Cardeal Orani Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
Depois de dois anos em celebrações mitigadas, chegamos, neste ano, com a possibilidade de celebrar, mesmo com as precauções necessárias, a semana santa completa em nossas comunidades. A Semana Santa é o grande retiro espiritual das comunidades eclesiais, convidando os cristãos à conversão e renovação de vida. Ela se inicia com o Domingo de Ramos e se estende até o Domingo da Páscoa. É a semana mais importante do ano litúrgico, quando se celebram, de modo especial, os mistérios da paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo.
No domingo de Ramos concluiremos a Campanha da Fraternidade com a grande coleta da solidariedade. Na quinta-feira santa concluiremos a quaresma e iniciamos à tarde o grande tríduo pascal. E com o tríduo pascal abrimos o grande tempo da Páscoa. Tudo dentro dessa importante semana quando celebramos o mistério central de nossa fé: o mistério pascal.
DOMINGO DE RAMOS E A PAIXÃO – A celebração desse dia lembra a entrada de Jesus em Jerusalém, aonde vai para completar sua missão, que culminará com a morte na cruz. Os evangelhos relatam que muitas pessoas homenagearam Jesus, estendendo mantos pelo chão e aclamando-o com ramos de árvores. Por isso, hoje os fiéis carregam ramos, recordando o acontecimento. Imitando o gesto do povo em Jerusalém, querem exprimir que Jesus é o único mestre e Senhor. Depois de termos recebido as cinzas dos ramos do ano passado ao iniciar a quaresma, agora recebemos novos ramos para aclamar neste ano Cristo como Senhor de nossas vidas. Depois é o domingo da Paixão, pois lemos também o texto da Paixão de Cristo segundo São Lucas.
SEGUNDA A QUARTA-FEIRA SANTA – Nestes dias, a liturgia apresenta textos bíblicos que enfocam a missão redentora de Cristo. Não há nenhuma celebração litúrgica especial, mas nas comunidades paroquiais, é costume realizarem atos devocionais como procissões, vias-sacras, celebrações penitenciais e outras, procurando realçar o sentido da Semana Santa. Na segunda-feira, é costume ter a Procissão do Depósito. Na terça-feira, a Procissão do Encontro de Nossa Senhora com o Senhor dos Passos, carregando a cruz rumo ao calvário. Na quarta-feira, iremos contemplar as Dores da Virgem Santíssima, com a procissão e o Sermão de Nossa Senhora das Dores. Além disso há espaço para o Ofício das Trevas, Sermão das 7 palavras e outros atos.
TRÍDUO PASCAL – Antes de iniciar o Tríduo Pascal, na manhã de quinta-feira, às 9h, na Catedral Metropolitana de São Sebastião, presidirei a missa de consagração do óleo do Crisma e a bênção dos óleos dos catecúmenos e dos enfermos. Renovaremos as promessas do dia de nossa ordenação sacerdotal. É a manhã da unidade diocesana, em que todos somos convidados a rezar pelos padres e sua importante missão.
O ponto alto da Semana Santa e da liturgia da Igreja é o Tríduo Pascal (ou Tríduo Sacro), que inicia com a missa vespertina da Quinta-Feira Santa e conclui com as Vésperas do Domingo, tendo a centralidade na Vigília Pascal no Sábado Santo que se inicia ao entardecer e se estende até a madrugada do Domingo. Os três dias formam uma só celebração, que resume todo o mistério pascal. Por isso, nas celebrações da quinta-feira à noite e da sexta-feira não se dá a bênção final. Ela só será dada, solenemente, no final da Vigília Pascal.
QUINTA-FEIRA SANTA – Neste dia, celebra-se a instituição da Eucaristia e do sacerdócio ministerial. A Eucaristia é o sacramento do Corpo e Sangue de Cristo, que se oferece como alimento espiritual. De manhã, só há uma celebração, a Missa do Crisma que, na nossa Arquidiocese, é sempre às 9h. Nesta Missa do Crisma, acontecem as bênçãos dos óleos: dos catecúmenos e enfermos. E tem a consagração do óleo do santo Crisma.
