Cardeal Geraldo Majella Agnelo
Advento é a espera do Senhor: Jesus vem nos procurar. O evangelho de hoje (Mateus 11,2-11) nos recorda que também nós devemos procurar o Senhor. No silêncio de nosso coração, na escuta de sua Palavra, nos acontecimentos de nossa vida. O encontro com o Senhor está na origem da alegria do cristão.
A leitura de Isaias 35, 1-10 lembra o tempo do exílio na Babilônia, quando o povo de Israel vivia no desânimo e sem confiança, chorando a pátria perdida. O profeta do exílio o convida à esperança e à alegria, anunciando uma nova iniciativa de Deus. Deus virá à procura do seu povo, e o reconduzirá a Sião. Os sinais dessa libertação serão típicos dos tempos messiânicos: cegos, surdos, aleijados, mudos, recuperarão a cura. São os gestos de libertação que cumprirá Jesus no meio das multidões da Palestina.
O apóstolo Tiago, sugere às comunidades cristãs a atitude justa dos discípulos que esperam o Senhor, propondo três verbos a serem conjugados com solicitude cristã: sede pacientes, até a vinda do Senhor Jesus; não vos lamenteis uns com os outros, porque não é digno dos discípulos lamentar-se. Tomai como modelo os profetas, que anunciaram e testemunharam.
Hoje, reencontramos no evangelho de Mateus os personagens do domingo passado: Jesus, e ao longe o Batista, o seu precursor. Ao longe, porque fechado na fortaleza-prisão de Macheronte. Os discípulos de João o procuraram na prisão, mas João não os tem mais ligados a si, encaminha-os a Jesus. Manda-os expressamente perguntar a Jesus: “És tu aquele que deve vir, ou devemos esperar um outro?” O Batista sabe bem quem é Jesus, porém não responde diretamente: quer que seus discípulos cheguem a compreendê-lo sozinhos. Também Jesus não responde diretamente, mas lhes fornece os dados necessários, para conseguir resolver os seus problemas por si.
Os dados: Jesus está cumprindo ações que os profetas atribuíram ao futuro Messias: os doentes são curados, os mortos ressuscitam, aos pobres é anunciada a salvação. Cabe aos discípulos de João fazer o raciocínio e tirar as conclusões. Fizeram-nos e voltaram a referir ao Batista. Ficaram persuadidos e passaram a Jesus.
Os discípulos do precursor são pessoas inquietas, que procuram Deus e a verdade; que querem compreender para viver com sentido. O evangelho parece sugerir que também nós devemos assumir esta atitude, característica do coração humano; a sede do saber, a necessidade de descobrir alguém que explique e oriente. O cristão, enquanto for inquieto, pode estar tranqüilo, disse um romancista. Podemos estar tranqüilos se vivermos o modo da inquietude e da procura. Cremos que o estamos vivendo enquanto procuramos a Cristo e vivermos como ele viveu. De algum modo somos herdeiros daqueles antigos discípulos do Batista, que procuravam a verdade e Deus.
Em todo o mundo há pessoas que procuram, querem compreender, encontrar um sentido, para agir de modo consciente e construtivo. Vive-se uma vez somente, e se não fizer alguma coisa de válido, são criaturas inúteis, sem metas, vive-se em vão.
De fato não todos estão à procura de Deus. Sobretudo na nova geração da sociedade diferenciada: a sociedade do bem estar, que oferece aos jovens mil possibilidades diferenciadas para experimentar, escolher e realizar-se. Mil interesses, mil ocupações e distrações.
A voz de Deus, por sua vez, tantas vezes é um murmúrio quase imperceptível. Para ouvi-la temos necessidade de silêncio em torno a nós e dentro de nós. Temos necessidade de silêncio em nossas casas, de apagar alguma vez o televisor. Alguém chegou a dizer que o melhor televisor é o que está estragado: exagero!, mas basta saber escolher. Temos necessidade de silêncio, de boa leitura, de oração, de recolhimento.
Resta ainda a fazer depois de ter encontrado o Senhor: abrir-lhe a porta, deixá-lo entrar em nossa casa, dar-lhe espaço em nossa vida. O Papa João Paulo II, na Praça de São Pedro no dia da sua eleição, exclamou: “Não tenhais medo! Abri, antes escancarai as vossas portas a Cristo!” As portas se abrem de dentro. Os discípulos de João Batista o encontraram.
O Natal do Senhor está perto.