Dom Leomar Antônio Brustolin
Arcebispo de Santa Maria (RS)
Falar de Maria é entrar num mundo fascinante, seja pela importância que ela tem na comunidade dos seguidores de Jesus, seja pela sobriedade dos dados referentes à sua pessoa, ou mesmo pela determinante função que exerce na História da Salvação. A Mãe de Jesus não é conhecida apenas pelos escritos dos tempos apostólicos.
Na vida da Igreja, Maria não é uma lembrança, mas uma presença. A história conhece fatos e relatos onde a Mãe de Deus acompanhou o crescimento da comunidade dos seguidores de Jesus. Nesse percurso, foi se delineando, cada vez mais, o significado singular de Maria para os discípulos do Filho de Deus.
Aceitando o convite angélico para gerar o Cristo, Maria torna-se, simultaneamente, mãe e esposa. Ela contrai uma relação singular com a Santíssima Trindade, um acordo recíproco e indissolúvel, concordando em participar maternalmente da nova Aliança que Deus estabeleceu com o mundo. A Igreja procurou, ao longo dos séculos, assimilar, sempre mais, essa relação da Virgem com a Trindade.
Toda concentração referente à pessoa de Maria repousa sobre o fato de sua maternidade divina. O dogma da Mãe de Deus foi formulado no Concílio de Éfeso, em 381, que explicitou, com precisão teológica e excluiu toda falsa compreensão do título “Genitora de Deus”. Isso não implica dependência ou submissão do divino ao humano. Maria não é a genitora da divindade, mas é a Mãe do Verbo que se fez carne.
Maria forma o corpo de Jesus sem nenhuma outra influência humana. A singularidade dessa geração e desse nascimento manifesta que o Filho não provém da Terra, mas do Céu, apenas de Deus. Somente por meio de Maria, Deus se encarna, se faz homem e assume a corporeidade. Ele que criou o ser humano capax Dei (apto para Deus), demonstrou ser, por sua vez, capax hominis (adaptável ao ser humano).
Maria é Mãe do Filho de Deus, que se chama Jesus. Na sua função materna, cercando Jesus de cuidados humanos, Maria foi a educadora de Jesus. Ela educou seu filho através de sua vida pobre, de seu trabalho e de sua simplicidade, pelo seu amor de mãe e pela sua proteção. Dos cuidados da mãe, o menino passa aos cuidados paternos de José. Depois de completar 5 anos, o menino israelita passa a aprender com seu pai a religião judaica e um ofício. José foi quem iniciou Jesus na grande tradição de Israel: falou-lhe da História Sagrada, dos mandamentos e das festas.
Cercado pelos cuidados de José e de Maria, Jesus cresce em idade, estatura e graça. (Lc 2,52). Há, entretanto, na iniciação de Jesus no Judaísmo, uma influência determinante de sua Mãe. Maria educou seu filho na fidelidade ao Deus da Aliança. Ensinou-lhe a piedade da religião israelita e o encaminhou pela via do Deus do povo sofredor. Educando seu filho, Maria entra num movimento que a obriga a meditar sobre a relação com Ele. Desde pequeno, Jesus introduz sua Mãe na compreensão do mistério de sua total pertença ao Pai. Sempre fiel a Deus, Maria tornar-se-á, também, a mais perfeita discípula de seu Filho, de forma a ser considerada a Mãe de todos os cristãos. Mãe, filha, professora e aluna, Maria entra numa relação dialética com seu Filho, aprendiz e mestre. Nela, a maternidade transcende os limites biológicos e humanos. Ela não gerou Deus, como Trindade Santa, mas através de sua fé e obediência possibilitou que o Filho de Deus se encarnasse em seu seio.