Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ
Celebramos no próximo dia 23 de setembro, a memória litúrgica do Beato Padre Francisco de Paula Victor. Conforme os dados na internet e nos livros de divulgação, Padre Victor nasceu em 12 de abril de 1827 no município da Campanha, em Minas Gerais. Piedosamente faleceu no município de Três Pontas, em 23 de setembro de 1905 com grande e comprovada fama de santidade não só na Paróquia como em todo o Sul de Minas. Demorou um pouco mais de cem anos até que ele fosse beatificado pela Igreja, a beatificação ocorreu em 14 de novembro de 2015. A festa litúrgica em memória de Padre Victor permaneceu no dia 23 de setembro, dia de sua morte.
Padre Victor foi um exímio sacerdote e tinha um grande zelo pastoral, cuidava das coisas sagradas com carinho e piedade e acolhia de coração aberto a todos que o procuravam. Foram essas atitudes que lhe causaram a fama de santidade. Padre Victor explicava com sabedoria tudo o que provinha da Palavra de Deus e suas homilias eram ricas de catequese e ensinamentos.
Padre Victor é aquele sacerdote que vivia o que pregava, ou seja, pregava como quem tem autoridade, a exemplo de Jesus, pois aquilo que ele ensinava era verdadeiro e colocava em prática o que vivia. Padre Victor tinha uma vida simples e passava essa simplicidade aos fiéis, não queria viver de luxo a ter riqueza, pois a riqueza que todo homem deve buscar é a riqueza que vem da Palavra de Deus.
Padre Victor viveu em tempos difíceis aqui no Brasil, pois a escravidão estava em alta. Padre Victor defendia e acolhia em sua paróquia os escravos, e essa atitude de Padre Victor irritava os fazendeiros da região que o questionavam por conta dessas atitudes, mas Padre Victor não mudava sua opinião e agia à semelhança de Jesus que não excluía ninguém. Os fazendeiros da região começaram a persegui-lo. Padre Victor sentia na pele o que os escravos passavam, pois era filho de escrava.
Padre Victor desde pequeno desejava ser sacerdote e queria servir a Deus mais de perto, e sobretudo cooperar para mudar a situação dos escravos em nossa pátria. Ele ingressou no Seminário de Mariana, o vetusto Seminário da Boa Morte, em 05 de junho de 1849 e foi ordenado em 14 de junho de 1851 pelo igualmente venerável bispo Dom Antônio Ferreira Viçoso, CM, permanecendo na Campanha como coadjutor. Em 1852 foi transferido para a cidade de Três Pontas, começou como vigário e depois tornou-se pároco. Vivenciou ali os 53 anos incansáveis de sacerdócio até partir para a casa do Pai.
Em Três Pontas, Padre Victor viveu o sacerdócio de maneira exemplar, zeloso com todos que o procuravam, inclusive os escravos. No altar oferecia o sacrifício Eucarístico, distribuía a Eucaristia e dizia que do mesmo modo que Cristo vem ao nosso encontro, deveríamos ir ao encontro do outro e deveria haver uma distribuição igualitária de bens. Ensinava ainda, que todos somos iguais e que não haveria a necessidade da escravidão, mas todos deveriam receber por seu trabalho. Essa atitude com certeza irritava os fazendeiros locais, e Padre Victor chegou a celebrar a Santa Missa sozinho, pois os fazendeiros impediam as pessoas de participarem da Missa, inclusive os escravos. Mesmo assim, Padre Victor não desistiu da sua missão, que era levar o amor de Deus para todos.
Padre Victor, ao longo de seu ministério, criou a Escola Sagrada Família, a primeira escola da cidade de Três Pontas, ele ofereceu aos moradores a educação, sobretudo aos escravos e seus filhos, que não tinham condições de frequentarem escolas melhores nas cidades vizinhas, como por exemplo: Campanha. Era um pároco extremamente caridoso, ajudando os mais necessitados, principalmente aqueles que iam pedir comida, roupa e abrigo em sua paróquia. Inclusive os escravos e seus filhos iam pedir ajuda e abrigo ao Padre, provocando a ira dos fazendeiros que queriam que ele fosse embora daquela região. Ele dava tudo o que tinha a todos, por isso recebeu o título de “Anjo Tutelar de Três Pontas”.
Padre Victor faleceu em 23 de setembro de 1905, deixou um legado muito grande e fama de santidade em toda a cidade. Logo após a sua morte, as pessoas já o aclamavam como Santo, pois além de ser padre no “templo”, era padre no meio do povo. Conforme foi dito acima, Padre Victor vivia aquilo que pregava, ensinava como quem tem autoridade, ele ia ao encontro do povo, sobretudo dos excluídos, por isso, essa fama de santidade. Como se diz, Padre Victor foi Santo em vida. Além de ter fundado a escola, edificou um hospital, criou uma banda musical que ele dirigia e anunciava a misericórdia de Deus a todos que se aproximavam dele.
O hospital e a escola que fundou foram presentes para a cidade de Três Pontas, pois por meio deles proporcionou o direito à educação, sobretudo aos filhos de escravos. O hospital favoreceu toda a população, inclusive a menos favorecida, e lutava para que os hospitais pudessem ter aparelhagem para cuidar de todo o tipo de enfermidade.
De minha parte pessoal e de meu ministério episcopal eu convive com os três últimos Bispos da Campanha: o saudoso 5º. Bispo da Campanha, Dom Aloísio Roque Oppermann, SCJ, foi o grande responsável pela abertura do Processo de Beatificação do Beato Padre Victor e da Beata Nhá Chica. O 6º. Bispo da Campanha, Dom Frei Diamantino Prata de Carvalho, OFM, levou a bom termo dois processos de beatificação e presidiu a Santa Missa de Beatificação do Padre Victor. O 7º Bispo da Campanha, Dom Pedro Cunha Cruz, depois de ser meu diligente Bispo Auxiliar, foi nomeado Bispo da Campanha e também concelebrou a Missa de Beatificação. Governando, com sabedoria e diligência, a Sé da Campanha da Princesa segue os passos do beato sacerdote, modelo para todos nós que somos clérigos. Na saudosa memória de Dom Roque e na alegria da missão de Dom Diamantino e de Dom Pedro todos nós queremos nos matricular na luminosa escola presbiteral do Beato Padre Victor.
Celebremos com alegria a memória litúrgica do Beato Padre Victor de Três Pontas, e peçamos a Deus a graça de que tão logo ele seja canonizado pela Igreja e declarado “Santo”. Que ele interceda por cada um de nós e nos ajude a trilhar o caminho da humildade, ajudando sobretudo aos mais humildes.
Oração ao Beato Padre Victor:
“Ó Deus, Vós modelastes o Beato Francisco de Paula Vítor segundo o Coração de Vosso Filho Jesus Pelo bem que fez às crianças e aos pobres, Concedei-nos a virtude da caridade, para amarmos a Vós e aos irmãos e irmãs. Por Cristo, Nosso Senhor. Amém!”
