Está no Supremo Tribunal Federal uma ação de inconstitucionalidade contra a permissão do uso de células-tronco embrionárias para pesquisa a ser julgada em Março. Células-tronco são células com capacidade de se transformarem nos mais diversos tecidos do corpo humano. Pesquisas com estas células, quando adultas, merecem o apoio de todas as instituições que lutam pela melhoria das condições de vida da humanidade. A Igreja apóia todas as iniciativas de pesquisa com esse tipo de células.
A Igreja não pode, entretanto, concordar com a destruição de embriões humanos com a finalidade de utilizar suas células para pesquisa mesmo que se alegue um objetivo terapêutico.
A Igreja é absolutamente radical na defesa da vida. Ela julga um profundo desrespeito à vida a produção de embriões em laboratório. A justificativa para tal procedimento é o desejo do casal de ter um filho. É verdade que quem se casa tem o dever de gerar filhos, em número que puder educar, levando também em conta a questão populacional. É por ter esse dever que o casal tem o direito de gerar filhos e a obrigação conseqüente de educá-los. Geram-se filhos para que participem da felicidade de viver aqui e para a eternidade. O filho não é para fazer os pais felizes. Os pais felizes devem fazer filhos e fazê-los felizes. Conheço casais que adotaram filhos e os fazem muito felizes e nisso são felizes. Em nosso mundo a felicidade se tornou uma obsessão. Talvez porque se tenha ausentado de muitas vidas e se tenha perdido o caminho de encontrá-la. Escutamos sempre de novo: “eu tenho o direito de ser feliz”. E em função desse direito, para encontrar a felicidade, as pessoas se casam. Como se casam pensando que a felicidade chega de fora, com o tempo se separam. Não há ninguém no mundo que possa substituir-nos na busca de sermos felizes. Houve alguém que disse: “amar não é ficar um olhando para o outro, mas os dois olharem na mesma direção”. É preciso projeto de vida a dois. Antigamente se casava para constituir família. Hoje se casa para ser feliz: “o outro vai me fazer feliz”. Pode ser que filho atrapalhe. Já há casais que excluem a geração de filhos ou a adiam indefinidamente por terem sempre uma meta profissional a ser alcançada. Já vi casamentos acabarem por causa desse adiamento sem fim. Mas, se parecer que aquele pequeno – ou grande – vazio de felicidade na vida do casal é a falta do filho, aí, sim, decide-se a ter o filho. O filho vem em função da felicidade do casal ou de um dos dois. Houve uma apresentadora de programa de TV que disse querer ter um filho que fosse só dela. Não se casou, arranjou um… que horror! Não consigo escrever a palavra que me vem à mente. Para a Igreja uma união de homem e mulher que exclui a possibilidade de ter filhos é matrimônio nulo, ou seja, não é matrimônio. Os que se casam de verdade devem ter um projeto de vida comum que os realize como seres humanos e nesse projeto devem estar os filhos, que haverão de colher deles o alimento-amor que os fará crescer e igualmente encontrar o caminho da felicidade. Se não puderem ter filhos haverão de juntos participar da construção da comunidade humana também adotando filhos biológicos de outros. O ser humano é feliz quando consagra sua vida à construção da comunidade humana. Ser feliz é experimentar que se vive com sentido e que se tem algo a que consagrar a própria vida. Sem um ideal maior nada em nossa vida se sustenta.
Houve uma mulher nos EE.UU. que, através de reprodução assistida, teve implantados quatro embriões em seu útero. Deveriam ser em número de dez os embriões congelados para esse fim. Seis ficaram no laboratório, proibidos de continuarem o desenvolvimento começado. Os outros quatro, superando todas as expectativas, nidaram e retomaram seu desenvolvimento. Era preciso fazer a redução embrionária, pois quatro bebês de uma só vez faziam da gravidez uma gravidez de risco. E agora? Quais ou qual eliminar? Quem vou escolher para viver? De qual deles tirarei a chance de sugar meu peito e receber o calor de meus braços? Perguntava-se a mãe. Decidiu-se por levar a gestação dos quatro adiante. Eles vieram à luz. Louvado seja Deus! Só então ela se perguntou – aqui é imaginação minha – e os outros seis embriões que ficaram lá no laboratório? Seria horrível e repugnante para a mulher pedir que os jogassem no vaso sanitário e dessem descarga. Tentaram tranqüilizar sua consciência dizendo a ela que seriam aproveitados para experiência com células-tronco e que muitas vidas seriam salvas no futuro. Podem criticar a Igreja com os adjetivos que quiserem, mas reconheçam que sua posição é defesa da sacralidade da vida que não pode ser manipulada sob o pretexto de dar felicidade a quem quer que seja. Uma pergunta final: que tal se o Congresso Nacional instituísse a pena de morte que determinasse também que os órgãos dos sentenciados fossem todos aproveitados para transplante? Algum leitor poderá dizer que são situações diferentes. È verdade, mas será que não tem nenhuma semelhança? “Escolhe, pois, a vida”.
