Dom Jaime Vieira Rocha
Arcebispo de Natal (RN)
A Igreja celebra neste domingo, dia 16, a solenidade da Ascensão do Senhor, elevação da natureza humana à direita de Deus Pai. Por causa do fato da Encarnação e da “quenose”, ou seja, à renúncia ao apego de ser igual a Deus (cf. Fl 2,6s), o Verbo divino, Filho eterno, ao ressuscitar, é elevado à glória que tinha desde toda a eternidade (cf. Jo 17,5). A Ascensão significa que o desígnio divino se cumpre e, com o envio do Espírito Santo, em Pentecostes, se torna realidade permanente para todos os homens e mulheres.
Na Liturgia da Igreja, a verdade da Ascensão é expressa levando em consideração o papel de Mediador que Ele tem: “Vencendo o pecado e a morte, vosso Filho, Jesus, rei da glória, subiu (hoje) ante os anjos maravilhados ao mais alto dos céus. E tornou-se o mediador entre vós, Deus, nosso Pai, e a humanidade redimida, juiz do mundo e Senhor do universo. Ele, nossa cabeça e princípio, subiu aos céus, não para afastar-se de nossa humildade, mas para dar-nos a certeza de que nos conduzirá à glória da imortalidade” (MISSAL ROMANO. Prefácio da Ascensão do Senhor I). O Cristo, elevado à direita do Pai, não “foi embora”, Ele continua presente em nossa vida, especialmente pela ação do Espírito Santo, pois Ele torna presente em nós a Imagem de Deus, segundo a qual fomos feitos (cf. Gn 1,26-27; cf. também Cl 1,15, onde o Apóstolo afirma que a imagem de Deus é o Filho). A presença do Espírito Santo na Igreja é condição para o discipulado, e o primeiro dom do Ressuscitado (cf. MISSAL ROMANO. Oração Eucarística IV). É de fato, pela presença do Espírito Santo que a missão de Jesus, continuada na missão dos seus seguidores, não seja uma simples “recordação” de um evento do passado, que fique apenas como lembrança inspiradora, mas como “Memorial” que se torna realidade presente e atuante, seja na profissão de fé, na liturgia celebrada e na práxis da caridade. Pela ação do Espírito Santo, recebido no Batismo, todos nós, leigos e leigas, ministros ordenados e religiosos, somos envolvidos pela graça do discipulado, e nos tornamos, de forma “inerente”, como afirma o Concílio de Trento, uma comunhão de intimidade divina, e configurados ao Sacerdócio de Cristo, especialmente na doação de tantos irmãos e irmãs ao trabalho pastoral e na participação nas nossas comunidades, como afirma o Concílio Vaticano II.
Uma das tantas formas de atuação do Cristo ressuscitado e exaltado à direita do Pai, na ação do Espírito Santo dado aos seus seguidores, é a transmissão da fé, exercida por tantos na vida da Igreja, o que se torna tão urgente e necessária, principalmente no tempo em que vivemos, onde uma verdadeira geração digital atua com seus desafios, sejam eles benéficos sejam preocupantes. Por isso, torna-se muito oportuno que, na solenidade da Ascensão, a Igreja celebre o Dia Mundial das Comunicações Sociais, esse ano com o lema: “Vem e verás” (Jo 1, 46). Comunicar encontrando as pessoas onde estão e como são”. Uma preocupação que está no coração da Igreja: a experiência do encontro pessoal, realidade que acontece como condição, dada e feita pelo próprio Senhor em toda dinâmica do discipulado missionário, e que também é fonte para o testemunho e a transmissão da fé. Somente porque acontece esse encontro é possível entender o chamado, não só para os agentes de nossas pastorais da comunicação, mas para todos os cristãos e cristãos, de comunicar a fé. Tal comunicação não destrói jamais a realidade das pessoas, seja de onde elas são e como são, na sua história, na sua condição ontológica e cultural. Oxalá compreendamos essa mensagem de Papa Francisco e coloquemos em prática esse sentido da comunicação, oriundo do mesmo mandato do Senhor, antes de sua Ascensão: “Ide pelo mundo inteiro e anunciai a Boa Nova a toda criatura” (Mc 16,15).