Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)

Com a missa vespertina da Ceia do Senhor iniciamos o Tríduo Pascal: Páscoa da Ceia do Senhor, Páscoa da morte na Cruz, Páscoa da Ressurreição. Iniciamos com o sinal da cruz na quinta-feira santa e concluímos com a bênção final após a vigília Pascal. É uma grande celebração em três momentos e dias.

A liturgia da Quinta-feira Santa é um convite a aprofundar concretamente no mistério da Paixão de Cristo, já que quem deseja segui-lo deve sentar-se à sua mesa e, com o máximo recolhimento, ser participante da memória que atualiza tudo o que aconteceu na noite em que iam entregá-lo. Será a primeira vez que os fiéis irão celebrar a Missa de Instituição da Santa Eucaristia de suas residências, como igrejas domésticas, onde irão, de maneira excepcional, fazer a sua comunhão espiritual como pede o Santo Padre o Papa Francisco. Com as nossas orações e sacrifícios, em breve, iremos poder o quanto antes participar e receber o Corpo e Sangue do Senhor!

“Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que tinha chegado a sua hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim”(cf. Jo 13,1).

Esta é a tarde que faz memória da Ceia Pascal de Jesus. Aquilo que o Senhor realizou durante toda a vida e consumou na cruz – isto é, sua entrega de amor total ao Pai, por nós, Ele quis nos deixar nos gestos, nas palavras e nos símbolos da Ceia que celebrou com os seus. Naquela Mesa santa do Cenáculo, estava já presente, em símbolos e gestos, a entrega amorosa do Calvário. Era em família que os judeus celebravam o Banquete pascal… Jesus celebrou com seus discípulos, conosco, sua família: “Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim,” até o extremo de entregar a vida, pois “não há maior prova de amor que entregar a vida pelos amigos” (cf. Jo 15,13).

          São Paulo (cf. 1Cor 11,23-26) fala que lembrando a todas as comunidades cristãs o que ele mesmo recebeu: que aquela memorável noite a entrega de Cristo chegou a fazer-se sacramento permanente em um pão e em um vinho que convertem em alimento seu Corpo e seu Sangue para todos os que se reúnem em seu nome enquanto esperam sua vinda no final dos tempos, ficando assim instituída a Eucaristia.

          Esta é a tarde que faz memória da Ceia Pascal de Jesus. Aquilo que o Senhor realizou durante toda a vida e consumou na cruz – isto é, sua entrega de amor total ao Pai, por nós – , Ele quis nos deixar nos gestos, nas palavras e nos símbolos da Ceia que celebrou com os seus. Naquela Mesa santa do Cenáculo, estava já presente, em símbolos e gestos, a entrega amorosa do Calvário.

          A Eucaristia é o sacramento que sintetiza e resume todos os mistérios da vida de Jesus Cristo, máxime o seu Mistério Pascal (Paixão, Morte e Glorificação). Este sacramento permanece para que nós possamos entrar em contato com quem realmente nos salvou com seu poder e com suas obras poderosas: Jesus.

          A Santa Eucaristia contém todo o bem espiritual da Igreja, o próprio Cristo, o Pão vivo. Através da Eucaristia, entramos em comunhão com Deus, com a Igreja e com nossos irmãos. A Eucaristia é o sacrifício do Corpo e do Sangue do Senhor Jesus, que Ele institui para que fosse celebrado até o fim dos tempos. Na Eucaristia se explicita o sacrifício de Cristo na Cruz, onde o Senhor se oferece por nossos pecados. Cada vez que se celebra uma Eucaristia é como se abrisse uma janela no tempo e se repetisse aquele ato de entrega de Cristo na Cruz.

          A Santa Missa é a celebração do tríduo pascal a inicia pela Ceia do Senhor na qual Jesus, nesse dia na véspera da sua paixão, “enquanto ceava com seus discípulos tomou pão…” (cf. Mt 26, 26). Ele quis que, como em sua última Ceia, seus discípulos se reunissem e se recordassem dEle abençoando o pão e o vinho: “Fazei isto em memória de mim” (cf. Lc 22,19).

          Antes de ser entregue, Cristo se entrega como alimento. Entretanto, nesta Ceia, o Senhor Jesus celebra sua morte: o que fez, o fez como anúncio profético e oferecimento antecipado e real da sua morte antes da sua Paixão. Por isso “quando comemos deste pão e bebemos deste cálice, proclamamos a morte do Senhor até que ele volte” (cf. 1Cor 11, 26).

          Assim podemos afirmar que a Eucaristia é o memorial não tanto da Última Ceia, e sim da Morte de Cristo que é Senhor, e “Senhor da Morte”, isto é, o Ressuscitado cujo regresso esperamos de acordo com a promessa que Ele mesmo fez ao despedir-se: “Um pouco de tempo e já não me vereis, mais um pouco de tempo ainda e me vereis” (cf. Jo 16, 16).

          Nesta celebração vimos o que o Senhor fez pelos seus, e o que Ele fez pode resumir-se nestas breves palavras de São João: “amou-os até o fim” (cf. Jo 13, 1). Este é um dia especialmente apropriado para meditarmos nesse amor de Jesus por cada um de nós e no modo como estamos correspondendo.

          Algumas observações litúrgicas para estes tempos excepcionais: “Quinta-feira Santa: O rito do lava-pés, já opcional, é omitido. No final da Missa na Ceia do Senhor, a procissão também é omitida e o Santíssimo Sacramento é mantido no tabernáculo. Neste dia, os padres recebem excepcionalmente a faculdade de celebrar a missa, sem a participação popular, em um local adequado.”

Nesse tempo de sofrimento e de dor possamos genuflexos rezar: “Graças e louvores se deem a cada momento! Ao Santíssimo e Diviníssimo Sacramento!” Que o Senhor conceda a cura para o Corona vírus para que, novamente, em comunidade eclesial paroquial possamos logo nos reunir para receber o Corpo e o Sangue do Senhor, que está no meio de nós!

 

Tags:

leia também