Na quinta-feira à noite, acontece a celebração solene da missa em que se recorda a instituição da Eucaristia e do sacerdócio ministerial. Nessa missa, realiza-se a cerimônia do lava-pés, em que o celebrante recorda o gesto de Cristo que lavou os pés dos seus apóstolos. Esse gesto procura transmitir a mensagem de que o cristão deve ser humilde e servidor.
Nessa celebração, também se recorda o mandamento novo que Jesus deixou: “Eu vos dou um novo mandamento, que vos ameis uns aos outros assim como Eu vos amei.” Comungar o corpo e sangue de Cristo na Eucaristia implica a vivência do amor fraterno e do serviço. Essa é a lição da celebração.
SEXTA-FEIRA SANTA – A Igreja contempla o mistério do grande amor de Deus pelos homens. Ela se recolhe no silêncio, na oração e na escuta da palavra divina, procurando entender o significado profundo da morte do Senhor. Neste dia não há missa. À tarde, às 15h, acontece a celebração da Paixão e Morte de Jesus, com a proclamação da Palavra, a oração universal, a adoração da cruz e a distribuição da sagrada comunhão. Na primeira parte, são proclamados um texto do profeta Isaías sobre o Servo Sofredor, figura de Cristo, outro da Carta aos Hebreus, que ressalta a fidelidade de Jesus ao projeto do Pai, e o relato da paixão e morte de Cristo do evangelista João. São três textos muito ricos e que se completam, ressaltando a missão salvadora de Jesus Cristo. O segundo momento é a Oração Universal, compreendendo diversas preces pela Igreja e pela humanidade. Aos pés do Redentor imolado, a Igreja faz a sua súplica confiante. Depois, segue-se o momento solene e profundo da apresentação da Cruz, convidando todos a adorarem o Salvador nela pregado: “Eis o lenho da Cruz, do qual pendeu a salvação do mundo. – Vinde adoremos”. Neste ano, ao nos aproximarmos da Cruz faremos um gesto à distância devido ainda ao momento de pandemia. E o quarto momento é a comunhão. Todos revivem a morte do Senhor e querem receber seu corpo e sangue. É a proclamação da fé no Cristo que morreu, mas ressuscitou. Nesse dia, a Igreja pede o sacrifício do jejum e da abstinência de carne, como ato de homenagem e gratidão a Cristo, para ajudar-nos a viver mais intensamente esse mistério, e como gesto de solidariedade com tantos irmãos que não têm o necessário para viver.
Na parte da noite, sempre temos o Sermão do Descendimento da Cruz e a procissão com o corpo de Jesus morto pelas ruas de nossas cidades!
Mas a Semana Santa não se encerra com a sexta-feira, mas no dia seguinte quando se celebra a vitória de Jesus. Só há sentido em celebrar a cruz, quando se vive a certeza da ressurreição.
VIGÍLIA PASCAL – Sábado Santo é dia de silêncio e de oração. Também não temos a celebração dos sacramentos. Temos a oportunidade de rezar a liturgia das horas. A Igreja permanece junto ao sepulcro, meditando no mistério da morte do Senhor e na expectativa de sua ressurreição. Durante o dia, não há missa, batizado, casamento, nenhuma celebração. Na parte da manhã, temos a possibilidade de celebrar o Ofício das Trevas.
À noite, a Igreja celebra a solene Vigília Pascal, a “mãe de todas as vigílias”, vivenciando a ressurreição de Cristo, sua vitória sobre o pecado e a morte. A cerimônia é carregada de ricos simbolismos que nos lembram a ação de Deus, a luz e a vida nova que brotam da ressurreição de Cristo. É o momento de nossa renovação das promessas batismais.
DOMINGO DA PÁSCOA – No domingo da Páscoa do Senhor, dia da vitória sobre o pecado e a morte em que Cristo Ressuscita para a nossa salvação, celebramos a festa da Ressurreição, a maior solenidade de nossa fé que se estenderá por 50 dias iniciando com a oitava da páscoa. Essa festa repercute cada dia e cada momento de nossa vida cristã. Vivamos, com intensidade, a Semana Santa! Este é o momento de retomarmos, depois de dois anos da pandemia da Covid-19, as celebrações da Semana Santa servem para testemunhar o Ressuscitado nesta grande cidade! Uma Santa Semana para todos!