Dom Pedro Cipollini
Bispo de Santo André (SP)

 

Frequentemente nos perguntamos pelo futuro das cidades. Como será a cidade de amanhã? Oitenta por cento da população brasileira já vive na cidade, não somos mais um pais rural. 

O desenvolvimento tecnológico, o progresso científico, a inteligência artificial estão aí para nos fazer sonhar e vislumbrar um novo mundo, que vai se formando com a mudança de época que vivemos. Porém uma pergunta se impõe: por que não nos tornamos mais humanos, como se deveria esperar de uma cidade, que surge como desejo de viver em comunidade, perto dos outros, para fazer crescer a sociedade em todos os seus âmbitos? 

O aparecimento das cidades introduziu profundas modificações na vida da humanidade. As comunidades no início eram fundadas em relações de parentesco e organizadas à base de costumes e tradições comuns. 

Passando por muitas crises e enfrentando graves problemas de todo tipo, podemos concluir que a partir de certas dimensões a cidade se torna mortal, veja o caso da poluição e violência,  por exemplo. Por outro lado é nas cidades que se fortalecem os movimento em favor da liberdade, se elaboram o pensamento e leis que inspiram e possibilitam as grandes transformações sociais. 

Mas o que mais preocupa é que nas cidades avançam os processos de secularização e erosão dos padrões éticos e morais, em que pese os movimentos de renovação espiritual existentes. São os mais fracos que se tornam as vítimas das condições de vida desumanizadoras nas grandes cidades. Em Santo André não é diferente.  

O papa Paulo VI diante da realidade urbana no final do século passado escreveu o que serve plenamente para hoje: “Precisamos construir a cidade, lugar de existência dos homens, e das suas comunidades ampliadas, criar novos modos de vizinhança e de relações, descortinar a aplicação da justiça social, assumir, enfim, o encargo deste futuro coletivo que se preanuncia difícil, é uma tarefa em que os cristãos devem participar”( in O.A n.12). 

Nossa situação na cidade, além de moradia, educação, saúde e emprego, está se agravando mais na área da segurança. São poucas as pessoas que se sentem seguras na cidade. Em especial nas periferias. Nem mesmo  se pode sair à noite, há uma espécie de toque de recolher sem ser declarado. E o poder público, muitas vezes não consegue estar presente. Construir prisões cada vez mais e maiores, vai resolver? Esta é a proposta de nosso sistema social em crise. O extremismo político e ideológico desencadeou o discurso do ódio alimentado pela desinformação. E não estamos sabendo como lidar com isso. 

No entanto, com base na experiência da humanidade, podemos deduzir que o primeiro passo para uma sociedade justa, acontece quando todas as pessoas dessa sociedade, compartilham igualmente das mesmas liberdades básicas. Sem a garantia das liberdades básicas para todos não é possível a construção de uma sociedade justa, nem instituições justas. E sem justiça não a paz. 

Assim, podemos concluir que o futuro da cidade, com cidadãos felizes, passa pela solidariedade. É preciso sonhar com  numa sociedade justa, que propicie uma distribuição de bens e de oportunidades, que minimize as desigualdades econômicas, dando condições de vida digna para todos. 

Que nossa cidade seja solidária, justa e pacífica, substituindo o sentimento de ódio e nervosismo pelo sentimento de solidariedade e cidadania. Sejamos cada vez mais uma cidade solidária.# 

 

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