Brasil e Somália: os extremos se tocam!

Dom Redovino Rizzardo
Bispo de Dourados (MS)

No dia 6 de janeiro de 2011, o Brasil soube que o programa “Pânico na TV”, da RedeTV!, alcançou o primeiro lugar no 18° “Ranking da Baixaria na TV”, organizado pela Comissão de Direitos Humanos, da Câmara dos Deputados. Outros quatro fizeram parte da lista: “Se liga Bocão”, da TV Itapoan; “Brasil Urgente”, da RedeTV!; “A Fazenda”, da Rede Record; e “Chumbo Grosso”, da TV Goiânia.

Assim, de um ano para cá, o “Pânico” subiu de posição, já que, em 2009, ficara em terceiro lugar (o primeiro coubera ao “Big Brother Brasil”, da Rede Globo, e o segundo, às “Pegadinhas Picantes”, do SBT…).

O ranking aponta os programas de televisão que mais exageram em conteúdos de baixo calão. O balanço leva em conta o número de reclamações feitas por telespectadores. Em 2010, elas somaram 892. As mais comuns se referem a conteúdos de apelo sexual, incitação à violência, apologia ao crime, desrespeito aos valores éticos da família e preconceitos em geral.

A iniciativa faz parte da campanha “Quem financia a baixaria é contra a cidadania”, e tem como objetivo alertar as emissoras, os anunciantes, os telespectadores e o governo sobre os abusos e excessos na programação da televisão brasileira.

Se a sociedade brasileira caminha para o abismo da corrupção e da violência, atingindo sobretudo as famílias e a juventude, isso se deve à perda dos valores éticos e morais que a sustentam, causada, em grande parte, pelos meios de comunicação social.

Enquanto no Brasil tudo parece permitido em nome de uma mal entendida liberdade de expressão, na Somália vigora uma situação inversa. Pelo menos é o que garante uma notícia que ganhou as manchetes da imprensa internacional no dia 9 de janeiro. O grupo terrorista islâmico “Al Shabab”, que domina grande parte do país, proibiu o aperto de mãos entre homens e mulheres, como também conversas e passeios em público entre homens e mulheres sem laços familiares. Quem for flagrado violando a lei, será julgado de acordo com a Sharia. Na melhor das hipóteses, o que lhe caberá é a flagelação em praça pública.

“Para evitar a dissolução dos costumes” – é o pretexto alegado – a maioria das rádios da Somália foi obrigada a suspender a execução de músicas profanas. Quem desobedecer, corre sério risco de vida. Em 2009, foram proibidos filmes e jogos de futebol.

À primeira vista, o Brasil e a Somália parecem distantes anos-luz, tanto que dificilmente se encontrará um brasileiro disposto a se transferir para o país africano. Contudo, o que ambos pretendem é fazer a população regredir à Idade da Pedra: o Brasil, por acreditar que o progresso e o desenvolvimento não se coadunam com os valores morais que a humanidade descobriu e construiu ao longo dos séculos; e a Somália, por infantilizar e escravizar as pessoas, tirando-lhes a liberdade e a autonomia.

No Brasil, é a sociedade inteira que precisa rever sua posição, se ainda acredita num futuro melhor: a indústria e o comércio que, pela ânsia de lucro, transformam o sexo em mercadoria; a mulher que, para atrair e seduzir, não se sabe se acaba mais escrava no Brasil ou na Somália; os meios de comunicação que, no afã de atrair telespectadores, desconhecem limites; e o governo que, com a desculpa de criar uma sociedade “de todos e para todos”, se compraz em quebrar tabus e preconceitos…

Foi o que denunciou Jair Bolsonaro em pronunciamento na Câmara dos Deputados. De acordo com ele, a partir deste ano, o Ministério da Educação difundirá em todas as escolas públicas do país um “kit-gay” para crianças de 7 a 10 anos, destinado a esclarecer – leia-se: incentivar – o homossexualismo e o lesbianismo.

Não é novidade afirmar que um grande número de muçulmanos alimenta uma profunda aversão ao Ocidente – e aos cristãos, que identificam com ele. Essa ojeriza não se fundamenta nas Cruzadas da Idade Média, mas no laicismo e no materialismo da sociedade ocidental, vistos como uma ameaça para o Islã. Mas, se cristãos e muçulmanos deixarem de lado os preconceitos e os radicalismos e unirem suas forças numa nova cruzada contra o relativismo moral e o desmantelamento dos valores éticos, o que eles estarão travando será a primeira guerra realmente santa da história…

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