Dom João Justino de Medeiros Silva
Arcebispo de Montes Claros
Domingo é dia de missa. Será também dia de eleição. Para muitos, as mesmas mãos que recebem a eucaristia digitarão nas urnas eletrônicas o voto. São as mesmas mãos que podem se estender aos pobres. Muitos não se darão conta da interessante coincidência de datas. No dia 15 de novembro, quando formos às urnas para escolher prefeitos e vereadores de nossas cidades, todo o mundo católico celebrará o IV Dia Mundial dos Pobres, na liturgia do XXXIII Domingo do Tempo Comum. Não há como nos furtarmos à percepção desse encontro de eventos.
Lembremo-nos de que faz parte do folclore político brasileiro a imagem dos candidatos a cargos públicos indo às periferias pobres, subindo morros, entrando em barracos, dando a mão para saudar dona Maria e Seu João, tomando cafezinho nos bares e comendo pastéis nas esquinas, deparando-se com a falta de infraestrutura de nossas cidades… Esse imaginário fala de uma presença interesseira na ocasião de pedir votos e do quase sempre distanciamento após as eleições. Chama-se isso de velha política. Embora tais comportamentos sejam criticados, eles ainda se repetem. Sabe-se que o encontro com os pobres em suas lutas e contextos de vida é de grande importância. O que se lastima aqui é o esquecimento deles depois do pleito eleitoral.
No regime democrático, uma das características fundamentais da identidade cidadã é o ato de votar. Ter o título eleitoral é sinal de cidadania para ricos e pobres, para negros e brancos, pardos e indígenas. Não há diferença entre voto de um e outro. É sempre o mesmo ato de participação democrática. Por outro lado, sabe-se que alguns votam depositando esperança nas promessas feitas, outros porque já se sentiram beneficiados por favores de alguém que busca reeleição. A consciência política muito tênue enfraquece o processo eleitoral e facilita a perpetuação de políticos profissionais. Os critérios para escolha desse ou daquele ficam ofuscados pelos interesses pessoais do eleitor. A pergunta que urge é: por que escolher esse(a) e não aquele(a)? Um critério de especial significado é perguntar-se pelo compromisso do candidato com os pobres. Tal candidato estende a mão aos pobres durante todo o seu mandato? Ele tem sempre presente que quando se governa pensando nos pobres todos são beneficiados? Ele considera a inclusão dos pobres como critério de suas proposições e ações?
Para o IV Dia Mundial dos Pobres, o Papa Francisco escreveu: “‘Estende a tua mão ao pobre’ (Sir 7, 32): a sabedoria antiga dispôs estas palavras como um código sacro que se deve seguir na vida. Hoje ressoam com toda a densidade do seu significado para nos ajudar, também a nós, a concentrar o olhar no essencial e superar as barreiras da indiferença. A pobreza assume sempre rostos diferentes, que exigem atenção a cada condição particular: em cada uma destas, podemos encontrar o Senhor Jesus, que revelou estar presente nos seus irmãos mais frágeis (cf. Mt 25, 40)”. Lendo essas palavras, ouso sugerir a você: ao estender a mão até a urna para digitar seu voto, recorde-se de que essa sua escolha pode ser um dos modos de estender a mão ao pobre. Vai lá e estende a mão a eles.