Pesquisas apontam, em sequência, a redução no analfabetismo no Brasil. Mesmo assim, ainda hoje, são mais de 11 milhões de pessoas jovens ou adultas que não sabem ler ou que não conseguem escrever um bilhete simples. Diante dessa realidade, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) realiza em sua sede, em Brasília (DF), um projeto de alfabetização voltado para um grupo de colaboradores.
A ideia partiu da assistente social da CNBB, Antônia Mendes, após saber que alguns colaboradores não sabiam ler e escrever. Ela conta que lembrou de seu avô e do sofrimento que ele tinha quando era para pegar um ônibus, por exemplo.
É o que sente o senhor José Pedro Lopes Ramos, que atua no Departamento de Manutenção da CNBB. “Tenho dificuldade de pegar um ônibus, eu sinto uma pessoa perdida”, lamenta o colaborador que estudou somente até o primeiro ano e, por conta das atividades que desempenhava com o pai na roça e depois com a família formada cedo, não deu sequência aos estudos.
Quem contribui para o desenvolvimento do projeto é a senhora Ada Lemos, que se voluntariou para oferecer um pouco da experiência de professora que adquiriu durante um período que atuou na área. “Eu sempre quis fazer algo por essas pessoas e hoje estou tendo essa oportunidade”, comenta sobre a possibilidade de ajudar as pessoas que convivem com o analfabetismo.
Para ela, a iniciativa “é um ato cristão, de amor, afinal de contas, você tem que atuar também pela melhoria pessoal de cada um e a CNBB, patrocinando algo do tipo, ajuda a cada um a evoluir e poder ter mais domínio da própria vida”.
De acordo com a Assistência Social da CNBB, o projeto assiste a seis colaboradores da CNBB e que estão no módulo 1 da iniciativa. Na sequência, pretende-se oferecer outros módulos que possam contemplar colaboradores com outros níveis educacionais, mas que precisam de apoio para melhor compreensão e uso da Língua Portuguesa, evitando e enfrentando o analfabetismo funcional.
Boaventura Domingos Costa, conhecido por Domingos, estudou até o primeiro ano do Ensino Médio, mas sentiu necessidade de melhorar sua relação com as palavras. “As letras, às vezes a gente pula por cima de algumas”, revela.
Sobre a iniciativa, considera um “momento muito gratificante, até porque são coisas que a gente não consegue em outros lugares”. Em uma redação, escreveu que agradece a Deus todos os dias pelo projeto: “é uma coisa que foi proporcionada para a gente que com certeza vai ajudar muito”.
Quem também pretende mudar a relação com a Língua Portuguesa, principalmente na forma de se expressar, é o encarregado do Departamento de Manutenção, Marcos Ferreira da Silva. O jovem de 25 anos tem Ensino Médio completo, mas quer que o vocabulário esteja mais adequado à realidade corporativa. “Aqui é um local que a gente trabalha conversando e tem certos modelos que, no meu modo de pronunciar certas palavras, as pessoas não entendem, então quero mudar a forma de falar e mudar a postura”, comenta Marcos, lembrando que quer superar também o uso gírias na comunicação.
Os participantes têm se mostrado entusiasmados e agradecidos pela iniciativa acolhida pela cúpula da CNBB no início deste quadriênio. No momento em que a CNBB escolhe como um dos pilares da ação evangelizadora a caridade, sustentada especialmente os mais frágeis, excluídos e invisíveis, se escolhe proporcionar uma mudança de vida para aqueles que em muitas organizações passam por processos de invisibilização. Dom Joel Portella Amado, bispo auxiliar do Rio de Janeiro (RJ) e secretário-geral da CNBB, recorda que, no campo da missão, a Igreja no Brasil é chamada a reconhecer que o “ad gentes” não é mais uma questão de geografia, “mas que muitas vezes você tem ao seu lado, ao alcance da sua mão”.