+ Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora, MG
Dentro da oitava de Natal nós iremos celebrar, no dia 30 de dezembro, por ser o domingo seguinte ao Natal a Solenidade de Santa Maria Mãe de Deus, a Festa da Sagrada Família de Jesus, Maria e José.
Em 1921, o Papa Bento XV, introduziu no calendário romano a festa de hoje. Esta festa é celebrada dentro da oitava de Natal por dois motivos: Primeiro – teologicamente, percebe-se com maior clareza a identidade da família como “célula” primordial da Igreja. Cada família cristã é uma “igreja doméstica”. Dentro do seu seio, a fé, a oração e as virtudes são incultadas e cultivadas. Segundo – sociologicamente, torna-se cada vez mais aparente que a família é alvo de hostilidade da parte de muitos setores da cultural atual. Existem tentativas de pôr fim à realidade da família e de reestruturar a sociedade por completo numa base que não seja bíblica e nem cristã. Assim, ao celebrar esta festa, nós, cristãos, proclamamos a nossa fé na centralidade da família no projeto de Deus para a humanidade, e imploramos a poderosa intercessão de Jesus, Maria e José para proteger e ajudar a todos a valorizar a imensa bênção que é a família.
A Primeira Leitura pode ser Eclo 3,3-7.14-17 ou Cl 3,12-21. O Livro do Eclesiástico proclama uma observância do quarto Mandamento: honrar pai e mãe. Conforme a percepção judaica, morrer pobre, sem filhos e jovem era sinal de abandono e desgraça diante de Deus. O Eclesiástico adverte: quem honra os pais, ajunta tesouros, se alegrará com os próprios filhos e terá vida longa. O autor acrescenta, ainda, aos dons recebidos: perdão dos pecados e oração atendida. A compreensão e a caridade devotadas aos pais não serão esquecidas e servirão como justiça para a própria edificação. Mas, para que o cumprimento do Mandamento não se torne mesquinharia interesseira, é bom nos lembrarmos de que o Autor sagrado não está fazendo teologia da prosperidade ou da retribuição, o que é odioso em todos os sentidos. “Praticar o bem, sem olhar a quem” é prática agradável a Deus, muito mais se o bem é favorável aos pais.
A Segunda Leitura – Cl 3,12-21 – orienta para a prática e a vivência da caridade na família. Cada pessoa, no ambiente familiar, para que a paz de Cristo reine, se revista de misericórdia, bondade, mansidão, paciência e, sobretudo, de perdão e amor, vínculo da perfeição.
No Evangelho – Mt 2,13-15.19-23 – mostra, em sinal celebrativo, nos mostra a Sagrada Família vivendo sofrimentos que poderiam se impor sobre qualquer família humana. Em suas andanças pela vida, José toma o Menino Jesus e sua Mãe para que, guiados e deixando-se guiar por Deus, triunfem no final, quando se estabelecerem em Nazaré! Neste penúltimo dia do ano, rezemos por nossas família e, em especial, pelas famílias desorientadas pela violência, guerra e a pandemia. Que família migrantes e refugiadas sejam acolhidas, lembrando-nos de que a Sagrada Família passou por dramas semelhantes aos nossos, e viveu o sofrimento da fuga para o Egito, como tantas famílias de nossa época.
Lembrando o amado Papa Bento XVI, o magno, relembremos as suas sábias palavras: “A preocupação de Maria e José por Jesus é a mesma de todos os pais que educam um filho, que o introduzem na vida e na compreensão da realidade. Portanto, hoje é indispensável dirigir uma oração especial ao Senhor por todas as famílias do mundo. Imitando a Sagrada Família de Nazaré, os pais se preocupem seriamente pelo crescimento e pela educação dos próprios filhos, a fim de que amadureçam como homens responsáveis e cidadãos honestos, sem nunca esquecer que a fé é um dom precioso que deve ser alimentado nos próprios filhos, inclusive com o exemplo pessoal. Ao mesmo tempo, rezemos para que cada criança seja recebida como dom de Deus, apoiada pelo amor do pai e da mãe, para poder crescer como o Senhor Jesus, «em sabedoria, idade e graça diante de Deus e dos homens» (Lc 2, 52). O amor, a fidelidade e a dedicação de Maria e José sejam exemplo para todos os esposos cristãos, que não são os amigos ou os donos da vida dos seus filhos, mas os guardiães deste dom incomparável de Deus. O silêncio de José, homem justo (cf. Mt 1, 19), e o exemplo de Maria, que ponderava todas as coisas no seu coração (cf. Lc 2, 51), nos façam entrar no mistério cheio de fé e humanidade da Sagrada Família. Desejo a todas as famílias cristãs que vivam na presença de Deus, com o mesmo amor e a mesma alegria da família de Jesus, Maria e José.” (https://www.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/angelus/2012/documents/hf_ben-xvi_ang_20121230.html, último acesso em 20-12-2022).
Eu gostaria muito de reafirmar o que foi dito pelo Papa Bento XVI: hoje, mais do que nunca, devemos ter como preocupação primeira como pais a educação dos filhos na fé católica. A educação para a vida comunitária, a inserção na vida comunitária e o testemunho cristão num mundo tão secularizado como o nosso. Os pais que rezam junto dão eloquente exemplo para os seus filhos. Pais que levam seus filhos para a vida sacramental são exemplos vivos da graça de Deus!
Rezemos para que nossas famílias testemunhem a vida familiar de Jesus, Maria e José!
Por isso, somos chamados a imitar as virtudes e o amor presentes na convivência entre Jesus, Maria e José. Os valores que conduziram a Família de Nazaré se solidifiquem também em nossos lares e em nossa comunidade!