O Senhor ressuscitado toma toda a cena deste terceiro domingo da Páscoa: ele é anunciado pelos apóstolos (Atos 5,27-32.40-42); os anjos e os bem aventurados o cantam e homenageiam no céu (Apocalipse 5,11-14); ele aparece aos seus, junto ao lago, perdoa a Pedro (João 21,1-19). Continua a Páscoa. Para o povo cristão é convite para renovar-se e rejuvenescer-se no espírito, com a alegria de ter recobrado a adoção filial de Deus, renovados com os sacramentos de vida eterna.
Depois de uma noite em que não tinham conseguido pescar peixe algum no lago, diante da palavra de Jesus, Pedro e seus amigos lançam as redes e a pesca foi milagrosa. Pedro prostrou-se aos pés de Jesus e o reconheceu como Messias.
Quantas noites de trabalho infrutuoso recordamos em nossa vida pessoal e apostólica. Mas também, seguramente, “pescas milagrosas” que não podiam explicar-se por simples recursos e méritos humanos devem ser atribuídas à ajuda invisível de Cristo e de seu Espírito.
Fracassos e êxitos, alegrias e decepções. Podemos aprender a lição do evangelho: quando Jesus estava, os discípulos conseguiam uma pesca abundante; quando não estava, não conseguiam nada. Igualmente se passa conosco. É o ressuscitado que nos “aparece” misteriosamente em sua palavra, em sua Eucaristia, na presença continuada em nossa existência, que faz eficaz nosso trabalho. A advertência que deu aos discípulos na última Ceia vale também para nos: “Sem mim, nada podeis fazer”.
Isso nos convida a não contar somente com nossos métodos e estruturas, mas a trabalhar em nome do Senhor, com uma atitude de humildade, e ao mesmo tempo com a confiança de que nosso trabalho não será em vão. Ele dará eficácia ao que fazemos.
Os apóstolos nos dão admirável exemplo de coerência e valentia. Não se deixam amordaçar em seu testemunho nem pelas proibições, nem pelo ambiente hostil, nem pelo cárcere. A Palavra de Deus não conhece obstáculos. Eles não podem deixar de pregar a Boa Notícia. Antes, no momento da cruz, fugiram quase todos, acovardados. Agora, porém, tiveram a experiência da Páscoa, ouviram as palavras de perdão e amizade que hoje lemos no evangelho, viram-se inundados pela força do Espírito no dia de Pentecostes, estão cheios de ânimo e se atrevem a dizer diante das autoridades: “Deus ressuscitou a Jesus a quem vós matastes.”
Ao longo dos séculos, quantos cristãos os imitaram dando testemunho, inclusive com suas vidas, de sua fé no Ressuscitado. Jovens e adultos, religiosos e leigos, homens e mulheres, desde o Papa até a última criança que fez a primeira comunhão, seguem dando exemplo desta bravura que haveria de nos contagiar a todos. Fazem falta cristãos e comunidades assim, que se sintam e atuem como testemunhas de Cristo, movidos pelo Espírito: “testemunhas disso somos nós e o Espírito Santo”, como disse Pedro.
São testemunhas acreditáveis de Cristo as comunidades e as famílias que se amam e promovem a paz e a justiça, que se esforçam por ajudar a todos, em atitude de serviçais, no meio de um mundo egoísta. Ele já tinha dito: “nisto conhecerão que sois meus discípulos, se vos amais uns aos outros”.
Por maiores que sejam as dificuldades e por hostil ou indiferente que nos pareça o ambiente social, se estamos plenos da Páscoa do Senhor, convencidos da fé nele, e movidos por seu Espírito, se formos notados em todo momento nas palavras e nas ações, qual é a nossa motivação.
Nós nos manteremos firmes em nossa fé, independentes das modas ou das correntes ideológicas ou dos interesses humanos, inclusive ordens convertidas em leis humanas, ou pessoas que nos querem fazer calar. Talvez teremos que recordar também o que nos afirma Pedro: “devemos obedecer primeiro a Deus e não aos homens”.
A cena junto ao lago de Tiberíades, além do encontro com o Ressuscitado e a admirável refeição que ele lhes preparou, e da pesca inesperada quando atuaram em obediência à sua ordem, são outra lição para Pedro e para nós.
Deveríamos aprender sua lição de delicadeza e perdão. Jesus perdoou a Pedro e restituiu-lhe a confiança. Sejamos imitadores de Cristo.
