Dom Carlos Romulo
Bispo de Montenegro

Estamos vivendo o mês de outubro, mês tradicionalmente dedicado a refletir, a rezar e a promover a dimensão missionária da Igreja. O Santo Padre o Papa Francisco convocou a Igreja no mundo inteiro a celebrar neste outubro de 2019 o ‘mês missionário extraordinário’. No fundo, um chamado a vivermos algo que é essencial à nossa fé.

A missão não é uma estratégia, nem um marketing da fé, mas a identidade de nossa fé cristã. São Paulo VI nos ensina que “quando a Igreja anuncia o Reino de Deus e o edifica, insere-se a si própria no âmago do mundo, como sinal e instrumento desse reino que já é e que já vem” (Evangelii Nuntiandi 59). E ainda, citando Santo Agostinho, recorda a ação dos Doze Apóstolos “pregaram a palavra da verdade e geraram as Igrejas”.

Portanto, a ação missionária é obra da Igreja e é geradora de Igreja.

Pelo Batismo fomos enxertados em Jesus Cristo. No Cristo Ressuscitado formamos um corpo, que é a comunidade eclesial. Assim como Jesus de Nazaré, o Filho de Deus fez de sua vida uma missão, uma caminhada, um encontro com o ser humano. Viver em Cristo significa ter em nós, os mesmos sentimentos de Cristo Jesus (cf. Fl 2,4). Neste sentido a nossa missão nasce do próprio Batismo, da nossa configuração ao Cristo.

A Igreja e cada batizado e batizada sente o chamado a partilhar o Evangelho recebido. Isto já está presente na vida dos apóstolos logo após a Ressurreição de Cristo e a Vinda o Espírito Santo em Pentecostes. A Igreja nascente tem no Apóstolo Pedro e nos Doze o desafio de sair de seu pequeno mundo cultural para lançar o Evangelho em outros ambientes. Se soma a este pequeno grupo a criativa experiência do Apóstolo Paulo, que de perseguidor dos primeiros cristãos, passa a ser um missionário incansável. Esta experiência foi passada de geração em geração ao longo destes dois mil anos de cristianismo. São homens e mulheres que marcam cada época da história com seu testemunho e sua missão.

As vezes a missão é um partir para uma realidade distante, encontrar e conhecer outras culturas, outros povos, outras línguas. Às vezes, é encontrar, no próprio lugar, realidades que estão escondidas, excluídas. Por exemplo, São Francisco, na sua própria Assis, encontrou a realidade dos leprosos. Foi sua consagração à missão. Claro, também andou a outros lugares e também procurou despertar a Igreja como um todo, indo até dialogar com o Papa da época. Santa Dulce dos Pobres, para citar alguém do nosso tempo e do nosso país, não precisou ir longe para ser uma grande missionária, pois ao ir ao encontro dos enfermos e pobres, realiza plenamente sua missão.

Para concluir recordo o poema “missão é partir” para compreendermos onde começamos a ser missionários.

“Missão é partir, caminhar, deixar tudo, sair de si,

quebrar a crosta do egoísmo que nos fecha no nosso Eu.

É parar de dar voltas ao redor de nós mesmos,

como se fôssemos o centro do mundo e da vida.

É não se deixar bloquear nos problemas

do pequeno mundo a que pertencemos:

a humanidade é maior.

Missão é sempre partir, mas não devorar quilômetros.

É sobretudo abrir-se aos outros como irmãos,

descobri-los e encontrá-los.

E, se para encontrá-los e amá-los é preciso atravessar os mares

e voar lá nos céus,

então Missão é partir até os confins do mundo” (Dom Helder Câmara).

Deus vos abençoe e vos guarde sempre!

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