Há 45 anos, por ocasião da Quaresma, a CNBB promove a Campanha da Fraternidade. No presente a temática versa sobre Fraternidade e Segurança Pública. O lema define os objetivos e o roteiro da Campanha, baseado na Palavra de Deus, assegurando que “A Paz é fruto da Justiça” (Cf. Isaías 32, 17). O objetivo visado é o envolvimento da Igreja e demais entidades, reconhecidamente respeitadas pela missão promotora da justiça e da paz.
A missão específica da Igreja é testemunhar que os valores humanos e cristãos, efetivamente, corroborem para a edificação da civilização do amor, da justiça, da paz. À Igreja cabe evangelizar, formando discípulos de Jesus Cristo. Como Ele, os cristãos tentam ilustrar os valores humanitários, evangélicos, onde vivem e convivem. Assim, as dimensões espirituais se encarnam na realidade do dia a dia dos relacionamentos familiares e sociais.
Como fazer para que os valores espirituais se encarnem na vida do dia a dia das pessoas e das realidades temporais? Vejamos. Cada instituição conserva a sua autonomia nas realidades distintas, porém tem em comum a experiência vital de muitos valores humanitários, cultivados por uma sadia espiritualidade. Ao afirmar com convicção que a paz é fruto da justiça, a Igreja se integra às demais instâncias que se empenham efetivamente numa cultura de paz. Trata-se, pois, de nos capacitar para promover em todo tempo e lugar atividades que conduzam à paz duradoura e benfazeja.
A Igreja se oferece para colaborar na construção de uma sociedade menos violenta e mais fraterna, convidando as demais Igrejas e representações significativas da sociedade para a mesma tarefa. Evidentemente, a segurança pública incumbe ao Estado, não à Igreja. Como reza a Constituição Federal, os direitos e deveres dos cidadãos, praticamente, conservam conhecido prefixo: “saúde, educação, segurança (etc.) são direitos do cidadão e são deveres do Estado”. Perguntemos, pois, quais são as condições que possuímos como cidadãos e cidadãs de bem, colaborando com a segurança pública.
Na verdade nos sentimos condicionados pela violência estrutural. Estamos envoltos num contexto de violência. O que fazer e como fazer para reverter o clima de violência? Eis a temática anunciada: Fraternidade e Segurança Pública. Fixemos dois pólos que fundamentam a violência. O primeiro pólo é a perda dos valores éticos e morais. O segundo pólo é o crime organizado, qual polvo de mil tentáculos lançando-os em todas as direções e lucrando êxito pela corrupção em todas as esferas sociais…
Na tentativa de soluções a curto prazo parece urgente a organização de polícia comunitária nos bairros, orientando os moradores a colaborar para a prevenção do crime (organizado ou não). Movimentações suspeitas poderiam ser denunciadas através de um “0800”. A capacitação de adolescentes e jovens em vista de sua profissionalização fortalece os vínculos familiares e sociais, sem que fique à toa uma massa de desocupados. A definição de critérios de horários, de serviços, de funcionamento de bares, casas de shows, points (etc.), descriminando e restringindo o uso e abuso de drogas, incluindo bebidas alcoólicas de fácil acesso, certamente contribuiria para a diminuição da violência e do narcotráfico. São medidas possíveis. (voltaremos ao assunto)