Carta final da 22ª Assembleia do Instituto Mariama

Encerrou-se no dia 30, na cidade de São João del Rei (MG), a 22ª Assembleia do bispos, padres e diáconos negros. O encontro teve como tema principal de reflexão a contribuição dos artistas negros na arte sacra tendo como referencia o estado de Minas Gerais. Além do estudo do tema, os participantes visitaram as igrejas da cidade de São João del Rei e Tiradentes (MG), tomando conhecimento das expressões artísticas.

Leia a íntegra da carta escrita ao final do encontro.

MENSAGEM DA 22ª ASSEMBLEIA DO IMA

Nós, bispos, presbíteros e diáconos do Instituto Mariama, reunidos na XXII assembléia, em São João Del Rei, nos dias 26 a 30 de julho do corrente ano, refletimos sobre a contribuição dos nossos Antepassados na arte-sacra, a partir de Minas Gerais.

Num clima de intensa fraternidade e partilha, com irmãos vindos dos mais diferentes Estados do Brasil, trouxemos inquietações a respeito da causa do nosso povo negro e da postura do presbítero negro em meio a esta realidade tão desafiadora. Faz parte da opção que fizemos, como Igreja, identificarmo-nos com a realidade do nosso povo, fazendo valer direitos, superando preconceitos e promovendo a vida. Assim acreditamos contribuir na construção de uma sociedade mais justa e solidária, sinal do Reino de Deus.

O professor, historiador e especialista em arte sacra, Antonio Gaio Sobrinho, em sua brilhante reflexão, nos ajudou a perceber que, embora não seja tarefa muito fácil encontrar referências documentais sobre a contribuição dos negros na arte sacra, sabemos que trouxeram da África técnicas, habilidades, saberes e conhecimentos artísticos, que aqui foram utilizados e ressignificados. Muitos negros e mulatos se distinguiram como mestres em diferentes artes. Citamos: Aleijadinho, Aniceto de Sousa Lopes, Venâncio do Espírito Santo, João da Mata, Ireno Batista Lopes, Luiz Batista Lopes, Monoel Dias de Oliveira e Pe. José Maria Xavier. Isso leva a crer que, mesmo diante do ocultamento histórico, os artistas negros conseguiram imprimir seus traços no embelezamento e na riqueza cultural e religiosa do nosso país.

Sobre isso, vale lembrar o que disse o saudoso papa João Paulo II, escrevendo aos artistas em 1999: “Através das obras realizadas, o artista fala e comunica com os outros. Por isso, a história da arte não é apenas uma história de obras, mas também de seres humanos. As obras de arte falam dos seus autores, dão a conhecer o seu íntimo e revelam a contribuição original que eles oferecem à história da cultura”.

A espiritualidade do encontro nos levou a participar na vida das comunidades que nos acolhiam e, assim, auxiliados por D. Zanoni, e pelo Documento de Aparecida, aprofundamos a dimensão da missionariedade, no desejo de crescermos na comunhão e na participação em uma Igreja, chamada a deixar a pastoral da conservação para ir ao encontro das pessoas em sua realidade concreta. Este passo deve ser dado a partir do reencantamento com a pessoa de Jesus Cristo, como seus verdadeiros discípulos missionários.

Não podemos deixar de registrar a grande perda que tivemos recentemente, com o falecimento dos nossos quilombolas, Pe. Getúlio, liturgista, e Pe. Antônio Aparecido da Silva (Pe. Toninho), grande incentivador da caminhada da pastoral afro e co-fundador do Instituto Mariama. Teólogo de grandeza que, com sua simpatia e simplicidade, nos ajudou na construção de um pensar teológico negro. Ecoa em nossos corações um de seus dizeres: “sozinhos, morremos, juntos viveremos”.

Bendizemos ao Deus da vida, Criador de todas as coisas, pelo testemunho de tantos negros e negras, que investem o melhor de suas forças para maior dinamicidade na evangelização da Igreja. Diante de forças que negam vida plena aos negros e negras na sociedade, nós ministros ordenados, na medida em que assumimos, com consciência, a nossa negritude, explicitamos melhor a identidade da nossa Igreja, marcada, desde o seu nascimento, pela diversidade cultural, num discipulado reparador, missionário e dialogante. Fazemos isto iluminados pelo Documento de Aparecida, que afirma: “A Igreja, com a sua pregação, vida sacramental e pastoral, precisará ajudar para que as feridas culturais injustamente sofridas na história dos afro-americanos, não absorvam nem paralisem, a partir do seu interior, o dinamismo de sua personalidade humana, de sua identidade étnica, de sua memória cultural, de seu desenvolvimento social nos novos cenários que se apresentam” (DAp, n. 533).

Sob a proteção da Negra Mariama, convidamos a todos para o próximo encontro na diocese de São Mateus – Espírito Santo, de 25 a 29 de julho.

Com a força e inspiração do Espírito Santo!

Instituto Mariama!

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