Na manhã desta última segunda-feira (6), a Caravana do Semiárido contra a Fome se encontrou com o secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Leonardo Steiner e o assessor da Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Social Transformadora da CNBB, frei Olávio Dotto, na sede da entidade, em Brasília (DF).
Na pauta do encontro, o grupo dialogou sobre os riscos de o Brasil voltar ao Mapa da Fome da Organização das Nações Unidas (ONU); discutiram possíveis alternativas menos restritivas de direitos; sobre a violação de direitos humanos e retrocessos sociais em razão da politica de austeridade fiscal adotada pelo Governo Federal e a fragilidade do processo democrático no Brasil.
Segundo Cícero Félix, integrante da ASA, a população está sofrendo duras consequências, no centro das políticas econômicas austeras adotas pelo Governo. Cícero lembrou sobre Censo Agropecuário, Florestal e Aquícola 2017, em que se ouviu de muitas famílias: “Hoje não acendi o fogo, não tem o que colocar na panela”. Cícero lembrou que “de 2014 a 2016, o número de pessoas em extrema pobreza no Brasil saltou de pouco mais de 5,162 milhões para quase 10 milhões, o que ratifica o risco de o país retroceder na missão de erradicar a pobreza. Os números só não foram piores porque as regiões Norte e Nordeste, que historicamente abrigavam as populações mais carentes, conseguiram manter um equilíbrio, graças aos investimentos recebidos por meio de ações como o Programa de Cisternas, Bolsa Família, Seguro Safra e aposentadoria rural”, apontou Cícero.
Dom Leonardo lembrou que, em seu trabalho pastoral com as pessoas em situação de rua em Brasília, percebe-se visivelmente o aumento de pessoas que estão vivendo essa realidade. “Quando comecei acompanhar o grupo, era em torno de 20 pessoas hoje é mais de 100”, conta. O secretário geral da CNBB disse que o movimento crescente que havia no passado e que marcou uma presença muito forte na sociedade diminuiu muito e diante das dificuldades (econômicas, políticas e sociais) ele disse ser importante que os movimentos sentem juntos, discutam e aprofundem e façam propostas porque foi disso que nasceu a Constituição em 1988.
A CF, na avaliação do religioso, é fruto da colaboração enorme de tantos movimentos e de tantos grupos e passa por modificações em vários artigos a questão do cuidado com os pobres. Como exemplo, ele citou o que vem acontecendo com os povos indígenas, quilombolas, com os pobres. “Nós ainda não temos um movimento mais consistente. É preciso ir mais”, indicou dom Leonardo.
Cristina Nascimento, da ASA, ressaltou a importância da CNBB receber a Caravana, pois segundo ela a pauta se fortalece. E narra que a Caravana surgiu da necessidade de expressar à sociedade brasileira o retorno da fome no Brasil, “pois concretamente a gente vê a fome, a miséria, a pobreza nas ruas, nos semáforos, na área rural”, disse.
Cristina também lembra que “a Caravana não é só denunciar, mas também anunciar. Denunciamos a fome, mas anunciamos os caminhos que construímos, como os programas de cisternas, os processos de comercialização dos produtos da agricultura familiar, a agroecologia, isso como saída para a superação da fome”, enfatiza Cristina.
Como encaminhamentos, Cícero Félix entregou a dom Leonardo o Documento da Caravana que apresenta dados sobre o aumento da situação de miséria no país. O documento foi protocolado na tarde desta terça-feira (7) no Supremo Tribunal Federal (STF). Dom Leonardo disse que vai apresentar o documento ao presidente da CNBB, cardeal Sergio da Rocha e também se dispôs a iniciar um diálogo com os bispos do Nordeste, uma vez que Caravana é da região.
Caravana do Semiárido contra a Fome
A caravana, liderada pela Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) saiu da cidade de Caetés (PE) no dia 27 de julho e chegou em Brasília nesta segunda-feira, 6 de agosto. A Caravana percorreu mais de 4 mil quilômetros para denunciar o crescimento da miséria no país e pedir o retorno de políticas públicas inclusivas, passando por Feira de Santana (BA), Belo Horizonte (MG), Guararema (SP), Curitiba (PR) e, por fim, Brasília (DF).
Por Osnilda Lima – Rede Cáritas de Comunicação