Às portas do Jubileu

Quando, aos 15 de novembro de 1959, foi instalada a Diocese de Santa Cruz do Sul com a posse de Dom Alberto Frederico Etges, eu era estudante de teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma. Participava de um grupo de seminaristas interessados em aprofundar o método da Ação Católica Universitária (JUC) e Operária (JOC). Uma vez por mês vinha, da Bélgica, o fundador da Juventude Operária Católica Mons. José Cardijn para ensinar a fazer Revisão de Vida (Ver, Julgar e Agir) e nos colocar ao par da difusão rápida destes movimentos apostólicos.

Naquele tempo, 10% dos jovens universitários brasileiros participavam da JUC! Nenhuma ação significativa no meio universitário podia dispensar o apoio da JUC.

Em Porto Alegre era conhecido o Assistente Eclesiástico da JUC, que foi o primeiro aluno do Pontifício Colégio Pio Brasileiro a receber o título de Doutor em Teologia: Padre Alberto F. Etges. Foi este o escolhido para primeiro Bispo da nova Diocese de Santa Cruz do Sul. Naturalmente, a bela igreja matriz da cidade foi elevada a Catedral São João Batista.

Em Roma, estudava comigo o Padre Pergentino Pivatto. Em Beuren (Alemanha) eu visitava o Padre Dario Backes. Até hoje somos amigos íntimos.

Atualmente a Diocese de Santa Cruz do Sul limita com as Dioceses de Montenegro, Caxias do Sul, Passo Fundo, Cruz Alta, Cachoeira do Sul, Pelotas e a Arquidiocese de Porto Alegre. Como o Rio Grande do Sul tem só uma Arquidiocese, as 18 Dioceses sufragâneas se organizam em Interdiocesanos. Santa Cruz do Sul pertence ao Interdiocesano Centro-Oeste, com as seguintes Dioceses: Uruguaiana, Santo Ângelo, Cruz Alta, Santa Maria, Cachoeira do Sul e Santa Cruz do Sul.

Por quase 14 anos trabalhei na formação sacerdotal, no Seminário Maior de Viamão, a serviço da Arquidiocese de Porto Alegre. Os seminaristas de Santa Cruz do Sul também moravam ali. Através deles pude acompanhar a ação pastoral da Diocese de Santa Cruz do Sul, a pastoral vocacional intensa e a formação de novos presbíteros. Aliás, sempre admirei o trabalho dos padres formadores nos seminários de Linha Santa Cruz, de Arroio do Meio e de Viamão.

Meu antigo Reitor no Seminário de Gravataí, Mons. Edmundo Müller, era um dos meus grandes amigos. Certo dia ele disse em público que eu era seu maior amigo. Com certa freqüência ele visitava seus familiares em Cerro Alegre Baixo. Eu era o motorista dele. Quase sempre que nós vínhamos à região, também fazíamos uma visitinha a Dom Alberto. Ele pedia à “Madre do Bispo” (Irmã Eloísa, ICM) um café que, segundo ele, devia ser “doce como o céu, quente como o inferno e preto como a noite”. Quanto ao calor do inferno, eu era menos entusiasmado.

Como Dom Alberto não dirigia, sempre que nos encontrávamos em reuniões regionais ou nacionais, eu oferecia carona a Dom Alberto até a residência dele. Assim, eu ganhava de novo o célebre café e estreitávamos nossa amizade.

A Diocese de Santa Cruz do Sul sempre foi conhecida por sua atualização, o “aggiornamento” do Concílio Ecumênico Vaticano II. Ecoou pelo mundo a iniciativa de ouvir as famílias, antes de formar um plano pastoral. Foi o célebre “tempo de escutar o povo”.

Quando o Santo Padre aceitou a renúncia de Dom Alberto ao governo da Diocese, fui escolhido para concedê-lo no cargo. Fiz então quatro coisas: 1. Convidei Dom Alberto a morar comigo, na mesma casa. Foram 10 anos de magnífica convivência. 2. Nomeei Dom Alberto como Vigário Geral da Diocese, mas ele permaneceu absolutamente discreto! E o nomeei responsável pelas Crismas, o que ele exerceu com imensa alegria. 3. Mantive todos os padres e leigos nos respectivos cargos e não me arrependi, dada a competência e a dedicação de todos. 4. Respeitei a dinâmica da organização eclesiástica: os Conselhos, Assembléias e Planos de Pastoral.

Agora chegou o tempo do jubileu. É ação de graças. Dia 15 de novembro de 2009 celebrarem o Jubileu de Ouro da Diocese. Vamos receber bem o Núncio Apostólico e começar um tempo novo!

Dom Aloísio Sinésio Bohn

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