Caminhos e descaminhos do desenvolvimento humano

Nas décadas passadas, por muitas razões, falava-se do Brasil como o pais da esperança. Não somente porque a maioria da sua população tinha menos de 25 anos, mas também porque eram reconhecidas as potencialidades de que dispunha: recursos naturais e muitas possibilidades de crescimento. Mas faltavam conhecimentos técnicos e maturidade democrática para melhorar os Índices de Desenvolvimento Humano que continuavam teimosamente baixos e para conseguir patamares mais justos de distribuição da renda e dos benefícios da sociedade moderna, que continuavam reservados a poucos.

Nestes últimos anos, acenderam-se novas esperanças de que o futuro estava mais próximo e, finalmente, seríamos o país do presente, da realização das esperanças. A descoberta do pré-sal, a perspectiva de realizar as Olimpíadas no Rio de Janeiro, a simpatia internacional pelo Brasil, entre outras coisas, simbolizam essa aproximação do futuro esperado.

Mas, a dura realidade parece interromper os embalos desse sonho acalentado. O crime organizado prospera e a violência ceifa nossos jovens e adolescentes. O sistema da educação pública não é capaz de dar aos adolescentes pobres a esperança de vida digna e de acesso ao mercado de trabalho, deixando-os no estagio de semi-alfabetizados. O sistema da saúde investe em práticas supostamente modernas de atendimento, mas é sufocado pelo retorno de endemias que deveriam estar erradicadas há tempo, além de outros aspectos igualmente graves.

Esses problemas não passariam de desafios facilmente superáveis se a classe dirigente tivesse uma consciência à altura. Parece ter razão o grande poeta Eliot quando diz que a moderna sociedade secularizada abandonou o verdadeiro Deus tornando-se devota de três divindades: o dinheiro, a luxuria e o poder. Estes parecem ser os parâmetros que orientam a conduta dos dirigentes políticos, dos que comandam a economia, o judiciário e a mídia. Por isso, em todos os âmbitos, observa-se uma defasagem entre os problemas que devem ser enfrentados e a capacidade moral das pessoas responsáveis.

Nota-se grave defasagem entre os desafios e a maturidade da consciência de homens e mulheres que devem enfrentá-los. Emerge um déficit de responsabilidade, a incapacidade a responder à nação. É como se o horizonte banal do pragmatismo mercantilista que não sabe ir além do cálculo do ganho político ou econômico para si e para o próprio grupo tomasse o lugar do ideal da justiça, da dignidade, do bem comum.

Essa circunstância obriga o Brasil a adiar para o futuro, a realização do sonho de um desenvolvimento integral, sustentável, capaz de incluir as faixas pobres da população à vida digna pelo trabalho. O presente continua sombrio. Vamos entrar no guiness por ter o metrô mais curto do mundo e o mais caro. E até a fiscalização do uso de verbas públicas, que procura limitar a forte evaporação dos recursos, será amenizada para a farra continuar.

“O desenvolvimento é impossível sem homens retos, sem operadores econômicos e homens políticos que sintam intensamente em suas consciências o apelo do bem comum. São necessárias tanto a preparação profissional como a coerência moral”. São palavras da carta encíclica Caritas in Veritate, de Bento XVI sobre o desenvolvimento humano. O documento continua: “Freqüentemente o desenvolvimento dos povos é considerado um problema de engenharia financeira, de abertura dos mercados, de redução das tarifas aduaneiras, de investimentos produtivos, de reformas institucionais; em suma, um problema apenas técnico.” (n. 71).

É necessária uma reforma moral que atinja cada pessoa, em todos os níveis da responsabilidade social. Para isso, as devoções modernas devem ser deixadas de lado, para que cada um possa re-encontrar a fonte do bem, a nascente da dignidade, a origem do ideal em Jesus Cristo e no seu Evangelho.

Com efeito, a verdadeira responsabilidade começa quando a pessoa, reconhecendo esta nascente de dignidade e de paz, de justiça e de bem diz: Tu. Tu, Senhor.  Eu Te respondo. Com minhas ações, com meus planos e projetos, eu Te respondo.

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