A presença humano-divina do Filho de Deus entre nós se deu num contexto de construção da história humana, em que se quer construir a vida com a tentativa da autonomia absoluta do ser humano sem Deus. É a história do pecado que, aliás, continua, quando nos recusamos a levar a termo o projeto de Deus. Nossa auto-suficiência é uma ruína, pois, somos movidos pelos impulsos dos instintos quando não bem orientados pelo Criador.

Por isso, a presença salvífica de Jesus tem a fase da preparação, através do povo judeu, da realização da promessa divina e continuação da caminhada na história pela Igreja. Deus vem a nós em nossa natureza e história humanas, mas sem tirar nossa liberdade de opção. Por isso, a salvação trazida pelo Verbo feito carne tem efeito objetivo para toda a humanidade de todos os tempos, mas sua aplicação depende da aceitação humana na história de cada um. O papel continuado da missão de salvação para a humanidade é confiado aos discípulos, que vivem em comunidade e em comunhão com o próprio Jesus e ação fundamental do Espírito Santo: “Mas o defensor, o “Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos tenho dito” (João 14, 26). Antes de sua partida visível para o Pai, em suas duas naturezas, divina e humana, Jesus reforça a fé dos discípulos e encarrega os apóstolos, com a chefia de Pedro, a apascentar suas ovelhas, com a ordem de irem a todo o mundo, anunciando o Evangelho a toda a criatura. A Igreja de Jesus é encarregada de indicar o caminho de sentido, para o ser humano encontrar-se consigo mesmo e com os outros, através, e, em primeiro lugar, do encontro com Deus.

O texto do Apocalipse de João fala em linguagem metafórica ou comparativa sobre a Igreja, a nova capital do Reino de Deus, como a Jerusalém para os judeus, indicando a expressão máxima da união do povo com o seu Deus, não só no aspecto sentimental e religioso, mas no próprio existencial: “Um anjo me levou em espírito a uma montanha grande e alta. Mostrou-me a cidade santa, Jerusalém, descendo do céu, de junto de Deus, brilhando com a glória de Deus” (Apocalipse 21, 10). Na sociedade, a Igreja tem a missão de indicar o caminho de dependência do humano ao divino, para encontrar a base de sustentação ou a razão de ser da construção da própria história. Com os valores do Evangelho, a sociedade se humaniza e diviniza, a ponto de construir a justiça, o respeito à dignidade da vida e da pessoa humana, bem como a inclusão humana e social de todos os deixados de lado, para que todos tenham vida, voz e vez.

Não existe tranquilidade, paz e harmonia, com bem estar humano, sem o respeito e promoção de cada cidadão e cidadã nesta terra. A continuação da missão de Jesus na história leva seus discípulos a imitarem o Mestre e ensinar tudo o que Ele apresentou para todos terem compreensão, aceitação e divulgação.

A parte de Deus sempre é feita. Ele nos cria, nos dá base de salvação e nos dá o gosto de também colocar nosso esforço e nos realizarmos, valorizando nossa parte de adesão. Por isso, Jesus, cumprindo sua missão, nos indica a continuação da mesma, sabendo que a salvação por Ele trazida depende de a aceitarmos e promovermos.

Dom José Alberto Moura

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