Carnaval: tempo de folia e samba no pé

Dom Roberto Francisco Ferreria Paz
Bispo  de Campos (RJ)

Nunca se soube o exato momento que a palavra latina “carne levare”, que significa abstenção de carne, passou para o dialeto milanês expressando “carnevale”, ou seja, “adeus carne”, denotando já o sentido do carnaval, tempo anterior ao adeus à carne que é a quaresma cristã. Percebe-se a raiz cristã das “carnestolendas”, e a sabedoria de alternar trabalho e festa, ócio e negócio, riso e silêncio.

O cristianismo continuador da tradição judaica não reprime aquilo que está na própria constituição humana, o sentido lúdico (brincalhão) desenvolvido por Huizinga, o sentido festivo e espontâneo de celebrar a vida (profundamente bíblico) e o sentido risonho ou humorista da existência, tratado por muitos autores como Santo Tomás de Aquino. É verdade que a Igreja muitas vezes, como no caso de São Carlos Borromeu, tratou de corrigir os excessos e acompanhar os fiéis com uma Pastoral do Carnaval, atitude prudente e cautelar.

Mas, o abuso não invalida o uso certo e adequado, que se verifica na maioria dos carnavalescos, simples e populares, que sabem pular com alegria, como João Batista, de uma forma familiar e solidária, esbanjando entusiasmo e movimento. Os blocos, diversos e variados, possibilitam uma confraternização ritmada com a dança e as marchinhas singelas e sempre vibrantes.

O Carnaval está entranhavelmente ligado à formação cultural do brasileiro, e junto à cordialidade, à alegria e à esperança de dias melhores, nos ensina a jinga com que devemos enfrentar os desafios da vida. Como cristãos, estaremos atentos à saúde e riscos das pessoas ao nosso redor, cuidando da sua hidratação, de evitar brigas e provocações, de conduzir aqueles irmãos que se excederam na bebida, sempre agindo com a ternura e a compaixão de quem ama e respeita o próximo.

O Carnaval, como a Festa dos loucos na Idade Média, estudada por Harvey Cox, mostra que a folia pode descortinar e empoderar sonhos coletivos de mudança para tornar a vida mais inteira, bela, justa e fraterna, incluindo a todos/as no banquete do Reino anunciado por Jesus. Que o Pai das Misericórdias, que é amor e humor, nos conceda um Carnaval alegre, solidário, jubiloso e criativo. Deus seja louvado!

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