Transcrevo aqui alguns pensamentos do Papa Bento XVI, contidos na sua mensagem para o dia primeiro de janeiro, dia Mundial da Paz. Ele começa dizendo: “Desejo no início do novo ano, fazer chegar os meus votos de paz a todos e, com esta mensagem, convidá-los a refletir sobre o tema: Combater a pobreza, construir a paz. “De fato, a pobreza encontra-se freqüentemente entre os fatores que favorecem ou agravam os conflitos, mesmo os conflitos armados. A disparidade entre ricos e pobres tornou-se mais evidente, mesmo nas nações economicamente mais desenvolvidas. Trata-se de um problema que se impõe à consciência da humanidade, visto que as condições em que se encontra um grande número de pessoas são tais, que ofendem a sua dignidade natural e, conseqüentemente, comprometem o autêntico e harmônico progresso da comunidade mundial”.
O Papa continua dizendo: Neste contexto, combater a pobreza implica uma análise atenta ao fenômeno complexo que é a globalização. A globalização deveria revestir também de um significado espiritual e moral, solicitando a olhar os pobres com a perspectiva de que todos somos participantes de um único projeto divino: chamados a construir uma única família, na qual todos, regulem o seu comportamento segundo os princípios da fraternidade e responsabilidade.
Em tal perspectiva, é preciso ter uma visão ampla e articulada da pobreza. Se esta fosse apenas material, para iluminar as suas principais características, seriam suficientes as ciências sociais. Sabemos, porém, que existem pobrezas imateriais, isto é, que não são conseqüência direta e automática de carências materiais. Por exemplo, nas sociedades ricas e avançadas, existem fenômenos de marginalização, pobreza relacional, moral e espiritual.
Quando o homem não é visto na integridade da sua vocação e não se respeitam as exigências duma verdadeira “ecologia humana”, desencadeiam-se também as dinâmicas perversas da pobreza… O extermínio de milhões de nascituros, em nome da luta à pobreza, constitui na realidade a eliminação dos mais pobres dentre os seres humanos. Outro âmbito de preocupação são as pandemias, como, por exemplo, a malária, a tuberculose e a AIDS…. É difícil combatê-las, se não se enfrentarem as problemáticas morais associadas com a difusão do vírus. É preciso, antes de tudo, fomentar campanhas que eduquem, especialmente os jovens, para uma sexualidade plenamente respeitadora da dignidade da pessoa.
Outro âmbito é a pobreza das crianças. Quando a pobreza atinge uma família, as crianças são as suas vítimas mais vulneráveis: atualmente, quase metade dos que vivem em pobreza absoluta é constituída por crianças. Também, do ponto de vista moral, merece particular atenção, a relação existente entre desarmamento e progresso. Por isso, os Estados são chamados a fazer uma séria reflexão sobre as razões mais profundas dos conflitos. O âmbito da referida luta contra a pobreza material diz respeito à crise alimentar atual, que põe em perigo a satisfação das necessidades de base. Tal crise é caracterizada não tanto pela insuficiência de alimento, como, sobretudo, pela dificuldade de acesso ao mesmo e por fenômenos especulativos, aumentando o fosso entre ricos e pobres.
“Dai-lhes vós mesmos de comer” (Lc 9, 13) Fiel a este convite do seu Senhor, a Comunidade Cristã não deixará, pois, de assegurar o seu apoio à família humana inteira nos seus impulsos de solidariedade criativa, mas, sobretudo, a alterar “os estilos de vida, os modelos de produção e de consumo, as estruturas consolidadas de poder que hoje regem as sociedades”. A cada discípulo de Cristo, bem como a toda a pessoa de boa vontade, dirijo, no início de um novo ano, um caloroso convite a alargar o coração às necessidades dos pobres e a fazer tudo o que lhes for concretamente possível para ir sem seu socorro. De fato, aparece como indiscutivelmente verdadeiro o axioma “combater a pobreza é construir a paz”.
FELIZ 2009, combatendo a pobreza e construindo a paz.