Obra indicada: Jonas (Comentário Bíblico Paulinas)

FERNANDES, Leonardo Agostini. Edições Paulinas, São Paulo, SP. 2010. Pp. 47.

Autor (breve apresentação) :

O Professor Leonardo Agostini Fernandes é sacerdote do clero da Arquidiocese do Rio de Janeiro, doutorado em Teologia pela Pontifícia Univesidade Gregoriana (Roma). Leciona Sagrada Escritura na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

Sinopse:

 

Apesar de sua brevidade, o livro de Jonas tem uma longa história de interpretação, a começar por Mt 12,39-41 / Lc 11,29-332, quando Jesus utiliza o “sinal de Jonas” como anúncio do seu destino. Interessou à exegese patrística (especialmente Jerônimo), à exegese alegórica medieval, à poética calvinista do séc. 16 (Agrippa d’Aubigné), à iconografia e ao imaginário cristãos; interessou a Voltaire, a Collodi, Melville e Camus… Mas nunca foi objeto de estudos muito aprofundados em língua portuguesa. Que eu saiba, no Brasil, o estudo mais notório foi a tese de doutoramento em Teologia do Cônego Celso Pedro da Silva (da Arquidiocese de São Paulo) na Universidade Santo Tomás de Aquino (Angelicum, Roma), publicada em 1991 com o título O mal de Nínive.

Causa, portanto, satisfação ver que temos um comentário sobre o profeta. Esta publicação mostra como um texto pode ser pequeno e útil. Tanto o fascinante livro veterotestamentário (com apenas quatro capítulos) quanto o pequeno comentário (47 páginas) do exegeta Prof. Pe. Leonardo Agostini Fernandes.

O livro teve a vantagem adicional de auxiliar as comunidades católicas durante 2010, pois o profeta Jonas foi escolhido pela CNBB para ancorar os estudos do mês de setembro, o mês da Bíblia.

A obra do Prof. Fernandes é dividida em quatro partes. A primeira (p. 9-24) consiste na tradução do texto hebraico, com paralelos bíblicos e notas explicativas, bastante úteis para a intelecção, sobretudo das passagens mais difíceis.

Na segunda parte (p. 25-33) são explicados os elementos que permitem o aprofundamento do texto (cenas, personagens, origem, destinatários, estrutura narrativa, pontos de contato com a literatura profética).

A terceira parte (p.35-40) é de cunho mais teológico, no sentido que o livro de Jonas é lido a partir de percuciente análise do tema da “conversão” (teshuvà, retorno, regresso), lastreado em princípios antropológico e teológico, o que virá a ser o âmago da teologia neotestamentária (o diálogo entre o arrependimento humano e o perdão de Deus), objeto da celebração litúrgica. Tanto da liturgia hebraica (os “dias de teshuvà”, entre o início do ano e o dia das expiações) quanto sobretudo na liturgia cristã, quando Jesus resume a sua mensagem no Pai-Nosso, o Pai que “perdoa as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”, que antecede a nossa Comunhão do Corpo e Sangue de Cristo. Não existe ideologia neste mundo que tenha assumido o princípio do arrependimento-perdão; esse dom só nos vem do Evangelho.

A parte conclusiva (p. 41-44) da obra do Prof. Fernandes colhe frutos de natureza missionária. O livro de Jonas (por ex. 3,3) é visto como oferecendo uma grande abertura à conversão dos pagãos. Apesar de toda a sua situação de opressão, “Nínive era numa grande cidade para Deus”, ou seja, o amor de Deus não é exclusivista, ele está sempre aberto e para Israel e para todos os que se arrependem, como ensinarão os apóstolos Pedro e Paulo.

O Prof. Fernandes termina seu trabalho com sugestões bibliográficas (p.45). Se eu pudesse fazer uma sugestão aos leitores, sugeriria que esse bom comentário bíblico fosse acompanhado da leitura de um maravilhoso texto do Cardeal Carlo Maria Martini (exegeta, arcebispo-emérito de Milão), publicado pela Editora Loyola: Levanta-te, vai a Nínive, a grande cidade. Carta sobre a evangelização das grandes cidades (1992). É também uma pequena obra, mas escrita por um gigante de Fé, ciência e sabedoria, um dos mais lúcidos teólogos e pastores de nosso tempo, dos que mais contribuíram para uma teologia da evangelização das cidades e da cultura.

Partes principais da obra (cf. o índice):

 

  1. Texto, paralelos e comentários
  2. Reflexões sobre o Livro de Jonas
  3. Anexo: A teshuvà, centro da mensagem do Livro de Jonas
  4. Conclusão
Por que essa obra é referencial ou significativa (justificar):

Porque preenche uma lacuna bibliográfica em nossa língua; porque traz subsídios importantes para a reflexão sobre a evangelização da cidade e da teologia da conversão (arrependimento da comunidade/perdão de Deus), bem como perspectivas para a teologia missionária.

Responsável pelas informações (nome- diocese e Instituição em que atua):

– Prof. Domingos Zamagna (São Paulo: EDT, UNIFAI, FAPCOM e Faculdade São Bento)

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