Aqueles que renasceram nas águas do Batismo

A solenidade da Páscoa celebra a ressurreição gloriosa de Jesus, que é sua passagem, através da morte, para a vida gloriosa. E nós, neste tempo, não nos cansamos de proclamar: este é o dia que o Senhor fez para nós: Alegremo-nos e nele exultemos! E recorda a graça do nosso Batismo, mediante o qual também nós já passamos da morte para a vida e participamos da vida nova que o Senhor ressuscitado manifestou ao mundo. Por isso, desde a Igreja primitiva, na Vigília Pascal são realizados muitos batizados. Nesta última noite da Páscoa, eu mesmo tive a graça de realizar 2 batismos de bebês e 16, de jovens e adultos. Em várias paróquias também foram realizados batizados e acolhidos novos membros da Igreja.

A Liturgia da Páscoa tem expressões muito ricas sobre o Batismo: “concedei que, celebrando a ressurreição do Senhor, renovados pelo Vosso Espírito, ressuscitemos na luz da vida nova “ (Oração do Domingo da Páscoa). Na Carta aos Colossenses (2ª. Leitura do Domingo da Páscoa), S.Paulo recorda aos fiéis: se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, (…) aspirai às coisas do alto” (3,1.2).  Na oração sobre as oferendas do mesmo domingo, apresentamos a Deus “o sacrifício pelo qual a Igreja maravilhosamente renasce e se alimenta”. Durante a semana da Páscoa, a Igreja pede pela perseverança daqueles que foram batizados: “concedei que, por toda a vida, estes vossos servos e servas sejam fiéis ao Batismo que receberam, professando a fe”; que consigam a vida eterna e sejam sempre dignos dos dons de Deus (2ª. Feira); tendo conseguido, agora, a verdadeira liberdade, os fiéis em Cristo, possam alegrar-se um dia no céu, como se alegram agora na terra (3ª. Feira).

As expressões relativas ao Batismo continuaram durante toda a semana da Páscoa e tiveram seu ponto alto no 2º. Domingo da Páscoa, quando a Igreja pedia a Deus: “Fazei que compreendamos melhor o Batismo que nos lavou, o espírito que nos deu nova vida e o sangue que nos redimiu”; e que conservemos em toda a nossa vida “o sacramento pascal que recebemos”. Também na Liturgia das Horas desse Domingo lemos o belíssimo sermão de S.Agostinho sobre a “nova criatura em Cristo”: “Minha palavra se dirige agora a vós, filhos recém-nascidos, pequeninos de Cristo, nova prole da Igreja, graça do Pai, fecundidade da Mãe, germe santo, multidão renovada, flor de nossa honra e fruto do nosso trabalho, minha alegria e coroa, todos vós, que permaneceis firmes no Senhor!” (Ofício das Leituras).

A Páscoa nos recorda a preciosidade do Batismo e da vida cristã. Por isso, este tempo deveria ser para todos nós marcado por uma experiência de profunda alegria e esperança: não foi algo que demos a nós mesmos, mas participamos do mistério da “nova criação”, graças à paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo. A alegria de ser filhos de Deus e já estarmos “salvos na esperança” (spe salvi) nos deveria dar serenidade diante dos desafios e problemas da vida; sem alienação, nem fugas ou refúgios em espiritualismos vazios: esta é a nossa fé e dela tiramos forças para viver e ser melhores, para construir a esperança ao nosso redor. Também a nós Cristo diz cada dia: “coragem, eu venci o mundo!”

O dom recebido no Batismo requer de cada um de nós uma resposta: Não apenas a gratidão, mas a colaboração com a graça de Deus e o crescimento na vida cristã, nas virtudes teologais da fé, esperança e caridade. Quero, pois, incentivar as paróquias e outras organizações da Igreja a multiplicarem iniciativas para que o povo tenha oportunidades para o aprofundamento da experiência cristã e da adesão à comunidade eclesial, tais como retiros, peregrinações, catequeses, pregações. A Palavra de Deus e a Eucaristia não devem faltar. Da mesma forma, recomendo aos pais católicos que se ocupem com a formação religiosa dos filhos que apresentaram ao Batismo. O dom recebido de Deus precisa produzir frutos maduros de vida cristã.

Card. D.Odilo Pedro Scherer

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