Dom Manoel João Francisco
bispo da Diocese de Cornélio Procópio (PR)
No próximo domingo vamos celebrar a solenidade de Pentecostes, ou seja, da vinda do Espírito Santo sobre os Apóstolos e o início da divulgação da Boa Nova do Evangelho.
Pentecostes é uma festa relacionada com a festa da Páscoa. Pius Parsch, um dos grandes promotores do “movimento litúrgico” que antecedeu o Concílio Vaticano II, em sua obra “No Mistério do Cristo” relaciona Páscoa e Pentecostes com algumas imagens.
“Na Páscoa, o Cristo, o Sol divino, se levantou; em Pentecostes está em seu zênite, aquece, amadurece e traz vida”. “Na Páscoa, o jardim da Igreja está em sua floração mais rica, com os novos batizados e os cristãos renovados; em Pentecostes, as flores se tornaram frutos que enchem os galhos das árvores. O jardineiro é o Salvador, Jesus Cristo, que faz brotar as plantas; o sol que faz amadurecer os frutos é o Espírito Santo”. “Na Páscoa nascemos de novo, como filhos de Deus. Como crianças recém-nascidas, só pedíamos o leite materno da Eucaristia. Crescíamos na casa paterna da Igreja felizes e despreocupados como crianças. Entretanto, chegamos à maturidade. A Igreja, nossa Mãe, não tardou em nos advertir que este feliz tempo passa, que somos na terra como peregrinos e estrangeiros, que nos será necessário sofrer e suportar provações. Em Pentecostes somos declarados maiores. É o que também significa o sacramento da maturidade, a Confirmação”.
A solenidade de Pentecostes é precedida por uma Vigília. No começo da Igreja, nesta vigília eram batizados aqueles que por qualquer motivo não tinham sido batizados na noite da Páscoa. Na liturgia antes da reforma prescrita pelo Concílio Vaticano II, no momento do glória ressoavam todos os sinos como na Vigília da Páscoa. Em muitos lugares este rito foi mantido.
Segundo o relato dos Atos dos Apóstolos, no dia de Pentecostes, diante do grande barulho que se ouviu, uma grande multidão proveniente das mais diversas regiões do mundo, correu em direção do cenáculo, onde estavam os Apóstolos (At 2,1-6).
Todo aquele povo, que ali se reuniu, estava participando da Festa de Pentecostes que os judeus celebravam cinqüenta dias depois da Páscoa para oferecer a Deus as primícias em forma de pão confeccionado com o trigo recém colhido. Esta festa era também chamada “Festa das Semanas” porque Moisés havia determinado que fosse celebrada sete semanas depois da Páscoa (Lv 23,15-17). Mais tarde os Rabinos acordaram que a entrega da Lei por Deus a Moisés no monte Sinai tinha acontecido cinqüenta dias depois da passagem pelo Mar Vermelho. Por isso, Pentecostes, tornou-se também a “Festa da Lei”.
O início da divulgação da Boa Nova do Evangelho aconteceu com a vinda do Espírito Santo sobre os Apóstolos. Por isso, os primeiros cristãos não tiveram dificuldades em ver na Festa de Pentecostes dos judeus uma prefiguração do Pentecostes cristão. Com a vinda do Espírito Santo começou a colheita de novos filhos de Deus.
No século III, Tertuliano que de profissão foi advogado e na comunidade cristã exerceu o ministério de catequista, num texto sobre o Batismo dá esta informação: “O tempo que antecede Pentecostes é o tempo mais favorável para conferir o batismo. Este é o tempo em que o Senhor ressuscitado aparece muitas vezes aos discípulos, o tempo em que lhes foi comunicada a graça do Espírito Santo e se lhes deixou entrever a esperança da volta do Senhor. É no momento depois de sua ascensão aos céus que os anjos disseram aos Apóstolos, que o Senhor voltará como subiu aos céus, isto é, em Pentecostes”.
As Constituições Apostólicas, um texto escrito no século IV, nos dá a seguinte orientação: “Dez dias depois da Ascensão, ou seja, o qüinquagésimo dia depois do primeiro domingo, deve ser para vós uma grande festa; porque neste dia, na hora terceira (nove horas da manhã) o Senhor Jesus nos enviou o dom do Espírito Santo (At 2,4) e nos encheu de sua força. Determina em seguida que a festa se prolongue por uma semana.
Dom Tito Buss, primeiro bispo da Diocese de Rio do Sul (SC) falando a seus fiéis sobre a festa de Pentecoste afirmou: “Quem é guiado pelo Espírito Santo não pode falar mal de Jesus. Quem tem o Espírito de Deus, sempre vai falar bem, sempre vai louvar a Deus. Ninguém pode ver o Espírito Santo porque ele é espírito. Com os olhos do corpo enxergamos as coisas materiais. Não enxergamos o Espírito. Mas, pela conduta, podemos enxergar muito bem qual o espírito que uma pessoa tem. Quem tem o Espírito Santo não anda por aí falando mal e semeando a desunião. Não faz mal aos outros. Sempre que pode, faz o bem”.