdotes e fieis o apreço por esse grande dom de Cristo à Igreja: o sacerdócio dos padres. Escrevo hoje sobre o Padre Adolfo Kolping (1813 – 1865), fundador da Obra educativa que leva seu sobrenome: a Obra Kolping. O Pe. Adolfo Kolping idealizou e concretizou sua obra como resposta aos graves problemas produzidos pelo processo de industrialização.
A massa de trabalhadores, desenraizados de sua cultura de origem, em condições de vida aviltantes, foi objeto da caridade do Pe. Adolfo Kolping, também ele vítima do processo. Na palavra do Pe. Paulo Link, assistente eclesiástico da Obra no Brasil, o Pe. “Adolfo Kolping procurou dar uma resposta a essa situação lutando pela melhoria das condições materiais de vida dos trabalhadores. Ele deu à Associação que fundara um cunho eminentemente educativo, voltando-se para a organização de centros comunitários onde num ambiente de camaradagem, os jovens operários se formassem para a profissão, para a família, para uma vida honesta e religiosa e para seu engajamento na sociedade”.
Nascido em família pobre, mas cheia de fé, Kolping assim expressou seu pensamento sobre a família: “A salvação do ser humano começa com o restabelecimento do vínculo mais forte que eles mantêm entre si: o vínculo familiar”. Aos treze anos, impossibilitado de continuar seus estudos, Kolping se tornou sapateiro. Aos dezenove anos mudou-se de sua cidade natal – Kerpen – para Colônia onde se aperfeiçoou na arte de confeccionar sapatos. Foi onde pôde constatar as profundas transformações por que passavam os jovens operários em razão da industrialização crescente. “Nas grandes oficinas – conta o Pe. Kolping – não encontrei um único ajudante que vivesse de maneira ordeira. Encontrei, sim, verdadeiros monstros de imoralidade. E mestre algum se importava com tal situação”.
Em julho de 1833, morre sua mãe. Foi dolorosa a perda daquela que em seu coração “reavivava sempre o fogo do amor e da fé em Deus”. Anos mais tarde, Kolping assim se refere ao fato: “Perdi minha mãe num momento em que ela me parecia insubstituível. Mas, na verdade não a perdi… Experimentei sua proteção de tal forma que não posso deixar de agradecer a Deus o fato de ter levado minha mãe para junto dele no momento exato em que ela precisava de um poder ainda maior para proteger-me”.
Trabalhando em uma pequena indústria de sapatos, Kolping ganhou a confiança de seu mestre sapateiro, participando de todas as decisões da pequena industria. Entretanto, Kolping orava e pedia a Deus luzes sobre seu futuro. O ideal sacerdotal lhe morava no coração. Esse ideal foi mais forte que a tentação de uma vida burguesa que sua competência profissional poderia possibilitar-lhe. Mas quem lhe pagaria os estudos? Orava a Nossa Senhora sem cessar. No meio de tantas tensões ele adoece e volta a Kerpen. Seu pai o apoiou em seu desejo. O pároco, entretanto, lhe dizia: “sapateiro, a teus sapatos”. O pároco da cidade vizinha o encorajou. Volta a Colônia onde continua seus estudos, trabalhando para completar o que a bolsa de estudos lhe oferecia. Kolping muito sofreu com acesso de tosse com vômitos de sangue. Assim descreve ele uma hemorragia sofrida em 1838: “naquela época sentia no meu peito o alento da morte.
Torrentes de sangue dos pulmões feridos não denunciavam outra coisa”. Ajudado pelo patrão de seu pai, Kolping pode estudar teologia em Munique e, depois, na Universidade de Bonn, participando ativamente das grandes discussões culturais da época. Foi ordenado padre no dia 13 de abril de 1845. Ante do início da liturgia de sua ordenação recebeu a notícia da parte de seus irmãos: ‘o papai morreu esta noite’. ” Terminada a ordenação, foi a Kerpen sepultar o próprio pai. Sua vida de pastor ele a iniciou na cidade de Elberfeld.
A industrialização, nessa cidade, produzia suas conseqüências nefastas: “Há milhares de famílias sem trabalho e sem pão. Nunca se viu nesta região tanta lamentação e tanta miséria entre o povo. Os operários vagueiam, em grandes grupos, pedindo ajuda, trabalho e comida sem que ninguém possa atender suas necessidades”. Foi quando surgiu, por iniciativa de um grupo de católicos, a “Associação de Jovens Católicos Operários”, tendo no Prof. Breuer seu idealizador. Era uma associação de caráter educativo, social e recreativo. Pe. Kolping assumiu essa obra, abandonando o trabalho acadêmico do qual tanto gostava. Animava-o a fé em Deus: “A fé em Deus nos faz acreditar no homem, apesar de sua miséria. Quanto mais vivemos esta fé tanto mais ela cresce”. O trabalho do Pe. Kolping coincide com o lançamento do Manifesto Comunista em 1848. Marx pensava que a fé em Deus era, ela mesma, miséria, expressão definitiva da miséria real. Kolping pensava justamente o contrário.(continua)
