Círculos menores concluem análise do Instrumentum Laboris

Os padres sinodais terminaram o estudo na terça-feira, dia 20

Na última semana da 14ª Assembleia Ordinária do Sínodo dos Bispos, os padres sinodais concluíram a análise da terceira parte do Instrumentum Laboris (Instrumento de Trabalho). O trecho do documento trata, entre outros temas, da situação das “famílias irregulares”, da admissão da comunhão aos divorciados que voltaram a se casar, do acompanhamento às pessoas homossexuais e da paternidade responsável.

Os círculos menores estavam divididos de acordo com as cinco línguas usadas na Assembleia Sinodal (italiano, inglês, francês, alemão e espanhol). As equipes realizaram a tarefa de recolher as reflexões mais destacadas e convergentes e, após a análise do Instrumento de Trabalho, ofereceram indicações para possíveis encaminhamentos práticos, a partir dos consensos formados entre os membros. Na tarde desta quinta-feira, dia 22, será apresentado o relatório elaborado pela Comissão de Redação, a partir de todas as contribuições recebidas em plenário e nos círculos menores.

O relatório ainda será objeto de reflexão no plenário, nas sessões desta sexta-feira. No sábado, haverá a votação dos pontos apresentados.

Indicações dos círculos

“Os círculos analisaram as necessidades especiais das famílias em situação irregular ou difícil, reconhecendo que as pessoas que coabitam se encontram em uma situação diferente dos divorciados que voltam a se casar civilmente”, explicou o grupo de língua inglesa C, cujo relator é o arcebispo de Brisbane (Austrália), dom Mark Benedict Coleridge. 

Para o círculo francês, que tem o arcebispo de Lille (França), dom Laurent Ulrich, como relator, as famílias divididas, mistas, monoparentais e sem matrimônio civil não podem ser descartadas. “Não queremos pensar que seu caminho não os leva a Deus, que ama e atrai para si todos os seres humanos. Acreditamos que eles vivem no Espírito de Deus que inspira muitos comportamentos de suas vidas; e isso não tira nada do nosso apoio e encorajamento para as famílias cristãs’, afirmou.

Divorciados

Sobre as pessoas que se divorciaram e voltaram a se casar civilmente, os grupos posicionaram-se de maneira consensual no sentido de que a Igreja necessita proporcionar um acompanhamento pastoral mais eficaz para esses casais, bem como para seus folhos que também tem direitos.

Em relação ao termo “caminho penitencial” para os “recasados”, presente no documento de trabalho, alguns círculos o encararam com “perplexidade”.

“Não se vê com clareza chamar ‘caminho penitencial’ o itinerário dos divorciados e recasados. Deveria, talvez falar de itinerários de reconciliação, pois há realidades irreversíveis que não podem ser submetidas a um caminho penitencial sem possibilidade de superação”, sustentou o grupo de língua espanhola B, sob a relatoria do arcebispo de Mérida (Venenzuela), dom Baltazar Enrique Porras Cardozo.

Acesso aos sacramentos

O círculo de língua espanhola que tem o bispo de David (Panamá), cardeal José Luis Lacunza Maestrojuan, ressalta o acordo em relação ao cuidado e acolhimento com as pessoas divorciadas e recasadas, mas questiona sobre o acesso aos sacramentos. “Certamente, temos que levantar um movimento generoso removendo do caminho muitos obstáculos para que os divorciados que voltaram a se casar possam participar mais plenamente na vida da Igreja”, propõe. O grupo afirma que o Sínodo deve dar mostras de que os participantes escutaram os “gritos” de tantas pessoas que sofrem e clamam pedindo para participar mais plenamente da vida da Igreja.

Para o círculo italiano B, cujo relator é o cardeal Mauro Piacenza, não é possível estabelecer requisitos inclusivos a todos os casos de casais divorciados. O grupo sustenta a questão do discernimento frente à complexidade das situações dos recasados. Para o grupo de língua inglesa A, a prática pastoral em relação à recepção do sacramento da Eucaristia pelos casais de segunda união não deve ficar “nas mãos” das conferências episcopais para não prejudicar “a unidade da Igreja Católica, a compreensão da ordem sacramental e o testemunho visível de vida dos fiéis”.

Homossexuais

“Um tema que se deve abordar como pastores que buscam compreender a realidade da vida e das pessoas e não as questões abstratas”, afirmou o grupo inglês C sobre a condição das pessoas homossexuais. A equipe pediu que o documento final do Sínodo incluísse uma “afirmação clara da Doutrina da Igreja de que as uniões de pessoas do mesmo sexo não são, de modo algum, equivalentes ao matrimônio”.

O círculo de língua inglesa A, considerando que “a Igreja como esposa de Cristo segue os passos do Senhor Jesus, cujo amor universal se oferece a todas as pessoas sem exceção”, afirmou que pais e irmãos de membros da família com tendências homossexuais “estão chamados a amar e aceitar a estes membros de sua família com um coração indiviso e com compreensão”.

Para alguns padres sinodais, portanto, o caso da homossexualidade poderia ser eliminado da discussão sobre a família, uma vez que, dada sua importância, “merecia um Sínodo específico”.

Paternidade Responsável

Considerada pelo Vaticano como “objeto de rico debate”, a paternidade responsável e a responsabilidade generativa foram abordadas a partir do contexto atual, no qual se avalia a importância para o respeito à dignidade da pessoa e da vida. Os círculos trataram dos matrimônios mistos e da disparidade de culto, buscando abordagens pastorais que defendem as mulheres e crianças em situações de fragilidade.

Misericórdia

O círculo italiano B concluiu seu relatório apontando para a manifestação do tema da misericórdia durante o Sínodo, o que tem, de acordo com os bispos, “interpelado nosso ministério pastoral, conscientes de que o mistério da Encarnação expressa com plenitude a vontade salvífica de Deus”. Para o grupo, esta determinação divina tem sido confiada também à missão e aos meios sacramentais que encontram “sua adequada hermenêutica no significado de ser um chamado à conversão, apoio, remédio e socorro para nossa salvação”.

Com informações do Vatican Information Service e da Rádio Vaticano
Com foto do L’Osservatore Romano

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