A Campanha da Fraternidade chegou, neste ano, à sua 60ª edição em âmbito nacional. Para marcar essas seis décadas de promoção da fraternidade e da solidariedade entre o povo brasileiro, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) reinstalou, na sexta-feira, 31 de março, a galeria de quadros com os cartazes de todas as edições da CF.
Para o bispo auxiliar da arquidiocese do Rio de Janeiro (RJ) e secretário-geral da CNBB, dom Joel Portella Amado, “é marcante o quanto de história que há em tantas edições da Campanha da Fraternidade, iniciativa que é expressão de comunhão, conversão e partilha”.
História
A Campanha da Fraternidade nasceu na década de 1960, por iniciativa três padres que trabalhavam na Cáritas Brasileira e planejaram uma campanha para arrecadar recursos a fim de financiar as atividades assistenciais da instituição. Monsenhor Hilário Pandolfo, diretor nacional; padre Edmundo Leising, diretor regional (SP, MG, PR e MT); e monsenhor Aldred Schneider, diretor da Catholic Relief Services (CRS), órgão de assistência social da Conferência Episcopal dos EUA, apresentaram a proposta ao responsável pelo Secretariado Nacional da Ação Social da CNBB, dom Eugênio de Araújo Sales. À época administrador apostólico de Natal, o bispo acolheu a proposta e sugeriu que a primeira CF fosse realizada na arquidiocese de Natal.
Antes disso, porém, uma iniciativa de monsenhor Expedito Sobral de Medeiros, também na arquidiocese de Natal, motivou um gesto de solidariedade por jovens da Juventude Agrária Católica, na Semana Santa de 1958, considerado a primeira semente do que mais tarde germinaria como Campanha da Fraternidade.
Em 1962, nasce a CF na arquidiocese de Natal, com a adesão de três dioceses e um apoio financeiro dos bispos norte-americanos. No ano seguinte, 16 dioceses do Nordeste brasileiro realizam a CF, gerando uma exitosa experiência pastoral que repercutiu em todo o Brasil.
Ainda em 1963, no dia 26 de dezembro, o secretário-geral da CNBB, dom Helder Camara, enviou carta circular a todos os bispos comunicando que a CF de 1964 seria em âmbito nacional e teria como tema “Lembre-se você também é Igreja”. A proposta recebeu a adesão de 70 das 184 dioceses instaladas no país até aquele momento. Em 1965, com o tema “Faça de sua paróquia uma comunidade de fé, culto e amor”, a CF foi realizada em 91 dioceses.
O processo iniciado em 1964 marcou a Igreja no Brasil, tornando-se expressão de comunhão, conversão e partilha. No site de Campanhas da CNBB, esses três sinais são aprofundados: “Comunhão na busca de construir uma verdadeira fraternidade; conversão na tentativa de deixar-se transformar pela vida fecundada pelo Evangelho; partilha como visibilização do Reino de Deus que recorda a ação da fé, o esforço do amor, a constância na esperança em Cristo Jesus (Cf. 1Ts 1,3)”.
A CF e o Concílio Vaticano II
No contexto do Concílio Vaticano II, a CNBB estruturou o projeto da Campanha da Fraternidade para levá-lo a todas as dioceses do país. Sob o espírito renovador conciliar, os bispos definiram o que seria a Campanha da Fraternidade para toda a Igreja no Brasil. A partir de 1965, a Cáritas Brasileira e a Campanha da Fraternidade passaram a estar vinculadas diretamente ao Secretariado Geral da CNBB.
Desde 1967, a CNBB passou a redigir um subsídio mais completo para a Campanha da Fraternidade e ocorrem também os encontros nacionais e regionais da CF. Desde 1970, as campanhas recebem apoio pontifício com uma mensagem do Papa por ocasião da iniciativa da Igreja no Brasil.
Fases da Campanha da Fraternidade
Três fases marcam a realização da Campanha da Fraternidade pela Igreja no Brasil:
Primeira fase
De 1964 a 1972, ela foi marcada pela renovação interna da Igreja à luz da Constituição Dogmática Lumen Gentium, sobre a Igreja.
Segunda fase
No período compreendido entre 1973 e 1984, a Campanha da Fraternidade assume as decisões das Conferencias Episcopais de Medellín e Puebla, voltando-se para a realidade social do povo, a denúncia do pecado social e a promoção da justiça. Neste mesmo período, a Campanha se organiza, adotando o método Ver-Julgar-Agir e o texto-base. Nesse período, acontece a construção da sua estrutura e da metodologia da Campanha.
Terceira fase
A reflexão sobre a realidade existencial de povo brasileiro marca a terceira fase da Campanha da Fraternidade. Assim, ela tem contribuído para chamar a atenção para situações que causam sofrimento e morte, nem sempre percebida por todos. Os temas abordados testemunham a sintonia da Igreja com a vida de povo, como a percepção dos grandes problemas que atingem, sobretudo, os pobres, os quais nem sempre têm a quem recorrer em seus sofrimentos devido às situações injustas.
A Igreja, nessa etapa da Campanha, prestou e continua a prestar esse serviço à sociedade brasileira, no intuito de suscitar iniciativas e esforços dos diversos seguimentos da sociedade, a transformar situações que geram injustiça e sofrimento em amor e vida para todos.
A Campanha da Fraternidade tem hoje os seguintes objetivos permanentes:
1 – Despertar o espírito comunitário e cristão no povo de Deus, comprometendo, em particular, os cristãos na busca do bem comum;
2 – Educar para a vida em fraternidade, a partir da justiça e do amor, exigência central do Evangelho;
3 – Renovar a consciência da responsabilidade de todos pela ação da Igreja na evangelização, na promoção humana, em vista de uma sociedade justa e solidária (todos devem evangelizar e todos devem sustentar a ação evangelizadora e libertadora da Igreja)”.
Gesto concreto
Realizado no Domingo de Ramos, o gesto concreto da Campanha da Fraternidade é a Coleta Nacional da Solidariedade, realizada como um dos gestos concretos de conversão quaresmal e que tem realizado um bem imenso no cuidado para com os pobres.