Esta é a proposta da mensagem para a celebração do dia mundial da paz, primeiro de janeiro, de Bento XVI . O papa faz uma rápida análise da pobreza em nosso mundo e aponta caminhos para sua superação. Salienta que, além da pobreza material, “existem fenômenos de marginalização, pobreza relacional, moral e espiritual: trata-se de pessoas desorientadas interiormente, que, apesar do bem-estar econômico, vivem diversas formas de transtorno”.
Aborda aspectos morais relacionados com a situação de pobreza em que vivem milhões de pessoas. Constata que crescimento demográfico de si não é causa de pobreza. Assim: “A presunção de que o aumento populacional é causa da pobreza é desmentido historicamente: enquanto, em 1981, cerca de 40% da população mundial vivia abaixo da linha de pobreza absoluta, hoje tal percentagem aparece substancialmente reduzida à metade, tendo saído da pobreza populações caracterizadas precisamente por um incremento demográfico notável”. Bento XVI conclui: “Por outras palavras, a população confirma-se como uma riqueza e não como um fator de pobreza”. E faz uma veemente condenação do aborto preconizado por alguns como meio de combater a pobreza. O “extermínio de milhões de nascituros, em nome da luta à pobreza, constitui na realidade a eliminação dos mais pobres dentre os seres humanos”. E reprova “quem condiciona a ajuda econômica à atuação de políticas contrárias à vida”. E afirma: “sobretudo a AIDS, dramática causa de pobreza, é difícil combatê-la se não se enfrentarem as problemáticas morais associadas com a difusão do vírus”. E insiste na necessidade de “fomentar campanhas que eduquem, especialmente os jovens, para uma sexualidade plenamente respeitadora da dignidade da pessoa; iniciativas realizadas nesta linha já deram frutos significativos, fazendo diminuir a difusão da AIDS”.
Ao afirmar que “quase metade dos que vivem em pobreza absoluta é constituída por crianças” o papa, ao mesmo tempo em que insiste na necessidade de cuidados médicos e de higiene, observa que “quando a família se debilita, os danos recaem inevitavelmente sobre as crianças. Onde não é tutelada a dignidade da mulher e da mãe, a ressentir-se do fato são de novo principalmente os filhos”. Refere-se aos gastos com armamentos como desvio de recursos que deveriam ser empregados no combate à pobreza e faz um apelo: “os Estados são chamados a fazer uma séria reflexão sobre as razões mais profundas dos conflitos, frequentemente atiçados pela injustiça, e a tomar providências com uma corajosa autocrítica”. E acrescenta: “os recursos poupados poderão ser destinados para projetos de desenvolvimento das pessoas e dos povos mais pobres e necessitados”. Faz em seguida uma breve referência à crise de alimentos: “tal crise é caracterizada não tanto pela insuficiência de alimento, como principalmente pela dificuldade de acesso ao mesmo e por fenômenos especulativos”. Sua conseqüência é “a má nutrição que provoca graves danos psicofísicos nas populações, privando muitas pessoas das energias de que necessitam para sair, sem especiais ajudas, da sua situação de pobreza”. Entre suas causas está a concentração e desigualdade em matéria de tecnologia: “a evolução tecnológica, cujos benefícios se concentram na faixa superior da distribuição do rendimento, e por outro a dinâmica dos preços dos produtos industriais, que crescem muito mais rapidamente do que os preços dos produtos agrícolas e das matérias primas na posse dos países mais pobres. Isto faz com que a maior parte da população dos países mais pobres sofra uma dupla marginalização, ou seja, em termos de rendimentos mais baixos e de preços mais altos”.
O papa passa em seguida a algumas propostas para o combate à pobreza como expressão de uma solidariedade global. Propõe uma pequena lista de exigências éticas a serem implementadas como meio eficaz de combate a pobreza: globalização justa, comércio internacional justo, mercado financeiro justo, cooperação nos planos econômico e jurídico e, participação da sociedade civil. Para cada um desses itens Bento XVI tece considerações muito pertinentes, sobre o que voltaremos no próximo artigo. Encerra o Santo Padre sua análise tecendo uma breve reflexão sobre a ambivalência da globalização: “a globalização se apresenta com uma acentuada característica de ambivalência”. É preciso “ter em conta primariamente as exigências dos pobres da terra”. Muitas “medidas detêm-se frequentemente nas causas superficiais e instrumentais da pobreza, sem chegar às que se abrigam no coração humano, como a avidez e a estreiteza de horizontes”. “A luta contra a pobreza precisa de homens e mulheres que vivam profundamente a fraternidade e sejam capazes de acompanhar pessoas, famílias e comunidades por percursos de autêntico progresso humano.”