Bendita és tu, mãe do meu Senhor!

Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)

         Estamos celebrando o último domingo do advento, ou seja, o quarto domingo deste belo tempo e já próximo ao Natal. No tempo de preparação para o Natal (Advento), a Liturgia nos fala e nos ensina por meio de três grandes guias: Isaías, João Batista e Maria; o profeta, o precursor e a mãe. Hoje é a vez de Maria; Ela nos ajuda a intensificar e a concentrar nossa espera: “Aquele que deve vir” já chegou; o mistério escondido desde séculos em Deus (Ef 3,9) faz nove meses se encontra no seio de Maria!

         Se Advento significa espera de Cristo, Maria é a espera em pessoa; a espera teve para ela o sentido realista e delicado que esta palavra tem para cada mulher que espera o nascimento de uma criança. Maria manteve com seu filho uma comunhão ininterrupta de amor, exemplo para cada pessoa que recebeu a Eucaristia.

         A primeira leitura – Mq 5,1-4 – ressalta que “De Belém sairá aquele que dominará Israel: Ele dominará e apascentará com a força do Senhor… e os homens viverão em paz! Ele mesmo será a Paz!”. O Messias é prometido ao “resto do Povo de Israel”, aos pequenos que preservaram sua fé no poder de Deus. Nascerá num “povoado”, mas sua origem é divina e vem dos tempos da eternidade!

Na segunda leitura – Hb 10,5-10 – , que de modo impressionante nos desvela os sentimentos do Filho eterno do Pai no momento da sua Encarnação: Pai, “Tu não quiseste vítima nem oferenda”, “mas formaste-me um corpo”, tu me fizeste humano, deste-me uma natureza humana! Não foram do teu agrado os sacrifícios de animais irracionais, os ritos meramente formais, “por isso eu disse: ‘Eis que eu venho! Eu vim, ó Deus, para fazer a tua vontade’”. Eis o primeiro aspecto que nos é dado hoje meditar! O Filho eterno, igual ao Pai, Deus igual a Deus, luz gerada pela luz, por puro amor, por pura obediência ao Pai que tanto nos amou, dignou-se fazer-se homem! Sem deixar de ser Deus verdadeiro, ele realmente se tornou homem verdadeiro, em tudo igual a nós, menos no pecado.

         Mas, como pode? Como é possível? Aquele que é a luz, assumiu a escuridão humilde do seio materno; Aquele que abarca o universo, foi abarcado pelo útero de uma Virgem; Aquele que é a Palavra eterna do Pai, passou nove meses no silêncio da gestação! Como pode ser? Num mundo que se contenta com fábulas, mitos e lendas, eis uma realidade que nos deixa maravilhados! E tudo isso por nós, para nossa salvação, para nos elevar! Ele veio viver em tudo nossa aventura humana, em tudo, nossas angústias, em tudo, nossas procuras, em tudo, nosso sonho de ser felizes! “É graças a esta vontade que somos santificados pela oferenda do corpo de Jesus Cristo, realizada uma vez por todas!”. O Filho eterno, fazendo-se um de nós, assumindo nosso corpo, isto é, nossa humanidade, nossa história, nossas limitações, foi homem perfeito, perfeitamente dedicado ao Pai, perfeitamente obediente, perfeitamente abandonado nas mãos do Pai, e, assim, nos salvou, mereceu-nos o perdão para a humanidade que Adão havia estragado!

         O Evangelho – Lc 1, 39-48 – narra o encontro de duas mães, que vibram de alegria com a realização das Promessas. Quem aguarda o Salvador, não pode esquecer a sua Mãe. Após a Anunciação, em que deu o seu SIM a Deus, Maria se põe a caminho… e vai às pressas à casa de Isabel. Maria nos ensina o melhor jeito de acolher: estar atento às necessidades dos irmãos, partir ao seu encontro, partilhar com eles a nossa amizade e ser solidário com as suas necessidades.

         Dentro de poucos dias veremos Jesus reclinado numa manjedoura, o que é uma prova de misericórdia e do amor de Deus. Poderemos dizer: “Nesta noite de Natal é star diante dEle; não há nada mais do que Ele na imensidão. Não diz nada, mas está aí… Ele é Deus amando-me. E se Deus se faz homem e me ama, como não procurá-Lo? Como perder a esperança de encontrá-Lo, se é Ele que me procura? Afastemos todo o possível desalento; as dificuldades exteriores e a nossa miséria pessoal não podem nada diante da alegria do Natal que se aproxima.

         “A Virgem Maria é ela mesma o caminho real pelo qual veio a nós o Salvador. Devemos procurar ir ao encontro do Salvador pelo mesmo caminho pelo qual ele veio a nós” (São Bernardo). Haja em cada um de nós a alma de Maria para engrandecer a Deus; esteja em cada um o espírito de Maria para exultar em Deus” (Santo Ambrósio).

         Alegremo-nos todos, pois, o Senhor está chegando e com Ele vem a nossa salvação! Predito pelos profetas, esperado com amor de mãe, pela Virgem Maria, Jesus é anunciado por João Batista. Alegremo-nos, pois, iniciamos a celebração de seu mistério; Ele vem pobre, no meio dos pobres e para nossa salvação!

 

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