Há quase um mês, a pandemia de coronavírus que o Brasil e o mundo está enfrentando têm impactado a vida da população em diversos setores, inclusive na educação. Nesta terça, 1 de abril, a Presidência da República aprovou, em edição extra do Diário Oficial da União, uma Medida Provisória, que suspende a obrigatoriedade das escolas e universidades públicas e privadas de cumprirem a quantidade mínima de 200 dias letivos, mas que mantenha a obrigatoriedade da carga horária mínima anual de 800 horas na Educação Básica.
De acordo com a Comissão Episcopal para Cultura e Educação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), escolas, universidades e creches estão com suas atividades suspensas atingindo mais de 50 milhões de estudantes e educadores no país. A comissão destaca também que a suspensão das aulas é uma medida importante para colaborar no isolamento social, pois a escola é um espaço onde o contato é inevitável.
Padre Júlio César. Foto: arquivo pessoal
“Tal medida tem encontrado grande apoio junto aos educadores, pais e instituições de ensino”, explica o assessor do setor educação da comissão padre Júlio César Evangelista Rezende.
Segundo padre Júlio César, as autoridades de saúde confirmam, por meio de múltiplos estudos, a eficácia da suspensão das atividades escolares como ação indispensável para diminuir a velocidade da transmissão do vírus.
“Por terem imunidade maior, as crianças podem estar com o vírus, mas assintomáticas, e, com isso, contaminarem em maior número os colegas na escola e os familiares em casa, inclusive as pessoas mais idosas”, disse o padre.
Diante dessa realidade, a comissão ressalta que o ensino à distância, utilizando plataformas digitais na internet, tem se apresentado como a alternativa neste atual contexto. O Conselho Nacional de Educação e os conselhos estaduais têm emitido notas nas quais regulamentam o ensino a distância nessa situação emergencial e adotar providências que minimizem as perdas dos alunos com a suspensão de atividades.
“As instituições de ensino são orientadas a aproveitarem em ampla escala as ferramentas de tecnologia educacional, como por exemplo as plataformas e ambientes virtuais de ensino, para garantir os processos pedagógicos de aprendizagem”, diz padre Júlio.
Segundo a comissão, os sistemas de ensino já estão produzindo vídeoaulas, transmissões ao vivo, exercícios online, entre outros mecanismos. Todo esse esforço se faz para manter os estudantes em um ritmo de estudo, mesmo estando distantes do espaço físico da escola. Alguns sistemas de ensino, ligados à educação católica, liberaram parte do seu material online para acesso gratuito, como os sistemas SM e FTD.
Para o coordenador da FTD Educação, Vitor Divino, “a escola vai além da sala de aula e a aprendizagem continua. Por isso, liberamos gratuitamente, conteúdos que vão enriquecer a jornada de todos em direção a uma Educação transformadora”.
Dom João Justino de Medeiros. Foto: Matheus Oliveira/CNBB
O arcebispo de Montes Claros e presidente da comissão para cultura e educação da CNBB, dom João Justino de Medeiros, diz que a situação dessa pandemia remete a necessidade de cada educador se reinventar.
“A educação é assim. Por ser histórica e política, ela não é um software que se adquire e se utiliza. Ela se dá na relação educador-educando e se repensa todos os dias. O novo coronavírus, também, nos dá a oportunidade de ponderar sobre o modo como se compreende a educação neste tempo. Não se perca essa oportunidade”, ressaltou dom João Justino.
Para a comissão, são enormes os desafios para implantar, ainda que de forma temporária, a educação a distância na educação básica no país. A realidade apresenta alunos e famílias que não conseguem utilizar plataformas online de ensino, professores que carecem de formação técnica para direcionar processos de aprendizagem em ambientes virtuais.
Ainda segundo a comissão, esses desafios são ampliados quando levamos em conta a rede pública, em que estudam mais de 80% dos brasileiros em idade escolar. Outro ponto central é o acesso a computadores. Segundo pesquisa do Comitê Gestor da Internet no Brasil, 58% dos domicílios no país não têm acesso a computadores e 33% não dispõem de internet.
“Dessa forma, levar à frente as soluções de educação a distância se tornam complicadas principalmente para os grupos sociais mais vulneráveis”, aponta padre Júlio que ressalta ainda que em meio a tantas dificuldades, surgem sinais de esperança como iniciativas voluntárias de pessoas que contam histórias para crianças, oferecem aulas pelas redes sociais, partilham textos, entre outros.
“Esse tempo de isolamento também oferece às famílias a oportunidade de resgatar seu papel educativo oferecendo às crianças e aos jovens tempo de estudo em conjunto, de partilha de histórias e cultivo da fraternidade. Em tempos de pandemia e com as restrições para evitar a proliferação do vírus, a educação também carece de muita atenção para que se consiga vencer o distanciamento físico e criar novos caminhos para o processo de ensino-aprendizagem”, ressaltou.
Com informações da Comissão Episcopal para Cultura e Educação da CNBB
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