Com Jesus tenhamos corações generosos! 

Dom Anuar Battisti
Arcebispo Emérito de Maringá (PR) 

 

A liturgia deste décimo quarto domingo do Tempo Comum desvenda-nos a “estratégia” de Deus para se aproximar de nós e para continuar a sua obra criadora na história: Ele chama pessoas – pessoas frágeis, simples, “normais” – e envia-as a dar testemunho da sua proposta de salvação. Na fragilidade dos seus enviados revela-se a irresistível força de Deus. A liturgia deste domingo demonstra a incredulidade e a rebeldia do povo em relação à Deus, à sua Palavra e aos seus Profetas. Em contrapartida, convida-nos a ter corações mais generosos para reconhecer a presença constante do Senhor em nossa vida. 

A primeira leitura – Ez 2,2-5 – apresenta-nos um extrato do relato da vocação de Ezequiel. A vocação profética é aí apresentada como uma iniciativa de Javé, que chama um “filho de homem” (isto é, um homem “normal”, com os seus limites e fragilidades) e lhe “dá força” para ser, no meio do seu Povo sofredor, arauto da salvação de Deus. Mesmo Israel sendo insensível a Deus, caindo no pecado da infidelidade, o Senhor permanece fiel à Aliança, fazendo-se presente, próximo e misericordioso. Da mesma maneira que Ezequiel não será ouvido pelo povo, também Jesus experimenta a incredulidade de sua própria gente, em Nazaré. 

Na segunda leitura – 2Cor 12,7-10 –, Paulo assegura aos cristãos de Corinto (recorrendo ao seu exemplo pessoal) que Deus atua e manifesta o seu poder no mundo através de instrumentos débeis, finitos e limitados. Na ação do apóstolo – ser humano, vivendo na condição de finitude, de vulnerabilidade, de debilidade – manifesta-se ao mundo e aos homens a força e a Vida de Deus. São Paulo fala em “espinho na carne”, talvez se referindo às dificuldades enfrentadas na missão. É nessa situação de fragilidade que encontra força em Deus, cujo poder não se revela nos orgulhosos e arrogantes. O apóstolo não pede a vitória sobre as dificuldades, mas a graça de superá-las. A fraqueza humana não é impedimento para Deus realizar os seus desígnios. 

O Evangelho – Mc 6,1-6 – mostra-nos, através do exemplo das gentes de Nazaré, o que pode acontecer quando não entendemos a “estratégia” de Deus para intervir no mundo e na história:  arriscamo-nos a passar ao lado de Deus sem o ver, a ignorar os seus desafios, a tratar com indiferença a sua proposta de salvação. Os Nazarenos querem saber quem é Jesus, mas segundo categorias tipicamente humanas. Aos olhos da fé, em Jesus se revela o Filho de Deus e, portanto, o próprio Deus. 

Jesus se depara, em suas viagens pelos povoados e vilarejos com muitos obstáculos e às vezes não é aceito nem mesmo entre os seus. Somente a fé permite conhecer quem é verdadeiramente Jesus. Ainda que não seja reconhecido, ele continua a percorrer as aldeias e ensinar. A comunidade cristã precisa seguir o mesmo exemplo do Mestre e lançar-se, como pede o Papa Francisco, pelas periferias de nossas cidades.  

Peçamos ao Senhor a graça de corações simples e generosos, capazes de perceber sua presença salvadora em nossas vidas. 

Ser de Deus, falar de Deus, agir em favor do projeto de Deus não é coisa de gente distante. Jesus, Deus que se encarna em nosso meio, assume a condição de memores e sofredores. Suas mãos, que esculpiam a madeira, curavam os doentes. Contando histórias e aproximando-se das pessoas, Jesus não só mostrava que sua sabedoria era divina, mas também revelava ao mundo o rosto misericordioso, compassivo e bondoso de Deus. Trata-se de um convite a irmos além, com o olhar da fé e com a sabedoria, a qual é dom de Deus para quem, no suor de cada dia, investe a vida pelos outros, desdobrando-se em amor generoso. 

Jesus continua compadecendo-se de nossas necessidades, fraquezas e angústias e nos fortalece com a sua graça. Tenhamos um coração aberto e generoso para enfrentarmos, com fé e sabedoria, as dificuldades da caminhada. Com Jesus tenhamos corações generosos! 

 

 

 

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